terça-feira, 25 de dezembro de 2018

COMO LIDAR COM A PREOCUPAÇÃO PRECOCE DAS MENINAS EM RELAÇÃO AO PESO...


FONTE: Heloísa Noronha, Colaboração com o UOL,https://universa.uol.com.br




O sinal amarelo acendeu para a analista de mídias digitais Rosana H.*, 37 anos, quando a filha de 11 anos se preparava para a festinha de aniversário de uma amiga. A menina retirava vestidos e mais vestidos do armário e não se sentia satisfeita com nenhum. A mãe questionou: "Por que você não vai com o florido? Você gosta tanto dele". A resposta: "Ele marca muito a minha barriga."

Rosana, então, ponderou que a barriga da menina não era saliente e que, mesmo se fosse, isso não a impediria de ficar bonita e confortável. No fim das contas, a garota optou pelo modelo mais escuro e largo que tinha no guarda-roupa. O episódio fez com que Rosana, de maneira sutil, passasse a perguntar sobre as conversas que a filha tinha com as amiguinhas e a reparar nas recusas constantes de coisas que antes ela adorava, como sorvete.

Para a advogada Joana C*, 41 anos, o baque aconteceu em plena porta da escola, quando a filha de 9 anos correu para os seus braços chorando porque era "gorda", precisava fazer dieta e não pretendia jantar nunca mais, porque "comer engordava". "Em princípio, achei que algum coleguinha havia feito comentários pejorativos, porque ela é mesmo mais cheinha. Mas ouvi que ela tinha comparado o próprio corpo com o das amigas e notou que precisava ser como as outras. Isso doeu muito", revela Joana.

Influenciadoras digitais e pressão social.
Situações como as vividas por essas duas mães são recorrentes e têm acontecido com meninas cada vez mais novas. Embora haja todo um movimento de autoaceitação entre mulheres adultas, o fato é que os padrões de beleza ainda pregam que a silhueta esguia é a ideal. E, hoje em dia, por causa do acesso à Internet e da valorização do estilo de vida das influenciadoras digitais, as crianças são expostas mais cedo à pressão social da aparência e da sua relação com o sucesso. E, com isso, assuntos como dietas e calorias vêm ocupando o espaço em conversas de garotas que não deveriam se preocupar com outras coisas a não ser brincar, estudar e viver bons momentos com a turma e a família.

Como ajudar.
Tanto Rosana quanto Joana buscaram a ajuda de especialistas e conseguiram que as dificuldades iniciais das respectivas filhas não tomassem uma proporção maior e se transformassem em transtornos alimentares, como bulimia e anorexia. Confira, a seguir, alguns cuidados que mães e pais devem tomar se os filhos --sim, porque há meninos com esse tipo de aflição, também -- começarem a se preocupar excessivamente com a aparência e o peso:

  • O primeiro passo, sem dúvida alguma, é buscar a orientação de um pediatra. Esse profissional pode diagnosticar se há ou não um sobrepeso e recomendar uma alimentação adequada. Em alguns casos o tratamento é multidisciplinar, com o acompanhamento de nutricionista e psicólogo.
  • Qualquer dieta sem acompanhamento tem riscos. Em se tratando de crianças, os prejuízos podem ser ainda maiores, porque elas não têm maturidade para decidir o que é ou não saudável.
  • Incentive a criança a praticar esportes ou a fazer atividades que combatam o sedentarismo. As horas passadas na escola e o tempo gasto diante de telas (TV, celular, tablet) fazem com que o corpo tenha menor gasto energético. Não espere a adolescência bater à porta para mudar os maus hábitos, pois nessa fase eles são mais arraigados e, portanto, mais difíceis de abandonar.
  • É preciso estar atenta a mudanças de atitude e em relação à alimentação da criança (evitação e recusa de certos alimentos), além de alterações de peso e comportamento social. Também é importante acompanhar de perto as redes sociais e os conteúdos virtuais que a filha acompanha.
Filhas imitam as mães.
As mães precisam estar atentas às próprias referências, pois ela é a primeira referência da filha. Uma mãe que dá importância considerável à "aparência perfeita" e à opinião alheia pode estar contribuindo, mesmo sem querer, para um comportamento disfuncional da filha. O ideal é valorizar as habilidades, a características positivas e mesmo, fisicamente, aquilo que a filha possui de bacana. Ao ser valorizada, a criança fortalece seu auto-conceito e aprende a conviver com seus defeitos também. Outro ponto fundamental é não projetar frustrações estéticas na filha, policiando a criança ao extremo ou, ao contrário, forçando-a a se alimentar excessivamente porque a mãe não "pode" comer.

Quanto antes um distúrbio alimentar for identificado, mais rápida e eficiente a cura. A parte emocional é trabalhada precocemente e, com isso, alguns conflitos podem acabar. Porém, é bom lembrar: pessoas com tendência a distúrbios de imagem e baixa autoestima são mais vulneráveis e necessitam muitas vezes de acompanhamento mais de perto ao longo da vida. As preocupações podem ressurgir em outros momentos, inclusive na forma de depressão, por isso é essencial ficar de olhos bem abertos com frequência.

*Os sobrenomes foram suprimidos a pedido das entrevistadas, para preservar a identidade das crianças.

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