O jornal Aujourd'hui en
France da quinta-feira (7) se concentra em um problema enfrentado por pais e
professores: telefones celulares nas escolas.
"Como proibir o
celular na escola?" é a manchete de capa do diário.
"Boa sorte", ironiza o jornal sobre essa delicada questão, duvidando
que até mesmo os deputados parem de utilizar seus próprios celulares enquanto
debatem o projeto de lei.
O jornal dá a dimensão
do desafio: 93% dos alunos de 12 a 17 anos têm seu próprio celular na França.
No total, são 10 milhões de estudantes em mais de 57 mil estabelecimentos escolares.
Mas, então, "como colocar em prática essa que foi uma promessa de campanha do presidente francês,
Emmanuel Macron?", pergunta Aujourd'hui en France.
Os deputados dizem
contar com o bom senso dos pais e educadores para aplicar a proibição.
Aujourd'hui en France lembra, no entanto, que a medida não prevê nenhuma
espécie de punição caso não seja cumprida. "Será que pedir para os
estudantes apenas guardarem o aparelho em suas mochilas é suficiente?",
questiona o jornal, que destaca que mesmo alguns professores são contrários a
obrigar os jovens a desligarem os celulares, temendo a inacessibilidade deles
no caso de uma urgência familiar, por exemplo.
Proibir ou não, eis a
questão.
A medida divide
opiniões. Para Justine Atlan, diretora da associação E-enfance, que luta contra
o cyber bullying infantil, os celulares não devem ter espaço nas escolas.
Proibi-lo, segundo ela, não vai resolver todos os problemas, mas vai atenuar a
agitação que as redes sociais provocam nos jovens, além de impedir o acesso a
conteúdos pornográficos e dar mais legitimidade para que pais e educadores se
debrucem sobre a questão.
Já para advogada
Valérie Piau, especialista em direito da educação, a lei não vai melhorar a
situação atual. Segundo ela, impor essa proibição é um desrespeito à liberdade.
Para ela, seria mais eficaz, por exemplo, que as escolas estabelecessem
horários e um local para que os alunos possam utilizar os aparelhos.
Em editorial,
Aujourd'hui en France julga que só o fato de se debater a questão mostra o
quanto as escolas e os professores perderam a autoridade. Segundo o diário, o
problema seria resolvido, por exemplo, se no início das aulas, todos os
celulares fossem desligados e permanecessem nas mochilas, o que não é o caso.
O colégio Buffon, no 3°
distrito de Paris, foi vanguardista ao banir os celulares dentro dos limites do
estabelecimento. Mas nem todos seguem a regra. "A estratégia é ser
discreto", recomenda uma aluna da 8a. série, que diz que finge procurar
algo dentro da mochila ou se esconde no banheiro para checar o aparelho sem que
os professores se deem conta.
A proibição dos
celulares no colégio Buffon trouxe resultados, garante a direção do local,
salientando que as brincadeiras no pátio e as interações pessoais aumentaram.
No entanto, brinca o jornal, a medida não valeu quando o primeiro-ministro
francês, Edouard Philippe, visitou a escola em janeiro. Na ocasião, os alunos
não pediram nem mesmo permissão para tirarem os celulares das mochilas e
imortalizarem a ilustre visita do premiê com milhares de selfies, conclui
Aujourd'hui en France.
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