Temos diretrizes bem
definidas sobre a quantidade de vitaminas que devemos consumir ou as horas de
sono que precisamos por noite para manter nosso corpo saudável. Em compensação,
não fazíamos a menor ideia de qual é a jornada de trabalho por semana ideal para
que a nossa mente também se mantenha em sua melhor forma. Pesquisadores
britânicos acabam de bater o martelo. E acredite: é bem menos tempo do que
estamos acostumados.
Um estudo envolvendo
dezenas de milhares de pessoas cravou: um dia de trabalho por semana já
é o suficiente para manter a saúde mental. Isso porque o desemprego ou a
ociosidade afetam negativamente qualquer pessoa, que fica sem dinheiro e senso
de propósito. Por outro lado, ter um emprego remunerado traz uma série de
benefícios que transcendem a esfera econômica e se refletem psicologicamente:
os principais ganhos são na auto-estima e inclusão social.
A pesquisa, publicada
nesta quarta (19) no periódico Social Science and Medicine,descobriu
que, quando pessoas desempregadas começam em um trabalho assalariado, o risco
de terem problemas relacionados à saúde mental cai 30%. Isso para jornadas
semanais de até oito horas. Porém, o efeito não é cumulativo. Os pesquisadores
não encontraram nenhuma evidência sugerindo que as 40 horas semanais de
trabalho às quais estamos habituados amplifiquem o bem-estar psicológico.
Na realidade, seus
resultados sugerem que trabalhar qualquer tempo a mais do que as tais oito
horas por semana não traz nenhum benefício extra. Pelo contrário: empregos mais
estressantes e com condições mais precárias podem anular toda a parte boa para
a saúde mental. Então eles concluíram que ninguém precisa trabalhar mais do que
oito horas por semana para se sentir bem. Ao todo, mais de 71 mil voluntários
entre 16 e 64 anos tiveram seus dados analisados no período de 2009 a
2018. As informações foram extraídas do banco de dados UK Household
Longitudinal Study.
Essas conclusões são
particularmente importantes no atual momento em que se discute cada vez mais o
futuro do trabalho. Desenvolvimentos na inteligência artificial, big data e
robótica trazem a promessa de intensa automatização da força de trabalho.
Especialistas acreditam que nas próximas décadas boa parte do trabalho
remunerado realizado por humanos passará a ser feito por máquinas. Governos
começam a pensar em políticas públicas para essa nova realidade.
Temas como a renda
básica universal despontam como possível solução para manter a economia rodando
em um cenário onde os empregos se tornarem escassos. Os pesquisadores oferecem
outras sugestões que poderiam ser aplicadas. Basicamente, eles sugerem que
todos deveriam trabalhar menos, para que todos tenham a oportunidade de
trabalhar. Fins de semana de cinco dias, poucas horas de trabalho diário ou
dois meses de férias para cada mês de labuta poderiam dar conta do recado.
De quebra, eles dizem,
essas mudanças ainda melhorariam a qualidade de vida das pessoas, a
produtividade das empresas e cortariam as emissões de CO2 relacionadas aos
deslocamentos para o trabalho. Se eles tiverem razão e os governantes de fato
investirem em políticas do gênero, seria um ganha-ganha generalizado. Repensar
profundamente toda a mecânica do trabalho pode ser, no final das contas, a
única maneira de evitar a implosão do capitalismo como o conhecemos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário