A Sociedade
Brasileira de Cardiologia (SBC) acaba
de publicar uma nova versão das “Diretrizes de Dislipidemias e Prevenção da
Aterosclerose”, documento que reúne as recomendações sobre colesterol e triglicérides. A grande mudança está no LDL, o colesterol ruim: os
limites ficaram mais restritos em algumas situações. A alteração segue a
tendência dos consensos realizados nos Estados Unidos e na Europa, locais que
também apertaram bastante as rédeas dos valores considerados seguros.
Agora,
indivíduos com risco cardíaco muito alto devem
manter o LDL abaixo de 50 miligramas por decilitro (mg/dl) de
sangue. Se encaixam nessa categoria aqueles que apresentam
grandes placas de gordura na parede das artérias. O bloqueio de parte da
circulação representa um perigo iminente de infarto ou de acidente vascular cerebral.
Já
as pessoas com risco cardíaco alto precisam segurar
o colesterol ruim em níveis menores do que 70 mg/dl. Aqui
estão os portadores de uma placa de gordura em exames de imagem, de aneurisma
da aorta abdominal, de doença renal crônica e de diabetes tipo 1 ou tipo 2 com algumas características específicas. Aliás, por
curiosidade, também entram nesse grupo sujeitos com LDL acima dos 190 mg/dl.
Na
turma do risco intermediário, calculado por meio de uma
conta feita pelo médico que considera diversas características do paciente, o
objetivo é ficar com menos de 100 mg/dl. Quando o risco
é baixo, admite-se um colesterol de até 130
mg/dl.
Veja
abaixo um resumo das metas — há novidades também no colesterol total, no HDL (o colesterol bom) e nos triglicérides:
LDL.
Como
ficou:
Indivíduos com risco baixo: abaixo de 130 mg/dl
Indivíduos com risco intermediário: abaixo de 100 mg/dl
Indivíduos com risco alto: abaixo de 70 mg/dl
Indivíduos com risco muito alto: abaixo de 50 mg/dl
Como
era:
Ótimo:
abaixo de 100 mg/dl
Desejável: entre 100 e 129 mg/dl
Limítrofe: entre 130 e 159 mg/dl
Alto:
entre 160 e 189 mg/dl
Muito alto: acima de 190 mg/dl
Indivíduos
com risco alto: abaixo de 70 mg/dl
Indivíduos
com risco intermediário: abaixo de 100 mg/dl
Colesterol
total.
Como
ficou:
Desejável: abaixo de 190 mg/dl
Como
era:
Desejável: abaixo de 200 mg/dl
Limítrofe: entre 200 e 239 mg/dl
Alto:
maior que 240 mg/dl
HDL.
Como
ficou:
Desejável: acima de 40 mg/dl
Como
era:
Desejável: acima de 60 mg/dl
Baixo:
abaixo de 40 mg/dl
Triglicérides.
Como
ficou:
Desejável:
abaixo de 150 mg/dl (com exame em jejum)
Como
era:
Desejável:
abaixo de 150 mg/dl
Limítrofe:
entre 150 e 200 mg/dl
Alto:
entre 200 e 499 mg/dl
Muito
alto: acima de 500 mg/dl
Boas-novas
na farmácia.
O
aperto nas metas foi possível graças à estreia em terras brasileiras de uma
nova classe de remédios que permite baixar o LDL a valores nunca antes
imaginados. Chamados de inibidores de PCSK9, esses fármacos protegem receptores no fígado que são
responsáveis por retirar o colesterol da circulação. Com um maior número
disponível dessas estruturas, o próprio organismo faz uma limpeza no sangue
para capturar as moléculas de gordura excedentes e, assim, evitar a formação de
trombos que patrocinam futuros ataques cardíacos ou derrames.
No
Brasil, dois medicamentos desse tipo já estão disponíveis: o evolocumabe,
da farmacêutica americana Amgen, e o alirocumabe,
do laboratório francês Sanofi. Os dois são aplicados por meio de uma
injeção quinzenal ou mensal, a depender da dose e da orientação do médico.
Nos
estudos que serviram de base para a aprovação, essas drogas foram capazes de
derrubar o LDL em mais de 60% quando comparados a
soluções placebo, sem nenhum efeito terapêutico evidente. O evolocumabe ainda
reduziu as mortes por problemas cardiovasculares em 15%.
A pesquisa para saber os efeitos do alirocumabe em longo prazo ainda está em
andamento. Os resultados devem sair em 2018.
É o fim das
estatinas?
Apesar
de representarem um baita avanço na cardiologia, os inibidores de PCSK9 não
estão indicados para todo mundo — até porque o preço, na casa de mil reais a
dose, não é lá muito convidativo. Segundo a nova diretriz brasileira, eles
devem ser utilizados somente quando o paciente apresenta um risco
cardiovascular elevado ou não obteve um bom resultado com as estatinas, comprimidos que seguem como a primeira linha de
tratamento para a maioria dos casos. Esses novos remédios ainda devem ajudar
bastante os portadores de hipercolesterolemia familiar,
quando o colesterol aos borbotões está relacionado a uma herança genética.
Além
de pílulas e injeções, o documento da SBC reforça o papel de outras estratégias
no ajuste do colesterol, como a alimentação equilibrada, o emagrecimento, a
cessação do tabagismo e a prática de atividade física. Sem essas mudanças no
estilo de vida, remédio nenhum fará milagre.
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