O teste
analisaria ainda outras condições de saúde dos futuros pais, como a presença de
problemas crônicos.
O ministro da Saúde, Ricardo Barros, anunciou nesta segunda-feira, 14,
que o Sistema Único de Saúde (SUS) vai oferecer um exame
"pré-nupcial" aos casais que quiserem saber se há maior risco de
gerarem um bebê com alguma doença genética. O teste analisaria ainda outras
condições de saúde dos futuros pais, como a presença de problemas
crônicos.
"Uma das nossas diretrizes novas será o exame pré-nupcial, que vai
garantir o exame de compatibilidade genética para noivos, para que eles saibam
da possibilidade de terem filhos com doenças raras, que causam muita
dificuldade para a família no tratamento e muito custo para o governo",
disse ele, em entrevista após apresentação no Summit Saúde Brasil, evento
promovido nesta segunda pelo Grupo Estado.
Barros disse que não há previsão de quando o exame estará disponível.
Também não detalhou se ele será oferecido a todos os casais ou a um público
específico. "Nós estamos desenvolvendo esse programa e lançaremos
oportunamente. O exame permitirá um diagnóstico de outros fatores, como doenças
não transmissíveis, crônicas, muitas das que chamamos invisíveis, como hepatite
e HIV, para que a gente possa permitir que esse futuro casal planeje bem a sua
vida, com base em um diagnóstico preciso da situação de saúde que ele se
encontra."
Professora titular de genética da Universidade de São Paulo (USP) e
diretora do Centro de Genoma Humano e Células Tronco, Mayana Zatz comemorou a
possibilidade de expansão do uso de testes genéticos. O chamado teste genético
pré-concepcional de compatibilidade pode custar até R$ 5 mil em laboratórios
privados, feito por meio de uma coleta de sangue e com resultado em até 20
dias.
"Caso isso ocorra, os geneticistas vão bater palma, pois é algo que
estamos batalhando há muito tempo para ocorrer", disse. Ela considera o
procedimento como "extremamente importante" e, com o preço elevado,
pode ocasionar frustração à população que não tem condições de pagar.
Mayana explica que o exame é direcionado para identificação de doenças recessivas,
como fibrose cística e algumas doenças neuromusculares, que causam degeneração
da musculatura e a perda da capacidade de andar da criança afetada. "Há
pais que descobrem que são portadores dos genes apenas quando a criança nasce.
Com o teste, essa gravidez poderia ser evitada", disse. Ela exaltou a
possibilidade de economia que o método levaria ante gastos com diagnóstico e
tratamento futuros.
Indicações claras.
O diretor médico da Alta Diagnósticos, Gustavo Campana, destacou, porém,
que o exame não pode ser usado como "triagem populacional". "As
novas formas de diagnóstico têm de ter indicações individuais muito
claras", disse.
Um exemplo de grupo para o qual o exame é geralmente indicado são os
casais consanguíneos, como primos. "Neles, a carga genética é mais
semelhante do que entre desconhecidos, passando a aumentar o risco de vir a ter
um filho com determinada doença", disse.
Geneticista do Fleury, Wagner Baratella lembrou que "não existem
testes definitivos para afastar todos os eventuais problemas de uma
gestação". Destacou ainda a importância de que haja aconselhamento
genético e não aplicação indiscriminada do procedimento.
O obstetra Alberto Guimarães ponderou que o sistema público, enquanto
discute a adoção desses exames, tem de reforçar a estrutura atual das
maternidades, por exemplo, "com a garantia de equipes mínimas de
plantão". "Podia se fazer valer o que já tem, com a garantia de um
pré-natal multiprofissional e todo o suporte da maternidade",
destacou.
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