FONTE: *** Regina Navarro Lins, https://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br
“Estou casada há 14 anos e me
sinto profundamente sozinha. Parei de trabalhar depois que meus filhos gêmeos
nasceram. Tentei voltar quando eles foram para a escola, mas não consegui
emprego. Aos poucos fui me afastando dos amigos e das atividades que eu gostava.
Há alguns anos sou dona de casa e mãe. Meu marido chega tarde do trabalho,
sempre estressado, e quase não conversamos. Nos finais de semana ele se tranca
no escritório para pôr o trabalho em dia ou dorme para se recuperar do cansaço
da semana. E dizem que todos devem se casar para não se sentirem sozinhos… Me
sinto uma covarde, mas não vejo solução; dependo dele em tudo. ”
***
Na busca de segurança afetiva, qualquer preço é pago para evitar tensões
decorrentes de uma vida autônoma. Por medo da solidão as pessoas suportam o
insuportável tentando manter a estabilidade do vínculo, e não raro se tornam
dois estranhos ocupando o mesmo espaço físico. Como mecanismo de defesa, surge
a tendência a não se pensar na própria vida. Tenta-se acreditar que casamento é
assim mesmo.
A filósofa e escritora francesa Elisabeth Badinter é bastante dura na
avaliação que faz da maioria dos casais, quando diz: “Na verdade, o casal,
longe de ser um remédio contra a solidão, frequentemente ressalta os seus
aspectos mais detestáveis. Ele estabelece uma tela entre si e os outros,
enfraquece os laços com a coletividade. Ao nos fazer abdicar de nossa liberdade
e independência, torna-nos ainda mais frágeis, em caso de ruptura ou de
desaparecimento do outro. Aquela ou aquele que fica é então devolvido à solidão
total, ao isolamento e à rejeição, complemento sem objeto direto, resíduo
inutilizável de um par. Solidão total, a partir do momento em que o indivíduo
não existe em si mesmo, e que também não existe a coletividade na qual ele
continuaria a ter seu lugar. ‘Nós’ desaparecido, resta a metade de alguma
coisa, enferma, débil, não viável, como um recém-nascido que não tivesse
ninguém para alimentá-lo e vesti-lo, entregue às garras do medo.”
Contudo, acredito que um casamento pode ser ótimo. Mas para isso as
pessoas precisam reformular as expectativas que alimentam a respeito da vida a
dois, como, por exemplo, a ideia de que os dois vão se transformar num só; a
crença de que um terá todas as suas necessidades atendidas pelo outro; não
poder ter nenhum interesse em que o amado não faça parte; o controle de
qualquer aspecto da vida do outro. É fundamental que haja respeito total ao
outro, ao seu jeito de pensar e de ser e às suas escolhas; liberdade de ir e
vir, ter amigos em separado e programas independentes. Caso contrário, a
maioria das relações, com o tempo, se tornam sufocantes.
Sobre
a autora.
Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros
sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na
Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em
consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É
consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e
apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews.
Nasceu e vive no Rio de Janeiro.
Sobre
o blog.
A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de
viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades,
pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com
mais satisfação.
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