FONTE: Do UOL, em São Paulo (noticias.uol.com.br).
O Conselho Federal de Medicina (CFM)
autorizou nesta quinta-feira os médicos de todo Brasil a prescreverem o uso do canabidiol (substância
derivada da maconha) para casos graves de epilepsia em crianças e adolescentes.
Isso facilitará a obtenção de autorização de importação do produto via
judicial.
Apesar da decisão, o canabidiol ainda
não está na lista de substâncias permitidas pela Anvisa, podendo apenas ser
importado. Além disso, o uso da cannabis in natura continua vedado no país.
Canabidiol dá
barato? Maconha vicia? Tire suas dúvidas
- O que é o CBD e por que ele
se popularizou?
O canabidiol (CBD)
é uma substância extraída da maconha, que é proibida no Brasil. Seu uso para
tratar doenças neurológicas graves, especialmente crianças com epilepsia,
popularizou-se após o documentário "Weed", da CNN, que mostra como a
substância mudou a vida de uma menina. Aqui no Brasil a mãe de Any Fischer, 5,
que sofre de problema genético raro, também fez filme sobre o tema.
- O canabidiol dá
"barato"?
O CBD não dá
"barato". Seu único efeito colateral conhecido é causar sono. Estudos
comprovam os benefícios dos princípios ativos da maconha, incluindo o
delta-9-THC, mas como qualquer droga têm efeitos tóxicos dependendo da forma e
quantidade administrada. O consumo irrestrito é preocupante, especialmente em
caso de transtorno mental grave (bipolaridade e esquizofrenia).
- Esse poder da maconha já era
conhecido?
"Até o século
20, a maconha era considerada um excelente medicamento, uma divindade. O médico
da rainha Vitória, do Reino Unido, divulgava isso publicamente. Os brasileiros
também podiam comprar em farmácias cigarros de maconha importados da
França", conta o especialista em psicofarmacologia Elisaldo Carlini.
"De medicamento poderoso, se transformou na erva maldita", mas sem
base científica, diz.
- Onde se usa a maconha
medicinal?
O uso medicinal da
maconha já é realidade em diversos países, como Canadá, Holanda, França, Reino
Unido e Israel. Nos Estados Unidos, a utilização de medicamentos à base dos
princípios ativos da planta também é permitida, mas está restrita a alguns
Estados. A pioneira no país é a Califórnia, que desde 1996 aprova o uso para
tratar pacientes com Aids, câncer, esclerose múltipla e outros distúrbios.
- Qual a posição da Anvisa?
A Anvisa não
liberou o CBD por achar que faltam pesquisas sobre ele e uma investigação sobre
como é usado no exterior. Isso, porém, dificulta a pesquisa no Brasil e
prejudica a importação por pacientes, que dependem de autorização caso a caso,
mediante prescrição médica, laudo sobre o paciente e a necessidade da droga e
um termo de responsabilidade assinado pelo médico.
- Como usar?
Não há consenso.
Algumas pesquisas mostram que o ideal é fumar um cigarro feita de uma mistura
de componentes da maconha, Outras indicam que é mais eficiente pegar cada
componente, isolar em laboratório e fazer comprimidos. E há quem defenda colocar
no vaporizador para que a fumaça seja inalada, sem fumar.
- Há outras indicações
terapêuticas?
Estudos mostram que
a maconha medicinal pode ser muito importante no tratamento da dor crônica, de
espasmos musculares, de esclerose múltipla e de astenia (pacientes sem apetite)
causada por HIV e câncer. Também tem efeito direto sobre as células do câncer e
efeitos antitumorais.
- Quais os entraves para a
maconha terapêutica?
Os médicos podem
ter dificuldades de prescrever o medicamento já que ainda não há no mercado
nenhum feito puramente com canabidiol. Segundo a Anvisa, o Epidiolex (98% de
canabidiol modificado) e o Sativex (2% de canabinóides) têm THC na composição e
não estariam liberados. Com a decisão do CFM, porém, os médicos não correm
risco de perder o registro se receitarem a droga.
- E a maconha vicia?
Apesar de ser uma
droga com baixa incidência de dependência, ela tem sim potencial para viciar.
Estima-se que 10% dos que experimentam acabem se tornando dependentes; o número
para quem experimenta heroína chega a 90%. "Em geral, quem começa mais
cedo tem mais risco de se tornar dependente e desenvolver quadros psicóticos,
de alucinações e delírios", diz o psiquiatra Thiago Marques Fidalgo.
- Ela pode combater outros
vícios?
Embora existam
algumas experiências e até pesquisas científicas apontando nesse sentido, usar
a maconha para se livrar de outros vícios é contestável sob o ponto de vista
médico, diz o psiquiatra Ivan Mario Braun. "Existem outros tratamentos
melhores, mais aceitos. Não faz sentido você passar de uma droga para outra. A
verdade é que o consumo de maconha é extremamente prejudicial à saúde".
- Maconha queima neurônio?
Estudos comprovam
que fumar maconha antes dos 15 anos diminui o QI, mas mostram que, após os 20
anos, a não há problemas cognitivos. "Tem a ver com a maturação do
cérebro, porque na adolescência ele ainda está terminando de se formar. Entre
os 15 e os 20 anos é uma faixa nebulosa, onde não foi possível comprovar o
impacto. Ainda assim, é uma idade de risco", diz o psiquiatra Thiago
Marques Fidalgo.
- Pode causar câncer,
problemas do coração ou infertilidade?
A maconha possuiu
substâncias cancerígenas, assim como o tabaco, muitas em maior concentração, e
pode causar danos ao coração, já que acelera os batimentos. A diferença é que as
pessoas tendem a fumar muito mais cigarro que maconha. Pesquisas apontam ainda
que ela pode diminuir a quantidade de espermatozoides e fazer com que eles se
movam mais lentamente, mas não há comprovação de infertilidade.
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