FONTE:
Izabel Oliveira, Colaboração para o UOL, (estilo.uol.com.br).
"Quando iniciei meu tratamento com a
psicóloga, uma frase me marcou: buscamos na terceira, quarta ou quinta fatia o
prazer que tivemos ao comer o primeiro pedaço, mas não vamos encontrar”, conta
a especialista em marketing Marly Palmieri dos Prazeres, 59. Há quase um ano,
ela conta com a ajuda de uma terapeuta para manter o peso sob controle. Ela,
que tem 1,70 m de altura, chegou a pesar 115 kg.
“Sou
ansiosa, tenho crises de depressão, e minha relação com a comida sempre foi
conturbada. Ficou claro para mim que durante muito tempo usei o ato de comer
como um fator de apoio. Então decidi fazer uma cirurgia bariátrica e perder
peso com calma. As sessões de terapia me ajudaram a pensar melhor nas escolhas
que faço, passei a me perguntar por que decidi comer algo”, conta.
Para o
psiquiatra Leandro Savoy, especialista em transtornos alimentares e dependência
química, a emoção e a alimentação estão intimamente ligadas.
“Se por
um lado, certos alimentos podem levantar o humor e provocar uma sensação de
bem-estar, o sofrimento psíquico pode acarretar uma alimentação inadequada ou
mesmo um transtorno alimentar. O estresse e a ansiedade podem fazer com que a
pessoa dedique menos atenção à qualidade da alimentação, optando por alimentos
com baixo valor nutricional”, afirma Savoy.
A fala do
especialista é atestada cientificamente. Segundo estudo da Universidade de San
Diego, nos Estados Unidos, publicado no “Journal of Health Psychology”, em
junho de 2015, o consumo de gordura trans --comumente exemplificado por doces
ou fast food— está ligado a um estado de baixa atenção emocional e dificuldade
em controlar o humor.
A
compulsão alimentar é frequentemente associada a transtornos de ansiedade, de
acordo com a psicóloga Valéria Palazzo Lemos, coordenadora do GATDA (Grupo de
Apoio e Tratamento dos Distúrbios Alimentares e da Ansiedade), em São Paulo.
“O doce
funciona como um acalentador, tem apelo emocional e essa relação é feita desde
a infância. Também existe o perfil de quem diminui o consumo de comidas em
geral em um período de dificuldade, porém, em ambos os casos, é frequente o quadro
de angústia e depressão”, fala Valéria.
O sucesso
de uma dieta depende muito do equilíbrio emocional do indivíduo, segundo a
médica Maria Edna de Melo, diretora do Departamento de Obesidade da SBEM
(Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia). As emoções não só
influenciam na decisão do que o indivíduo vai comer como também traz
consequências fisiológicas.
“Quando
estamos estressados, há um aumento de adrenalina e isso afeta o cortisol, que
age diretamente no aumento de gordura no corpo. Como esse hormônio forma tecido
adiposo, essa luta será perdida se não houver tratamento adequado”, explica
Maria Edna.
O
psiquiatra Alexandre Pinto de Azevedo, do Programa de Transtornos Alimentares
do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo, propõe uma autoanálise para que o indivíduo
perceba de que maneira seu estado emocional afeta a forma como ele se alimenta.
“Comece
prestando atenção nos horários em que come e tente identificar as emoções e os
sentimentos que tem nesses momentos. Além disso, é importante perceber quais
situações ou adversidades vivenciadas promovem mudança no comportamento
alimentar”, afirma Azevedo.
Uma forma
de colocar em prática o conselho do psiquiatra é anotar em uma espécie de
diário, durante um período entre cinco e sete dias, o que come, considerando o
que foi ingerido também nos intervalos das refeições. “É importante verificar
se o que se comeu ajudou a melhorar a ansiedade e também se houve uma alteração
qualitativa ou quantitativa, como aumento da ingestão de doces”, diz Valéria
Palazzo.
O recurso
foi um aliado de Marly Palmieri. “Esse exercício me ajudou a ficar frente a
frente com o problema. Como trabalho em casa, vou facilmente à cozinha, mas
agora uso o truque de beber um copo de água e consigo olhar para uma guloseima
e dizer ‘ dá para esperar’.”
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