FONTE: *** Do UOL, em São Paulo (http://noticias.uol.com.br).
A fome é a razão pela
qual algumas células tumorais se separam do tumor primário para colonizar
outras partes do corpo, como aponta Colin Goding, cientista do Instituto Ludwig
de Pesquisa do Câncer, vinculado à Universidade de Oxford, no Reino Unido.
Em experimentos com
culturas de melanoma humano --tipo de câncer de pele--, o britânico detectou
que a falta de nutrientes desativa o maquinário de proliferação celular e faz
com que as células tumorais adquiram um fenótipo invasivo.
"Nossa
estimativa é que a mesma lógica funcione para a maioria dos tipos de câncer e,
talvez, possamos encontrar meios de manipular esse mecanismo de sobrevivência
celular para obter benefícios terapêuticos", disse Goding em entrevista à
Agência FAPESP.
O pesquisador diz
usar o melanoma como um modelo para entender a progressão do câncer como um
todo. "É um ótimo modelo porque conseguimos visualizar todos os estágios
da doença. Podemos perceber quando as células produtoras de pigmento começam a
invadir outros tecidos e formar metástases. Já em outros tipos de tumor, como
pulmão ou pâncreas, quando o paciente apresenta sintomas e procura um médico a
doença já se espalhou", explica.
Um dos objetivos do
instituto é compreender os fatores da chamada metástase. Segundo Goding,
aspectos do microambiente tumoral, como a disponibilidade de nutrientes,
oxigênio e a interação com sinais emitidos pelo sistema imune, são fundamentais
para a transformação.
A hipótese levantada
pelo britânico é que, diante de uma situação de escassez de nutrientes,
ativa-se em parte das células tumorais um mecanismo de sobrevivência que as faz
migrar para procurar comida em outro local.
"Além disso,
acreditamos que determinados sinais emitidos por células do sistema imune
--como as citocinas TNF-α [Fator de necrose tumoral alfa] e TGF-β [Fator de
transformação do crescimento beta]-- podem induzir um estado de
pseudodesnutrição. Nesse caso, mesmo havendo abundância de nutrientes, esses
sinais imunes associados à inflamação acionam o mesmo mecanismo induzido pela
fome e fazem a célula migrar", explicou o cientista.
Experimentos feitos
por Goding com leveduras e também com células de melanoma confirmaram que
existe um mecanismo de sobrevivência celular conservado ao longo da evolução.
Quando passa fome, a célula reduz sua demanda por nutrientes para se adequar à
oferta. Isso significa desativar os processos biológicos necessários para a
síntese de proteínas e para a formação de novas células.
Porém, quando a
célula tumoral consegue migrar para um novo ambiente, onde há abundância de
nutrientes e ausência dos sinais imunes que induzem a pseudodesnutrição, ela
volta a se proliferar para formar uma nova colônia.
"Se conseguirmos
enganar as células para fazer com que acreditem que os sinais de estresse já
foram embora, o maquinário de fazer novas células volta a ficar ativo e elas
vão morrer porque a demanda por nutrientes vai exceder a oferta", avaliou.
A manipulação do
estado fenotípico da célula tumoral, segundo Goding, poderia, em teoria, evitar
tanto a formação de metástase como a ocorrência de futuras recaídas da doença.
"O processo de
formação de metástase é muito ineficiente. Deve haver centenas de milhares de
células tumorais circulando e algumas poucas conseguem estabelecer uma nova
colônia com sucesso. Parte dessas células morre e parte se torna dormente para
sobreviver ao estresse associado com a fuga do tumor primário. Se encontrarmos
um mecanismo para eliminar a dormência, poderemos reduzir ainda mais o
porcentual de células que consegue escapar do tumor primário, sobreviver e
formar metástase", contou.
*** Com Agência Fapesp.
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