As
mudanças climáticas trarão problemas com os quais a humanidade ainda mal sabe
que terá que enfrentar. Um exemplo disso é a possibilidade da volta de doenças
preservadas sob camadas permanentes de gelo.
A cobertura do manto de gelo do Ártico tem
batido recordes—negativos, é claro. No dia 7 de março deste ano, foi registrada a menor cobertura em
quatro décadas para o inverno. Eram 14,42 milhões de quilômetros
quadrados—não se deixe enganar pelo número aparentemente alto.
Mas por que esse degelo é tão crucial para o
retorno de doenças?
“Gelo permanente é muito bom em preservar
micróbios e vírus porque é frio, não tem oxigênios e é escuro”, disse à BBC o biólogo evolucionista Universidade
Aix-Marseille Jean-Michel Claverie.
Um caso emblemático deste novo desafio foi um
surto recente de antraz na Rússia. Na região da Sibéria, a infecção se espalhou
e afetou dezenas de moradores.
A teoria mais aceita é que uma rena infectada
morreu há décadas (cerca de 75 anos) e foi congelada com a bactéria Bacillus
anthracis, causadora da doença, na região.
Uma onda de calor no verão russo do ano
passado teria revivido essa bactéria, que resultou na morte de um garoto de 12
anos por antraz. A região chegou a registrar temperaturas de até 35°C, o que explicaria o
retorno da bactéria congelada.
A preocupação com o retorno de doenças há
muito desaparecidas não é descabida. Um estudo realizado por pesquisadores
russos aborda o impacto do derretimento da camada permanente de gelo no surto
de doenças antigas.
“Como consequência do derretimento da camada
de gelo, vetores de infecções fatais dos séculos XVIII e XIX podem voltar,
especialmente perto de cemitérios onde as vítimas eram enterradas”, diz o estudo. O problema é que alguns locais
como esses podem ser desconhecidos. “Muitos locais não existem mais ou foram
apagados de bases sanitárias locais.”
Por ar.
Outro impacto negativo com o aumento da
temperatura média da Terra seria o crescimento consequente de áreas propícias
para a reprodução de mosquitos vetores de doenças.
Talvez você tenha logo pensado no Aedes
aegypti, vetor de doenças como dengue, zika e febre amarela. Um estudo de 2014 aponta que áreas que hoje não são
apropriadas para o mosquito devem passar a ser habitat dele.
O uso de modelos mostrou que áreas tropicais e
subtropicais devem continuar sendo um bom lar para o A.
aegypti. “Áreas desfavoráveis hoje, como Austrália continental, Península
Arábica, sul do Irã e algumas partes da América do Norte podem ficar
climaticamente favoráveis para essa espécie de mosquito”, diz o estudo.
Com isso, as áreas de risco de doenças
transmitidas pelo Aedes aegypti devem aumentar.
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