Pesquisa comparativa liderada por Thomas Piketty aponta que 27,8% da
riqueza nacional está em poucas mãos.
A Pesquisa Desigualdade Mundial 2018 aponta que quase 30% da renda do
Brasil está nas mãos de apenas 1% dos habitantes do país, a maior concentração
do tipo no mundo. O levantamento é coordenado pelo economista francês Thomas
Piketty, entre outros especialistas.
Os dados sobre o Brasil se restringem ao período de 2001 a 2015,
e são semelhantes em metodologia e achados aos estudos pioneiros
publicados pelos pesquisadores brasileiros Marcelo Medeiros, Pedro Ferreira de
Souza e Fábio Castro a partir de 2014. No caso de Souza, pesquisador do IPEA, o
trabalho construiu série histórica sobre a disparidade de renda no Brasil desde
1926. A World Wealth & Income Database (base de dados mundial de riqueza e
renda) aponta que o 1% mais rico do Brasil detinha 27,8% da renda do país em
2015, enquanto no estudo do brasileiro, por diferenças de metodologia, a cifra
é 23%.
Conforme divulgado no site El País, de acordo os dados
coletados pelo grupo de Piketty, os milionários brasileiros ficaram à frente
dos milionários do Oriente Médio, que aparecem com 26,3% da renda da região. Na
comparação entre países, o segundo colocado em concentração de renda no 1% mais
rico é a Turquia, com 21,5% em 2015 — no dado de 2016, que poucos países têm, a
concentração turca subiu para 23,4%, de acordo com o levantamento.
O
Brasil também se destaca no recorte dos 10% mais ricos, mas não de forma tão
intensa quanto se observa na comparação do 1% mais rico. Os dados mostram o
Oriente Médio com 61% da renda nas mãos de seus 10% mais ricos, seguido por
Brasil e Índia, ambos com 55%, e a África Subsaariana, com 54%.
A
região em que os 10% mais ricos detêm menor fatia da riqueza é a Europa, com
37%. O continente europeu é tido pelos pesquisadores como exemplo a ser seguido
no combate à desigualdade, já que a evolução das disparidades na região foi a
menor entre as medidas desde 1980. Eles propõem, de maneira geral, a
implementação de regimes de tributação progressivos e o aumento dos impostos
sobre herança, além de mais rigidez no controle de evasão fiscal.
O
grupo de economistas reconhece que existe "grandes limitações para nossa
capacidade de medir a evolução da desigualdade". Muitos países não
divulgam ou sequer produzem dados detalhados sobre renda ou desigualdade
econômica. A pesquisa se baseia, portanto, em múltiplas fontes, como contas
públicas, renda familiar, declaração de imposto de renda, heranças, informações
de pesquisas locais, dados fiscais e rankings de patrimônio.
O
brasileiro Pedro Ferreira de Souza concorda: "Na minha tese, do ano passado,
o Brasil também aparece em primeiro na concentração de renda no topo, mas não
gosto de falar em campeão mundial porque há muito ruído e incompatibilidade nos
dados. Prefiro dizer que está sem dúvida entre os piores", diz o
pesquisador, cujo trabalho se tornará livro no ano que vem por ter recebido o
Prêmio Anpocs de Tese em Ciências Sociais.
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