FONTE: Elton Alisson, Da Agência Fapesp, (http://noticias.uol.com.br).
Depois da epidemia de
zika, iniciada em 2014, e do surto de febre amarela, no começo deste ano, o
Brasil corre o sério risco de ser afligido por outro vírus de ampla
distribuição nas Américas do Sul e Central e no Caribe, que se adaptou ao meio
urbano e tem chegado cada vez mais próximo das grandes cidades brasileiras. É o
oropouche – um arbovírus (vírus transmitido por um mosquito, como o zika, a
dengue e a febre amarela).
O vírus causa febre
aguda e, eventualmente, meningite e inflamação do encéfalo e das meninges
(meningocefalite).
O alerta foi feito
por Luiz Tadeu Moraes Figueiredo, professor da Faculdade de Medicina de
Ribeirão Preto da USP (Universidade de São Paulo), durante palestra na Reunião
Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.
"O oropouche é
um vírus que potencialmente pode emergir a qualquer momento e causar um sério
problema de saúde pública no Brasil", disse Figueiredo.
Casos chegaram a cidades grandes.
De acordo com o
pesquisador, há mais de 500 mil casos relatados no país nas últimas décadas de
febre do oropouche – como é conhecida a doença causada pelo vírus.
Esse número, contudo,
tende a subir, uma vez que o vírus, transmitido pelo mosquito Culicoides
paraensis – conhecido popularmente como maruim ou borrachudo –, antes
restrito aos pequenos vilarejos da Amazônia, tem se alastrado e chegado às
grandes cidades do país, ponderou Figueiredo.
"O oropouche é
um vírus que tem um grande potencial de emergência, porque o Culicoides
paraensis está distribuído por todo o continente americano. O vírus pode
sair da região amazônica e do planalto central e chegar às regiões mais
povoadas do Brasil", apontou.
Aumento de casos.
O número de casos de
febre oropouche também tem se tornado mais frequente em áreas urbanas não só no
Brasil, como no Peru e países do Caribe.
No Brasil, o vírus já
foi isolado em aves no Rio Grande do Sul, em um macaco sagui em Minas Gerais e
foi detectada a presença de anticorpos neutralizantes (que se ligam ao vírus e
sinalizam ao sistema imune que destrua aquele corpo estranho e o impeçam de
completar a infecção com sucesso) em primatas em Goiânia.
"Fizemos
recentemente, em parceria com o professor Eurico Arruda [do Departamento de
Biologia Celular da FMRP-USP)] o diagnóstico de um paciente de Ilhéus, na
Bahia, com febre oropouche. Isso mostra que o vírus tem circulado pelo
país", avaliou.
Os pesquisadores da
instituição já haviam diagnosticado, em 2002, 128 pessoas infectadas pelo vírus
oropouche em Manaus (AM).
Os pacientes apresentavam
os sintomas típicos da infecção, como febre aguda, dores articulares, de cabeça
e atrás dos olhos.
Três deles
desenvolveram infecção no sistema nervoso central. "O vírus foi encontrado
no líquor cefalorraquidiano desses pacientes", disse Figueiredo.
O que chamou a
atenção dos pesquisadores é que um desses três pacientes tinha
neurocisticercose – infecção do sistema nervoso central pela larva da tênia do
porco (Taenia solium) – e outro tinha Aids.
"Isso mostra que
algumas doenças de base ou imunodepressão [deficiência do sistema imune
observada durante doenças, como o câncer e a Aids] podem facilitar que o vírus
chegue ao sistema nervoso central", apontou o pesquisador.
"É algo que
quase ninguém pensa ao tratar de uma arborvirose e é preciso considerar essa
possibilidade", afirmou.
Os 128 pacientes
infectados com oropouche em Manaus tinham diagnóstico clínico de dengue, uma
vez que os sintomas da doença são parecidos com os da febre oropouche.
Por essa razão, os
pesquisadores da FMRP-USP e de outras instituições, como a Fiocruz, começaram a
chamar a atenção para o fato de que o vírus oropouche pode ser a causa de
muitos casos suspeitos de dengue no Brasil.
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