FONTE: Natacha Cortêz, Do
UOL,
(http://estilo.uol.com.br).
Menstruação é um tema tabu. Divide opiniões,
mulheres e médicos. Há quem só enxergue nela cólica, sujeira e alterações de
humor, há quem veja conexão, autoconhecimento e um processo, acima de tudo,
natural. Mas, é preciso mesmo menstruar todo santo mês?
De acordo com a medicina, “precisar” não seria o
verbo mais adequado aqui. Suspender sua menstruação, seja por alguns meses ou
até cinco anos ininterruptos (dá para fazer isso com o DIU de Mirena, por
exemplo), é não só uma medida segura como defendida por alguns especialistas.
É o caso do ginecologista baiano Elsimar
Coutinho, autor de "Menstruação: A Sangria Inútil" (Ed. Gente),
livro de posicionamentos polêmicos sobre a menstruação e sua “real
necessidade”. Para Coutinho, que estuda o tema há cinco décadas e teve sua tese
em defesa do fim da menstruação reconhecida mundo afora, trata-se de “uma
sangria inútil e ainda uma invenção da sociedade civilizada”.
Sua bisavó menstruava 40 vezes na vida.
Você? 400.
O ginecologista explica: nossas avós e bisavós
menstruavam poucas vezes na vida, nem um décimo do que uma mulher de hoje. Ou
seja: enquanto elas sangravam 40 vezes em uma existência toda; você, no mesmo
período, deve menstruar cerca de 400.
É simples entender o porquê da diferença. No
século passado, a grande maioria da população feminina em fase reprodutiva
quando não estava grávida, estava amamentando. E quando não estivesse em
nenhuma das condições, estava pronta para gestar novamente. E a regra diz: se
está grávida, a mulher não menstrua; se está amamentando, também não. Como
naquela época as mulheres engatavam uma gravidez após a outra, não sobravam
mesmo muitos intervalos para menstruar. Sangrar todo mês então, era algo
inimaginável.
A não menstruação como medida de saúde
pública.
Olhando por esse lado, a menstruação mensal é,
sim, um fenômeno que surge com a mulher moderna, essa que não se restringe
apenas a parir, parir, parir e parir de novo. Mas Coutinho vai além e entende
que para ela, que está inserida no mercado de trabalho e não enxerga na
maternidade e no ambiente doméstico seu único destino, a ideia de menstruar
mensalmente é, além de inútil, maléfica. “Sangrar afasta as mulheres de uma
vida plena, sem dores e limitações, e traz, além de incômodos periódicos,
doenças.”
Daí vem outra defesa do ginecologista, “a não
menstruação como medida de saúde pública”. Segundo ele, endometriose, anemia,
TPM, cólicas e até câncer de mama podem estar ligados ao sangramento mensal.
Para servir quem deseja suspender a menstruação, Coutinho desenvolveu o primeiro contraceptivo injetável de longa duração.
Nós fêmeas somos seres cíclicos.
Na contramão do que prega o médico baiano, a
ginecologista e obstetra Ana Thais Vargas -- bem mais fã da menstruação que ele
-- acredita que o ciclo menstrual é parte da fisiologia da mulher e uma maneira
que o corpo tem de renovar seus ciclos, regulados por um mecanismo integrado de
órgãos reprodutores, glândulas e sistema neurológico.
Dessa forma, menstruar é muito mais que um termômetro
para você saber se está grávida. Não sangrar naturalmente também pode sinalizar
outras coisas. “E você só consegue perceber esses sinais se está em um ciclo
natural. Assim vai saber do seu próprio corpo, dos seus cheiros e secreções.”
O que pode acontecer ao interromper a
menstruação?
Os anticoncepcionais hormonais -- único método
até então para a interrupção -- tendem a baixar a libido. Mas você pode esperar
também, dependendo da progesterona que vai tomar, uma diminuição do inchaço no
corpo. Pode haver, ainda, uma melhora de pele e cabelo, especialmente em
relação à oleosidade. TPM, cólica e alteração de humor e outras sensibilidades
emocionais devem diminuir também. Não há riscos para fertilidade.
Se é um fenômeno tão natural, por que
faria mal?
Médicos não têm um consenso sobre isso. Há os que
defendem que menstruar mensalmente faz mal, como Elsimar Coutinho, e os que
dizem que, na verdade, menstruar pode fazer muito bem, como Ana Thais Vargas.
Ok, quero parar de menstruar. O que devo
fazer?
Os métodos disponíveis são todos
hormonais. A maioria das pílulas funciona com dois hormônios:
estrogênio e progesterona. O efeito anticoncepcional está no segundo. Existem
pílulas só desse hormônio e com elas é possível interromper a menstruação de
forma contínua. Há ainda o DIU Mirena, que também solta progesterona -- com ele
você pode ficar até cinco anos sem menstruar.
É importante dizer aqui que mesmo as mulheres com
problemas circulatórios, tendência a AVC e trombose podem tomar pílulas que
apenas trazem progesterona ou usar o DIU Mirena, uma vez que "o hormônio
responsável por esses fatores é o estrogênio", explica Vargas.
O sangue vai ficar preso?
A ideia de que menstruar todo mês limpa seu corpo
não faz sentido, muito menos a de que você pode ficar com o “sangue preso”.
Quando você escolhe não menstruar, seu corpo simplesmente fica em estado de
latência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário