FONTE: Marina Oliveira e Amanda Sandoval, Do UOL, em São Paulo (estilo.uol.com.br).
Pais de dependentes químicos ou de ex-dependentes,
não raramente, culpam-se por ter percebido tarde demais que o filho estava
usando drogas. Mas é normal que o adolescente tenha segredos e dificulte o
acesso dos adultos a sua vida pessoal. O desafio é identificar quais
comportamentos estão dentro do esperado para a idade e quais indicam problemas
mais graves, como dependência química.
Os sinais abaixo não devem ser avaliados de maneira
isolada, mas podem servir como indícios de que o jovem precisa de atenção
extra.
1 - Mudar radicalmente de
interesses.
Quando a droga passa a ser mais atraente do que as
outras atividades que o adolescente desenvolve –e das quais costumava gostar–,
as preferências dele podem mudar radicalmente.
Ele pode, por exemplo, não querer mais praticar o
esporte a que se dedicava ou não tocar mais um instrumento musical. Essas
desistências, geralmente, acontecem, no caso de um dependente, sem que ele
troque uma atividade por outra. A perda de interesse pelos hobbies ocorre sem
motivo aparente.
2 - Apresentar
queda no rendimento escolar.
É comum que as notas do adolescente que usa
drogas de forma contínua despenquem de uma hora para outra. Normalmente, o
declínio é consequência das faltas seguidas às aulas ou ainda do uso de drogas
durante o período letivo –os efeitos das substâncias químicas, evidentemente,
impedem o jovem de absorver 100% do conteúdo.
“Ele pode estar cabulando aulas, deixando de
estudar para as provas e de fazer trabalhos para ficar com a turma que usa
drogas ou, então, para se isolar e usar sozinho”, diz a psiquiatra da infância
e adolescência Jackeline Giusti, do Instituto de Psiquiatria da USP
(Universidade de São Paulo).
3 - Mostrar-se
muito agressivo.
O adolescente que usa drogas e tenta ocultar isso
dos pais pode se tornar mais hostil. Mas é preciso detectar se o comportamento
está fora do usual.
“É importante os adultos saberem que os jovens
mudam muito de humor, independentemente de usarem drogas ou não”, declara o
psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, do Programa de Orientação e Atendimento a
Dependentes da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Tornar-se mais bravo ou nervoso não é,
necessariamente, um efeito da droga, mas pode ser uma tentativa de ocultar o
vício. “Quando os pais desconfiam que o filho está usando algo, costumam ficar
mais inquisitivos e vigilantes. E o adolescente tenderá a reagir mostrando-se
mais irritado e agressivo”, diz Jackeline Giusti.
4- Trocar de
amigos.
Mudar o grupo de amigos, de uma hora para outra,
é um indicativo de alteração de interesses e identificação. Talvez o jovem faça
essa escolha devido a uma preferência recém-descoberta, como um novo gosto
musical, mas isso também pode ter a ver com o uso de drogas. Por isso, é
preciso acompanhar a vida do adolescente de perto: trazer os amigos do filho
para reuniões em casa, buscá-lo ou levá-lo às baladas, além de ouvir o que ele tem
a contar sobre os colegas.
5 - Relatar
sensação de perseguição.
De acordo com a psiquiatra Glaise Franco,
especialista em infância e adolescência pela Unicamp (Universidade Estadual de
Campinas), muitas drogas aumentam a quantidade de dopamina no cérebro e esse
excesso provoca sintomas psicóticos, como delírio e alucinação.
“Cocaína e crack são as drogas que mais predispõe
a comportamentos paranoicos. Quem utiliza, muitas vezes, acredita que está
sendo perseguido por uma pessoa ou por um grupo”, afirma Glaise. Diante desse
relato, o pai ou a mãe deve procurar ajuda porque, ainda que o filho não use substâncias
viciantes, esse pode ser indício de um problema psiquiátrico mais grave.
6 - Pedir mais
dinheiro do que o normal.
Como não trabalha, um adolescente precisa
recorrer ao dinheiro dos pais para sustentar o vício. Por isso, caso o filho
peça mais verba do que o estimado para as necessidades da idade, fique de olho.
Quando a dependência é grave, muitos jovens chegam a se desfazer de itens
pessoais e de pertences de familiares, para conseguir comprar a droga.
7 - Alterar o
hábito alimentar.
É certo que a adolescência é um momento de muitas
mudanças, inclusive no que diz respeito ao apetite. Muitos jovens passam a
comer mais porque começam a praticar esportes ou por conta do desenvolvimento
físico, típico da idade.
Alguns podem diminuir a quantidade de comida no
prato pelo simples fato de que desejam emagrecer. Mas a droga também pode
influenciar a rotina alimentar.
“O consumo excessivo de bebida alcoólica provoca
falta de apetite e perda de peso, além do aumento do volume abdominal. Já a
maconha aumenta a fome e o desejo por doces”, fala Glaise.
8 - Dormir pouco
ou muito.
Álcool, maconha, solventes e heroína provocam
sonolência. Enquanto ecstasy e cocaína exercem o efeito contrário. “No entanto,
se observar que seu filho está dormindo muito, passa o dia todo deitado na cama
e evita sair com colegas, é mais provável que ele esteja deprimido e não usando
drogas”, diz Jackeline Giusti.
9 - Apresentar a
pupila dilatada.
As drogas provocam diversas reações químicas no
corpo e uma delas pode ser percebida no olhar, segundo Glaise. “As substâncias
contidas em algumas drogas modificam a fisiologia humana por inteiro, alterando
a pressão arterial, os batimentos cardíacos, o fluxo de sangue para os órgãos
vitais e a musculatura do olho, que controla quanto de luz pode chegar até a
nossa retina, provocando a dilatação ou a contração pupilar”, diz a psiquiatra.
10 - Isolar-se
dos familiares e amigos.
Quando o adolescente se afasta do convívio com a
família e mesmo com a turma com quem costumava andar, é preciso ficar atento,
de acordo com Dartiu Xavier da Silveira.
“Quando o jovem torna-se dependente, o
relacionamento com parentes e amigos pode deixar de ser prazeroso. Nesse
estágio, ele só encontrará satisfação ao usar a substância. Os pais tendem a
achar que os adolescentes que saem muito são os mais expostos a drogas, o que
não é verdade. Os mais retraídos também estão tão ou até mais vulneráveis.”
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