FONTE: Elioenai Paes - iG São Paulo, TRIBUNA DA BAHIA.
É isso mesmo: o transplante de fezes é
exatamente usar fezes de terceiros para curar um tipo de diarreia causado por
uma bactéria difícil de ser eliminada, a clostridium difficile. O tema segue
como assuntos de pesquisas científicas, mas já é realidade em alguns hospitais
de referência. No Brasil, o Hospital Albert Einstein já realizou dois
procedimentos com sucesso.
O
gastroenterologista e cirurgião do Hospital Samaritano, Victor Yokana, conta
que para fazer o transplante é necessário pegar fezes de 3 pessoas saudáveis –
normalmente da família –, colocar em um liquidificador com soro fisiológico,
bater para liquidificar e separar cerca de 15 ml do líquido malcheiroso para
injetar no paciente.
Há dois
meios de as fezes alheias entrarem no organismo: via colonoscopia, pelo ânus,
ou endoscópica, pela boca. Quando é pela boca, a sonda é inserida e o cano
chega até o intestino, onde o líquido é injetado. Não há contato com o
estômago, felizmente. "Assim ninguém fica com o desconforto de pensar que
está bebendo fezes", diverte-se o médico.
O
resultado desse procedimento inusitado aparece em menos de 24h. 95% dos
pacientes que tratam infecções intestinais difíceis por esse meio melhoram em
menos de um dia. É nojento, mas promissor.
Para a
ciência, esse número é fantástico. "É difícil achar, dentro da medicina,
essa proporção", diz Paulo Camiz, clínico geral e geriatra do Hospital das
Clínicas de São Paulo, que participou dos dois transplantes que aconteceram no
Hospital Albert Einstein.
A
maléfica c. difficile habita o intestino de muita gente sem causar dano algum.
Com ela há outros trilhões de bactérias benéficas (existem mais bactérias no
intestino do que células no corpo). O problema acontece quando há um
desequilíbrio nessa flora intestinal, em que as bactérias boas morrem e a c.
difficile se multiplica e toma conta de tudo.
Isso
pode acontecer pelo uso de antibióticos para qualquer fim, que podem matar as
bactérias benéficas e deixar o organismo à mercê daquelas mais resistentes.
Atualmente, há apenas um remédio que é usado para tratar essa diarreia
persistente, mas as taxas de sucesso não são altas. Como no intestino fica
apenas a c. difficile, mesmo quando elas são mortas, o intestino fica
desprotegido e sem flora bacteriana, e, insistente do jeito que é, na ausência
de boas bactérias a c. difficile acaba reinfectando o organismo.
Camiz
explica que o mais correto seria chamar o procedimento de transplante de
bactérias, pois são elas as importantes por repovoar o intestino e devolver o
equilíbrio da flora. Segundo ele, 90% do cocô é composto por bactérias.
Nos
Estados Unidos há uma pesquisa com fezes em cápsulas – para ser ingerida e se
tornar menos desconfortável do que uma endoscopia ou colonoscopia, que exige
sedação ou até mesmo anestesia. A cápsula seria como um remédio qualquer, com a
diferença de ser resistente aos ácidos do estômago, só abrindo no intestino –
onde é o lugar das fezes.
"Vai
ser o procedimento mais barato de todos eles, pois fezes tem de monte",
brinca o cirurgião do Hospital Samaritano.
Já
Camiz se empolga com as possibilidades de estudos das bactérias do intestino.
"O que acho interessante nem é somente a questão da clostridium difficile,
pois este é apenas um dos possíveis benefícios, é uma questão pequena perto do
potencial que essas bactérias podem trazer de benefícios para o ser
humano", completa o geriatra e clínico-geral do Hospital das Clínicas de
São Paulo.
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