Você já deve ter ouvido
que o carboidrato dá um
prazer especial ou que um brigadeiro ajuda a acordar depois do almoço.
Pois um novo artigo científico acaba
de desafiar essa ideia, indicando que o nutriente não melhora a disposição por
si só – e pode até piorá-la.
Pesquisadores de várias
instituições europeias revisaram 31 estudos anteriores que avaliaram o estado
do humor de 1 259 indivíduos logo após consumirem essa substância.
E, aqui, cabe uma
ponderação: carboidrato não é sinônimo de açúcar. O açúcar de mesa
– ou o que é adicionado aos produtos industrializados –
é um tipo de carboidrato. Portanto, o levantamento não se concentrou apenas no
açúcar.
De qualquer forma,
nenhum efeito positivo relevante foi identificado na disposição ou na
concentração logo após a ingestão de alimentos ricos em carboidrato. Por outro
lado, houve sensação de fadiga e
queda no estado de alerta em até uma hora.
“A ideia de que o
açúcar influencia no ânimo é popular. Tanto que muitas pessoas tomam bebidas
açucaradas para combater o cansaço”, afirma Konstantinos Mantantzis, psicólogo
que liderou o levantamento, da Universidade Humboldt,
na Alemanha. “Nossos achados indicam que essa alegação não se sustenta. Se o
açúcar pode causar algo, é fazer você se sentir pior depois de consumi-lo”,
completa, em comunicado à imprensa.
A esperança desse
especialista e de seus companheiros é que seus esforços reduzam a popularidade
do açúcar. E, especialmente, das bebidas cheias desse ingrediente, como
refrigerantes e energéticos.
De
onde surgiu essa história?
No passado, certos
estudos com animais e seres humanos sugeriam que a ingestão de carboidrato
melhorava a concentração e o desempenho cognitivo para tarefas complicadas.
A explicação biológica
afirmava que o açúcar estimulava a produção de neurotransmissores relacionados
ao bem-estar, especialmente a serotonina. Contudo, a revisão europeia questiona
esses mecanismos, apontando que os efeitos mais robustos foram observados em
experimentos com carboidrato puro. Ou seja, os voluntários (e as cobaias)
estariam recebendo um concentrado do nutriente – e não um alimento que o
contém.
No texto do artigo, os
autores argumentam que, em uma comida qualquer, um teor de proteínas tão
pequeno quanto 5%, por exemplo, já sabota o efeito do açúcar na produção de
serotonina. Somente as proteínas do leite condensado do brigadeiro seriam
suficientes para neutralizar essa ação animadora dentro do cérebro, portanto.
Acima disso, mais de 20
outras pesquisas citadas na revisão refutam a ideia de que mesmo itens que
praticamente só concentram carboidrato dão disposição. Ponto negativo para o
refrigerante, para citar um caso.
Agora, por que algumas
pessoas relatam que, depois de saborear um doce, ficam mais ativas? Talvez seja
a própria crença de que, ao comer açúcar, o corpo ganha uma dose de energia –
seria uma espécie de placebo. Tanto que alguns dos trabalhos analisados indicam
que esse gás extra é mais relatado entre 15 e 45 minutos depois do consumo.
Claro que as fontes de
carboidrato não precisam ser riscadas da dieta. Inclusive, elas têm seu papel
no organismo. Só não pense nos docinhos como uma forma de recarregar as
baterias de uma hora para outra. É melhor degustá-los pelo prazer, e não para
atingir um objetivo inalcançável, segundo a revisão.
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