FONTE:, (http://noticias.uol.com.br).
Qual foi o ganhador
do Oscar de Melhor Filme em 1972?*
Se você acertou de
primeira, sem apelar para o Google, parabéns. Mas poderia ser melhor não ter
lembrado: um estudo de cientistas canadenses sugere que o esquecimento pode ser
importante para a manutenção da memória.
O argumento é que
"deletar" informações irrelevantes ajuda o cérebro a se concentrar em
aspectos que possam ajudar a tomada de decisões no dia a dia.
"O verdadeiro
papel da memória é otimizar o processo decisório", diz Blake Richards,
cientista da Universidade de Toronto e principal autor do novo trabalho.
Segundo Richards, o
grosso das pesquisas em neurobiologia relacionadas à memória prioriza os
mecanismos celulares de armazenamento de informações pelo cérebro, um processo
conhecido como persistência. E pouca atenção é dada ao mecanismos responsáveis
pelo processo de esquecimento (transiência).
Também é comum que a
falta de habilidade para lembrar seja atribuída a uma falha no armazenamento e
acionamento de informações pelo cérebro.
"Encontramos
bastante evidência de que há mecanismos promovendo a perda de memória e que são
distintos dos envolvidos no armazenamento de informações", diz Paul
Frankland, outro cientista participando do estudo.
Frankland explica que
um outro experimento realizado por seu laboratório no hospital infantil
SickKids constatou que o crescimento de novos neurônios no hipocampo (estrutura
cerebral considerada a principal sede da memória) parece promover o
esquecimento. Em pessoas jovens, essa é area do cérebro que gera mais células.
Tal mecanismo pode
explicar por que adultos normalmente não têm memórias para eventos ocorridos
antes dos 4 anos de idade.
Em um texto publicado
na revista científica Neuron, os cientistas canadenses fazem também
referência a um experimento em ratos colocados em labirintos, que tiveram menos
dificuldades para encontrar saídas diferentes quando foram drogados para
esquecer a localização da saída anterior.
Richards explica que
há duas grandes razões para explicar por que o cérebro gasta energia para
deletar informações depois de também consumir reservas para armazená-las. A
primeira é a necessidade de eliminar informações ultrapassadas.
"Se você está
navegando pelo mundo e seu cérebro está constantemente carregando memórias
conflitantes, isso tornará mais difícil tomar uma decisão consciente".
A outra razão está
ligada a um conceito usado em projetos de inteligência artificial, a
regularização. Consiste em tentar fazer com que computadores aprendam a fazer
generalizações com base em grande quantidade de dados. Para fazer isso, é
necessário esquecer detalhes nos dados para priorizar a informação necessária
para decisões.
"A melhor coisa
para a memória não é guardar absolutamente tudo", diz Richards. "Se
você está tentando tomar uma decisão, isso será impossível se seu cérebro é
constantemente bombardeado com informações inúteis."
O cientista canadense
questiona ainda o que chama de "idealização" de pessoas com boa
memória.
"O objetivo da
memória não é ser capaz de lembrar quem ganhou o quê em 1972", ressalta.
*O Oscar para Melhor Filme em 1972 foi para "Operação
França".
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