Na
busca por curas mais naturais, os medicamentos fitoterápicos são uma escolha comum: além de serem à base de
vegetais, eles não precisam de receita médica para serem comprados e estão ao
nosso alcance na prateleira da farmácia, sem burocracias. Que prático, que
fácil!
Pois
é bom tomar um pouco mais de cuidado antes de sair por aí consumindo esse tipo
de remédio, viu? O fato de ter fontes naturais não o torna menos agressivo, e
ele pode causar efeitos colaterais da mesma forma que qualquer medicamento
sintético.
Conversamos
com a médica nutróloga Marcella Garcez Duarte, membro da
Abfit (Associação Brasileira de Fitoterapia), e com Gabriela França,
nutricionista funcional fitoterápica da Clínica Patricia Davidson Haiat, para
esclarecer todas as dúvidas sobre a medicação fitoterápica. Vem aprender com a
gente!
Os medicamentos
fitoterápicos só têm vegetais em sua composição?
Sim.
Para serem considerados fitoterápicos e conseguirem o registro da Anvisa
(Agência Nacional de Vigilância Sanitária), estes medicamentos devem ser
compostos apenas por matérias-primas vegetais. Eles podem ser simples (de
uma planta) ou compostos (de duas ou mais plantas) e
são alopáticos, já que passam por processos industriais de produção. “Os
fitoterápicos são obtidos por processos tecnologicamente adequados e seguem as
mesmas regras e rigores de registro que os medicamentos sintéticos, ou seja,
aqueles cujos princípios ativos são criados em laboratório”, afirma Marcella.
De que parte da
planta saem os medicamentos fitoterápicos?
De
toda ela. Os ativos vegetais são extraídos das raízes, folhas, flores, cascas e sementes,
manipulados, padronizados e industrializados de acordo com seu registro da
Anvisa. Por isso é sempre importante verificar se o medicamento do balcão da
farmácia tem o selo da Anvisa: ele garante sua qualidade, segurança e eficácia.
Medicamento
fitoterápico é a mesma coisa que homeopatia?
Não.
Uma coisa não tem nada a ver com a outra. A homeopatia parte do princípio de que se trata uma doença
estimulando a reação do organismo a ela, por meio da mesma substância que causa
seus sintomas (bem diluída em água, glicerina ou álcool). Os medicamentos
fitoterápicos são alopáticos e têm princípios ativos de ataque às
doençasem si. Em termos de funcionamento, estão mais próximos dos
remédios sintéticos, que também são anti-doenças, do que da homeopatia.
Posso tomar um
medicamento fitoterápico sem receita médica, só lendo a bula?
Poder,
pode. Mas não é o recomendado. Primeiro porque automedicação NUNCA
é uma boa ideia – o médico sempre deve ser consultado para
indicar dosagem e duração do tratamento adequadas. Segundo porque, como explica
Gabriela, “eles têm muitas interações tanto com outras medicações quanto com
nutrientes, o que torna seu uso sem prescrição muito perigoso”. Em último caso,
ela recomenda que o farmacêutico seja consultado para algum tipo de orientação.
Então, mesmo sendo
vegetais, os fitoterápicos podem ter efeitos colaterais?
Sem
dúvida! “Assim como qualquer medicamento, os de origem vegetal podem apresentar
efeitos colaterais, contraindicações e, dependendo da composição, até efeitos
tóxicos”, alerta Marcella. Gabriela ressalta novamente a questão das interações
e exemplifica: “Um fitoterápico usado para melhorar o trânsito intestinal pode
diminuir a absorção de outros medicamentos ou de nutrientes como o potássio e
causar cãibras”.
Não
custa reforçar: qualquer que seja o medicamento, consulte um médico para
prescrevê-lo e use-o com responsabilidade.
Alguém deve evitar
consumir medicamentos fitoterápicos?
Em
geral, grávidas, lactantes e
pessoas com sensibilidade aos ativos ou que estejam
fazendo uso de outros medicamentos que possam reagir negativamente com eles.
Isso deverá ser determinado pelo médico que for prescrever a medicação.
E que médico pode prescrever
um medicamento fitoterápico?
Um
que tenha formação em fitoterapia. Esta não é uma especialidade dos cursos
superiores da área de saúde, então o profissional será primeiramente nutrólogo,
nutricionista, dentista, clínico geral ou farmacêutico, por exemplo, e complementarmente
fitoterapeuta. E somente deverá receitar medicamentos fitoterápicos de
acordo com sua área de atuação.
Os medicamentos
fitoterápicos demoram mais para agir do que os sintéticos?
Não
necessariamente. “A velocidade e a intensidade de ação dos fitoterápicos
dependem de fatores como a concentração de ativos,
a dosagem e o horário em
que são tomados”, diz Marcella. Ela conta que, por causa de um metabolismo
secundário resultante da ação combinada de princípios ativos (no caso dos
compostos), alguns desses medicamentos podem acabar tendo efeitos mais lentos e
suaves, mas está longe de ser a regra.
A
desconfiança de que eles não são tão rápidos assim vem, de acordo com a médica,
do “uso histórico e empírico de plantas medicinais para tratar doenças” – o que
não tem nenhuma semelhança com os processos industriais e padronizadores
pelos quais passam os medicamentos fitoterápicos de hoje em dia.
Faz diferença tomar
um medicamento fitoterápico em comprimido ou em chá?
Sim,
e muita. Gabriela explica: “Em comprimido ou em gotas, o medicamento é um
extrato, é mais concentrado e, portanto, tem efeito mais potente que o de um
chá. Obter o princípio ativo da planta na quantidade certa a partir de um chá
depende da temperatura da água, da quantidade do chá e, mais importante, da
procedência da erva”.
Posso tomar um
medicamento fitoterápico junto com um sintético?
Sim,
desde que um médico avalie a combinação dos dois. Mas a fitoterapia é
reconhecida pelo SUS (Sistema Único de Saúde) como parte da medicina
integrativa e complementar.
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