FONTE: , TRIBUNA DA BAHIA.
Hábitos alimentares podem afetar os hormônios reprodutivos de homens e mulheres
Problemas
de fertilidade podem ser frustrantes para homens e mulheres que desejam ter
filhos. Mas até que um diagnóstico seja feito, muitas afirmações rondam o
imaginário popular sobre o que pode, de fato, influenciar a capacidade de
reprodução.
O E+ conversou com
urologista Silvio Pires e com o ginecologista Joji Ueno, especialista em
reprodução assistida, para esclarecer o que é mito e o que é verdade sobre a
fertilidade feminina e masculina.
Hábitos alimentares.
Segundo os especialistas, uma alimentação
equilibrada não atrapalha a fertilidade, mas os excessos sim. Tanto pessoas
obesas quanto aquelas que estão muito abaixo do peso podem enfrentar
dificuldades.
O ginecologista Joji Ueno explica que a gordura
ajuda a metabolizar os hormônios femininos e, quando tem mais do que o normal,
causa disfunções hormonais. “Acaba tendo excesso de estrogênio (hormônio
feminino) que se transforma em testosterona (hormônio masculino), o que causa
problemas de ovulação”, diz.
Nos homens, parte da produção de testosterona é
feita pelo tecido adiposo. A gordura retida diminui a taxa desse hormônio, o
que afeta diretamente a quantidade e qualidade dos espermatozóides. Assim, os
gametas têm sua capacidade de fecundação reduzida, explica o urologista Silvio
Pires.
Sobre os alimentos considerados afrodisíacos,
não há influência alguma na fertilidade. “Eles podem estimular a sexualidade,
mas não há estudos que comprovem alteração na fertilidade”, diz Pires.
Atividades físicas.
O excesso de exercícios físicos e a adoção de
uma dieta pobre em gorduras podem provocar amenorréia nas mulheres, ou seja,
ausência total de menstruação.
“Não tem produção hormonal para formar o
endométrio, e o corpo interpreta que ela está poupando energia para gastar em
outra atividade”, explica Ueno. Segundo ele, a menstruação é uma forma de
perder energia. Assim, a ovulação também pode ser interrompida.
O urologista Silvio Pires pondera que, mesmo que
a pessoa faça exercícios todos os dias, de forma controlada, não há
problemas com a fertilidade.
“Dos ultramaratonistas, são poucos que podem
sofrer alterações. Como o esforço é intenso, os nutrientes e a oxigenação são
deslocados para outras partes do corpo que não aquelas responsáveis pela
reprodução, mas não há estudos nesse sentido que comprovem”, diz.
Anabolizantes.
Entre os aficcionados por academia ou
aqueles que querem ter um corpo mais do que escultural, o uso de anabolizantes
é prejudicial para a fertilidade. Geralmente, as pessoas ingerem ou aplicam por
injeção testosterona sintética.
“Isso afeta o metabolismo, que para de funcionar
e diminui a produção de gametas, porque o corpo entende que não precisa mais
produzir testosterona naturalmente”, diz o urologista. A longo prazo, o consumo
frequente pode deixar o homem infértil definitivamente.
Nas mulheres, o mecanismo é basicamente o mesmo.
“Quando a mulher toma o hormônio masculino, aumenta todo o efeito que daria em
um homem”, afirma o ginecologista. Dessa forma, o excesso de testosterona
bloqueia a ação dos hormônios femininos responsáveis pela ovulação.
Idade.
É sabido que as mulheres têm mais dificuldade
para engravidar conforme ficam mais velhas, porque os hormônios reprodutivos
param de ser produzidos. Elas até continuam férteis, mas a chance de gravidez é
menor. Nos homens, a fertilidade pode ser mais duradoura, mas eles não estão
totalmente isentos do problema.
“Com o envelhecimento, a qualidade e quantidade
dos espermatozóides diminuem, mas alguns homens com taxas elevadas dos gametas
conseguem preservar a fertilidade”, diz o urologista. Além disso, como os
espermatozóides são produzidos diariamente, a renovação faz com que eles tenham
sempre bom desempenho de locomoção.
Álcool e cigarro.
O ginecologista Joji Ueno diz que esses hábitos
podem perturbar a ovulação, mas o caso é mais grave no início da gestação,
principalmente quando a mulher ainda não sabe que está grávida. “Quem quer
engravidar deve evitá-los, porque pode resultar em aborto”, diz.
Como o cigarro altera a vascularização, o
urologista diz que pode interferir nos órgãos terminais, como os testículos,
mas as complicações são secundárias, não diretas. Quanto ao álcool, a
substância tem ação direta no fígado, também responsável pelo metabolismo da
testosterona. “O homem pode sofrer diminuição do hormônio masculino e ter
disfunção sexual”, afirma.
Radioterapia e quimioterapia.
Com esses tratamentos, as células reprodutivas
sofrem alterações genéticas, afetando diretamente a fertilidade de homens e
mulheres. Quando algum câncer é identificado, os especialistas orientam que os
pacientes que ainda pretendem ter filhos façam o congelamento dos gametas antes
de iniciar o tratamento.
Questões femininas.
A Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) não
impede a mulher de engravidar. O problema, segundo o ginecologista Joji Ueno, é
quando a ovulação deixa de existir, o que implica, consequentemente, na
infertilidade.
Abortos, quando ocorrem naturalmente, não
atrapalham futuras gestações. Porém, se forem frequentes, a mulher pode sofrer
de alguma má formação uterina e deve procurar o especialista. Além disso, uma
curetagem mal feita, que é o procedimento para retirada dos restos do embrião,
pode causar danos no útero e impedir uma nova gravidez.
A pílula anticoncepcional também não interfere
na fertilidade da mulher, mas também não preserva os óvulos pelo fato de ela
não menstruar. Mesmo tomando o comprimido, o ginecologista diz que a mulher
perde até mil óvulos por mês.
Por conta de todas as dificuldades que podem
implicar na fertilidade feminina, a mulher pode fazer um exame que avalia a
reserva ovariana, ou seja, a quantidade de óvulos que ela tem. Dependendo do
resultado, ela pode optar por congelar os gametas, mesmo não tendo problemas e
caso queira engravidar mais futuramente.
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