Pesquisadores do Brasil
e Canadá desenvolveram uma nova técnica que usa a radiação ultravioleta para
descontaminar órgãos infectados com vírus e bactérias, para que eles possam ser
usados em transplantes. O método, recentemente publicado
na revista científica Nature, já elevou em 100% o número de transplantes no
Canadá.
Em entrevista exclusiva
ao UOL VivaBem, o médico gaúcho Marcelo Cypel, diretor cirúrgico do maior
programa de transplantes de órgãos da América do Norte, situado na University
Health Network, em Toronto (Canadá), explicou que os pulmões de pacientes
enfermos, portadores de hepatite C, por exemplo, eram descartados porque havia
uma grande chance de transmissão do vírus para o receptor.
No novo método, feixes
de luz ultravioleta são usados para "matar" o vírus da hepatite C, o
que permite transplantar os pulmões de doadores infectados. A técnica foi
desenvolvida em 2018, primeiramente para tratar pulmões. No entanto, já está
sendo adaptada para outros órgãos, como fígado e rins, eliminando vários tipos
de vírus e bactérias.
"Um doador de
órgãos que testa positivo para hepatite C hoje em dia pode ser um doador de
pulmão, o que não era possível no passado. Isso pode minimizar um dos grandes
problemas para o transplante, que é haver muito mais pessoas que precisam de
órgãos do que doadores disponíveis", comentou o médico brasileiro que vive
no Canadá há 15 anos.
Como
é o procedimento.
O pulmão
"doente", infectado com o vírus da hepatite C, é colocado em uma
máquina de perfusão antes de ser transplantado;
Dentro de um incubador,
o órgão recebe antibióticos, anti-inflamatórios e anticoagulantes;
Após algumas horas, o
pulmão que seria descartado está recuperado.
Antes do transplante
ainda é necessário aplicar a técnica de esterilização por irradiação
ultravioleta, ou seja, esta luz emitida consegue quebrar o genoma dos vírus,
desativando-os e tornando o pulmão "utilizável".
"Esta técnica é
revolucionária, pois ajuda a evitar a transmissão de doenças durante os
transplantes. O órgão não é agredido, não há substâncias que irão
prejudicá-lo", comentou Vanderlei Bagnato, diretor do Instituto de Física
de São Carlos (IFSC) e parceiro na criação do método por meio da Fapesp
(Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
Método
deve ser usado no Brasil em breve.
Por enquanto, a técnica
biofotônica está sendo usada apenas para transplante de pulmão em Toronto.
"Aqui no Brasil, tão logo estaremos realizando o mesmo procedimento em
rins e fígado", disse Bagnato.
Segundo a ABTO
(Associação Brasileira de Transplante de Órgãos), 32.716 pacientes aguardam um
transplante de rim, fígado, coração, pulmão pâncreas ou córnea no país. A lista
de espera para receber um rim é a maior de todas, com quase 22 mil pessoas na
fila.
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