Considerada o mal do
século pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a depressão já desponta
como a terceira maior doença entre adolescentes e é a segunda principal causa
de morte de jovens entre 15 e 25 anos no mundo.
A fim de prevenir o
desenvolvimento desse transtorno mental nessa fase da vida é preciso dotar as
crianças de habilidades socioemocionais para que sejam capazes, desde cedo, de
lidar melhor com emoções e situações de estresse que possam desencadear a
doença no futuro.
A avaliação foi feita
por especialistas participantes do programa Ciência Aberta sobre depressão em
jovens e adolescentes. Realizado mensalmente, o programa é produzido pela
FAPESP em parceria com o jornal Folha de S.Paulo.
“Se desde crianças as pessoas forem capazes de
processar, entender e compreender melhor emoções, como tristeza, raiva e medo,
elas terão muito mais clareza e condições para lidar com elas e, provavelmente,
serão menos afetadas pelo estresse e outros sentimentos”,
disse Adriana Fóz, pesquisadora do Laboratório Interdisciplinar de
Neurociências Clínicas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em
participação por vídeo.
De acordo com Guilherme
Vanoni Polanczyk, professor do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), a maioria dos casos de
depressão e de outros transtornos mentais começa na puberdade, provavelmente por
influência dos hormônios sexuais. Segundo ele, nessa fase da vida, o número de
casos de depressão aumenta substancialmente, principalmente entre meninas.
“Essa diferença de
casos de depressão entre os sexos se mantém ao longo da vida. Já em crianças, a
prevalência de depressão está em torno de 1%”, comparou Polanczyk, que coordena
o Núcleo de Pesquisa em Neurodesenvolvimento e Saúde Mental da USP e é chefe da
Unidade de Internação do Serviço de Psiquiatria da Infância e Adolescência do
Instituto de Psiquiatria da mesma universidade.
Em adolescentes, os
sintomas de depressão mais comuns são alteração de humor, caracterizada por
predomínio de tristeza, melancolia e irritabilidade, juntamente com a perda de
entusiasmo por atividades que despertavam interesse e prazer, além de mudanças
nos padrões de sono e de apetite, maior sensação de cansaço e a persistência de
pensamentos negativos sobre si e em relação ao futuro.
A existência desses
sintomas por um período maior do que duas semanas e referências à morte e ao
suicídio são sinais de alerta do desenvolvimento de uma quadro de depressão,
que pode ocorrer uma única vez ou se repetir ao longo do tempo e resultar em um
transtorno depressivo, explicaram os especialistas.
“Esse conjunto de
sintomas não necessariamente implica um quadro de depressão, mas é um sinal de
alerta”, ponderou Polanczyk.
O desconhecimento sobre
saúde mental, a fantasia de que adolescência e juventude são períodos
excelentes da vida e, portanto, não é possível estar deprimido nelas, além da
opinião deturpada de que a depressão é sinônimo de fraqueza, dificultam o
diagnóstico e, consequentemente, o tratamento da doença, apontaram os
participantes.
“A depressão é uma
vulnerabilidade que algumas pessoas apresentam em razão de um desequilíbrio
neuroquímico e que precisa ser identificada e tratada. Quanto menor o tempo em
que isso for feito, melhor para o paciente, que terá menos complicações ao
longo da vida”, disse Sandra Scivoletto, professora de Psiquiatria da Infância
e Adolescência no Departamento de Psiquiatria da FMUSP.
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