FONTE: Daniela Carasco, Do UOL, http://estilo.uol.com.br
Conhecida por retratar o lado angustiante e até
assustador da tecnologia, a série "Black Mirror", da Netflix, virou
sensação. Na quarta temporada, porém, uma polêmica se instaurou. O segundo
episódio, intitulado "Arkangel", provocou uma discussão científica: a
pílula do dia seguinte é um abortivo?
Vamos ao contexto. Na trama, a mãe instala um
sistema de monitoramento na filha, ainda criança. A ferramenta serve para que
ela acompanhe todos os passos da menina e, inclusive, interfira em alguns
deles. A situação se agrava quando, aos 15 anos, Sarah tem a primeira relação
sexual –descoberta pela mãe por meio do sistema. Desesperada, a mulher coloca,
escondido da garota, uma pílula do dia seguinte na bebida do café da manhã.
Sarah só descobre a verdade no hospital, quando a
enfermeira lhe avisa: “Querida, foi a contracepção de emergência que fez você
se sentir assim. A pílula para interromper sua gravidez. Você não está mais
grávida”.
Para desfazer confusões, o UOL consultou
especialistas no assunto para esclarecer essa e outras dúvidas, que ainda
rondam o uso da pílula do dia seguinte.
A seguir, as ginecologistas Albertina Duarte
Takiuti, coordenadora do Programa Estadual de Saúde do Adolescente de São
Paulo, e Zsuzsanna Di Bella, professora adjunta do Departamento de Ginecologia
da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), respondem a questões-chave.
1 - Pílula do dia
seguinte é um abortivo?
Não.
Sua função é, na verdade, prevenir a gestação. Dependendo do período fértil em
que é tomada, o medicamento pode agir de três maneiras distintas: inibir a
ovulação, dificultar o encontro do espermatozoide com o óvulo ou impedir que o
gameta fecundado se fixe no endométrio, a parede do útero, para que a gravidez
seja então confirmada.
2 - Do que é
feita a pílula do dia seguinte?
Ela contém uma concentração alta de
levonorgestrel, que nada mais é do que a versão sintética do hormônio
progesterona, encontrado também nas pílulas de uso contínuo. A dose de 1.500
mcg corresponde à meia cartela de comprimidos do anticoncepcional do dia a dia,
porém, sem a dosagem de estrogênio, responsável por preparar o corpo feminino
durante a gravidez.
3 - Pode falhar?
Enquanto a pílula de uso contínuo tem 99% de
chances de eficácia, a do dia seguinte oferece uma segurança máxima de 70%.
Isso significa que, a cada cem mulheres que tomam, duas podem engravidar.
4 - Quem pode
tomá-la?
Qualquer mulher na idade fértil, ou seja, que já
tenha menstruado. Suas contraindicações são semelhantes às da pílula comum:
orienta-se que o medicamento seja evitado por quem tem problema de coagulação,
pressão alta, problema renal ou diabetes.
5 - Quando ela
pode ser tomada?
Após uma relação sexual desprotegida. Para que
tenha o maior grau de eficácia, o ideal é ingeri-la nas primeiras 72 horas
depois do ato.
6 - Qual o tempo
limite para tomá-la?
Segundo as especialistas, estudos mostram que, em
até cinco dias após a relação sexual, a pílula do dia seguinte pode atuar, mas
as chances de falha são cada vez maiores com o passar do tempo. Agora, passado
esse período, não adianta mais tomá-la.
7 - Tomei uma
vez, quando posso tomar novamente?
Não existe uma determinação médica quanto ao
intervalo mínimo de uso. O cenário ideal é aquele em que a pílula do dia
seguinte é tomada apenas uma única vez na vida. As ginecologistas alertam que o
uso frequente pode fazer o organismo se acostumar com a dosagem, podendo
aumentar as chances de falha. É importante ressaltar ainda que a mulher que
toma diversas vezes se expõe gravemente ao sexo sem proteção.
8 - Provoca
reações?
Dores de cabeça, reação gástrica, náusea e
vômitos estão entre os possíveis efeitos colaterais, mas não é regra. Em casos
de vômito e diarreia, a orientação é que um novo comprimido seja tomado, já que
o anterior pode ter sido expulso do organismo. Há risco ainda de irregularidade
na menstruação. E, nesse caso, não existe padrão. Há quem sangre no dia
seguinte, uma semana depois, no próximo ciclo ou após 40 dias.
9 - Há riscos de
trombose?
Não. O que expõe a mulher ao problema é o consumo
contínuo do estrogênio, que não entra na composição da pílula do dia seguinte.
10 - Depois de
quanto tempo pode-se voltar a usar a pílula de uso contínuo?
Imediatamente após a confirmação do resultado
negativo do teste de gravidez. Não há necessidade de esperar um novo ciclo
menstrual. Na primeira semana de uso, porém, é aconselhado que se use também um
preservativo.
11 - Fiquei
grávida mesmo assim, o bebê corre riscos?
A pílula do dia seguinte não acarreta danos à
saúde do feto nem à sua formação. Sua única atuação é no momento
pré-gestacional.
12 - Ela
prejudica a fertilidade?
Não. Assim como a pílula de uso contínuo, ela só
interfere na ovulação enquanto é tomada. Após o uso, o ciclo é retomado
naturalmente, ainda que demore alguns dias, sem danos à mulher.
13 - Dá para
conseguir de graça?
Sim. Existe uma distribuição gratuita no SUS
(Sistema Único de Saúde), por determinação do Ministério da Saúde. O
medicamento também pode ser comprado em farmácias, sem necessidade de receita.
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