Os sintomas são os
mesmos da depressão maior, porém mais brandos e com longa duração de tempo.
Você tem se percebido mais
pessimista, melancólico ou impaciente? Sente que é necessário um esforço muito
grande para fazer as atividades do dia a dia e fica irritado com facilidade?
Se esses sintomas estão se
prologando por meses ou anos, talvez seja um sinal de distimia, um tipo de
depressão leve e crônica que pode desencadear um transtorno maior.
Mas calma que 'crônico' não
significa grave. O termo vem de 'cronologia' e é utilizado porque a doença se
prolonga por mais tempo, cerca de dois anos.
"Ela começa com sintomas
típicos da depressão, porém mais leves, de longa duração e bem demarcados, ou
seja, a pessoa consegue definir quando está bem e quando não está",
explica o psiquiatra Ricardo Alberto Moreno, coordenador do Programa de
Transtornos Afetivos (Gruda) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
Embora os sintomas de tristeza,
melancolia, falta de apetite ou de vontade de realizar atividades possam
aparecer de vez em quando, é a duração e a frequência deles que vai determinar
a distimia. Uma pessoa distímica pode passar dois ou três dias por esses
momentos e depois melhorar, mas voltar a senti-los em poucos dias.
Antônio Geraldo da Silva, diretor
tesoureiro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e presidente eleito da
Associação Psiquiátrica da América Latina, diz que a distimia é uma doença que
pode acometer qualquer pessoa em qualquer fase da vida. "Doenças
psiquiátricas ocorrem porque o cérebro adoece. Isso tem uma característica
genética e em algum momento da vida esse quadro pode aparecer", afirma.
O estresse também é um fator de
risco para episódios de depressão, mas não estamos falando do estresse cotidiano
causado pelo trânsito, trabalho ou contas a pagar. "É o estresse que causa
um impacto muito grande na pessoa e, geralmente, ela não tem capacidade para
absorvê-lo", alerta Moreno. O especialista aponta que todos sofrem com
estresse, mas muitos conseguem suportar e são poucos os que deprimem por conta
dele: apenas 18%.
Crianças e pré-adolescentes que
tiveram experiências traumáticas também têm maior vulnerabilidade para
depressão, que pode iniciar com a distimia. Desde essa fase da vida, é preciso
estar atento para evitar o estresse tóxico em crianças, conforme
mostramos aqui.
Distimia versus depressão.
Enquanto a depressão, sobre a
qual ouvimos falar com frequência, afasta as pessoas do convívio social e do
trabalho, pacientes distímicos seguem uma vida quase normal.
"A pessoa continua
trabalhando, produzindo, estudando, mas com qualidade de vida rebaixada, sente
tristeza, desânimo e desinteresse", explica Silva.
A distimia também é conhecida
como a doença do mau humor, uma vez que a fácil irritabilidade é um dos
sintomas. "A pessoa é tida como sistemática, fechada, séria e cheia de
manias. Isso pode ser confundido com a maneira de ser e acabam normalizando
algo que não é normal, é doença", alerta o especialista da ABP. Por achar
que faz parte da personalidade, a maior parte das pessoas com esse transtorno
não busca tratamento.
Mas é preciso atenção à doença,
uma vez que a distimia pode levar à depressão maior. "A maioria dos
pacientes, com o tempo, apresenta episódios depressivos mais graves com todos
os sintomas característicos. Talvez 90% dos casos evoluem para esses
episódios", diz o psiquiatra da USP.
Como identificar a
distimia?
Além dos sintomas leves de
depressão que duram muito tempo, os distímicos vão somando pequenas perdas que,
ao longo do tempo, se tornam muitas. Pode ser nos relacionamentos, sofrimentos
ou excesso de trabalho. É preciso verificar se esse acúmulo ocorre e como a
pessoa lida com ele.
Outra dica é quantificar os
estágios de ânimo, disposição e humor. Contar quantos dias você está bem ou
mal, alegre ou triste é importante para saber se esses sintomas são naturais ou
se estão se prolongando mais do que o normal.
Se a insatisfação, impaciência,
melancolia e pessimismo começarem a se repetir e durar por semanas, meses ou
anos é bom procurar ajuda. A distimia tem cura, e o tratamento é feito com
antidepressivos e psicoterapia.
Os especialistas afirmam que os
antidepressivos não causam dependência, desde que sejam prescritos por
profissionais capacitados, pois há protocolo de dose e tempo a ser seguido.
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