A onda sustentável
trouxe de volta uma antiga polêmica, sobretudo entre as mulheres: usar
desodorante aumenta o risco de desenvolver câncer
de mama? A dúvida surgiu há mais de uma década, baseada em
dados sobre a localização mais frequente de tumores cancerosos --no quadrante
superior próximo da axila, onde passamos o produto -- e na possível influência
do hábito feminino de depilar embaixo do braço, que aumentaria a absorção dos
ativos nocivos do desodorante, levando a mutações celulares que resultariam em câncer.
O Inca (Instituto
Nacional de Câncer), a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e a American Cancer Society
(EUA)
descartam a associação direta entre uso de desodorante e câncer,
justificando que não há evidências consistentes que a comprovem. Mas
sustentam que, apesar de seguros, é importante estudar possíveis efeitos de
alguns ingredientes desses produtos no organismo.
O alumínio é
prejudicial?
Das substâncias
presentes nos desodorantes (que agem apenas no odor) e nos antitranspirantes
(que controlam a liberação do suor), a que mais preocupa as pessoas é o
alumínio, que pode aparecer no rótulo como cloridrato,
cloreto ou cloridróxido de alumínio. Na forma de um pó finíssimo, ele tem a
função de obstruir os ductos sudoríparos, impedindo a excreção do suor pela
pele.
Quando você compra uma
versão de cosmético que promete 24 ou 48 horas de proteção, o que determina
isso é a concentração de sais de alumínio na fórmula
--quanto mais substância, maior o tempo sem transpirar. Apesar de alguns
cientistas sugerirem que o alumínio altera os receptores de estrogênio
(hormônio feminino) nas células, a American Cancer Society explica que a
quantidade de alumínio absorvida pela pele a cada "passada" de
desodorante é muito pequena (apenas 0,012%), menor até do que a presente em
alguns alimentos. Portanto, não deve haver preocupação.
Um estudo
publicado este ano no Journal of Molecular Biochemistry confirma que não
há evidências conclusivas da relação entre câncer de mama e exposição ao
alumínio, mas confirma que o potencial do metal como disruptor hormonal e
ressalta a importância de novas pesquisas para identificar até que ponto o uso
da substância é seguro.
Outro ingrediente que
costuma gerar preocupação é o triclosan, ativo antibacteriano
sintético comum em sabonetes antissépticos e pastas de dente, além de
desodorantes --em que é empregado para amenizar o cheiro ruim da
transpiração, resultante da interação das bactérias e fungos presentes na pele
com o suor.
No ano passado, a
substância foi banida pelo FDA (Food and Drug Administration, órgão de
saúde norte-americano) em produtos de higiene pessoal de venda livre (que não
precisam de receita). Segundo a instituição, a exposição prolongada ao
ingrediente pode gerar alterações hormonais e resistência bacteriana --pois
desregula o sistema de defesa do corpo e tende a favorecer o surgimento de micro-organismos
cada vez mais fortes. Baseada em trabalhos científicos, a Anvisa entende
que é seguro e permite uma concentração de até 0,3% de triclosan em produtos de
higiene pessoal vendidos no Brasil.
Os parabenos, usados
como conservantes em vários tipos de itens de higiene, e as fragrâncias são
outro foco de vigilância, por provocar alergias de pele em
algumas pessoas. Porém, também não há comprovação de que essas substâncias
geram problemas de saúde, incluindo câncer de pele.
Vale usar bicarbonato e
outras fórmulas caseiras?
Mesmo sem comprovação
de que os desodorantes "convencionais" são inseguros, algumas pessoas
preferem se proteger do mau odor com produtos livres de ingredientes sintéticos
e de origem mineral --em que se encaixam os parabenos, o triclosan e o
alumínio. Uma solução encontrada para isso é fabricar em casa o próprio
desodorante, com ingredientes tirados da despensa.
Para os
dermatologistas, bicarbonato de sódio e leite de magnésia são eficientes para
neutralizar o cheiro ruim da transpiração, pois elevam o pH da pele --quanto
está mais alcalino, ele impede a proliferação de fungos e bactérias que reagem
com o suor.
Óleo de coco e manteiga
de karitê são boas opções para dar consistência ao desodorante e, ainda,
hidratar a pele. Já algumas gotinhas de óleo essencial
deixam a receita mais agradável e até funcional --alecrim, copaíba, cravo e
calêndula, por exemplo, têm ação bactericida; lavanda e gerânio são relaxantes;
rosa mosqueta, limão e bergamota podem ajudar a clarear axilas escurecidas.
A desvantagem dos
desodorantes caseiros é que a proteção é menos duradoura, mas não há
contraindicação em aplicar o produto mais de uma vez por dia, o que pode
ser necessário dependendo da intensidade de sua transpiração.
Receita de desodorante
caseiro.
- 2 colheres (sopa) de bicarbonato de
sódio;
- 2 colheres (sopa) de óleo de coco;
- 3 colheres (sopa) de amido de milho
(se necessário, para dar liga);
- 3 ou 4 gotas de óleo essencial (o
que preferir).
Misture tudo até formar
uma pasta uniforme e aplique com os dedos.
***
Fontes: Roberto
Antunes, ginecologista e diretor da Sociedade
Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA); Claudio Basbaum,
ginecologista, doutor pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e médico
do Hospital e Maternidade São Luiz; Marcio Accordi, biólogo especialista
em cosmetologia clínica; Juliana Zimbres e Jardis Volpe, dermatologistas
membros da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
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