Se você é homem e está
lendo essa reportagem agora, estimule sua empatia e concorde em diminuir o
ar-condicionado do escritório se a sua colega tiver pedindo.
Ambientes com
temperaturas menores atrapalham a produtividade
feminina no trabalho. Em contrapartida, os homens não sofrem
tanto com a oscilação de temperatura e levam vantagem em ambientes mais frios.
É o que conclui uma pesquisa americana publicada em maio.
A afirmação aumenta
ainda mais a discussão sobre a temperatura ideal nos escritórios. Um estudo de
2015, inclusive, revelou que o ar-condicionado usa configurações de 1960,
quando ainda havia poucas mulheres no ambiente de trabalho. Ou seja: o
termostato pode ser machista, sim.
Para endossar essa
conclusão, desta vez os pesquisadores pediram a 500 pessoas que resolvessem
testes de matemática, problemas de lógica e a alguns exercícios verbais dentro
de uma hora. A temperatura da sala foi regulada entre 16º C e 32º C.
Era preciso resolver
problemas simples de matemática sem o uso de calculadora, solucionar questões
de lógica e formar o máximo possível de palavras usando algumas letras. Quanto
mais exercícios corretos, maior a pontuação.
Os pesquisadores não
encontraram diferenças no resultado quando o grupo todo foi avaliado. Eles,
então, dividiram os resultados por gênero e diferentes temperaturas. Foi aí que
pôde ser observado como a temperatura influenciou os dois
gêneros.
Os homens se saíram
melhor em exercícios de matemática e na formação de palavras quando a sala operava
em temperatura menor do que as mulheres. Com a temperatura mais alta, a
diferença nos resultados dos dois sexos desapareceu.
Mas
por quê?
Para ser mais preciso,
a 21º C a nota das mulheres nos exercícios de matemática foi 8.31. Já com 26º
C, a nota foi 10. Uma diferença de mais de 20% na produtividade feminina.
Segundo Luciane Helena
Gargaglioni Batalhão, doutora em fisiologia pela USP Ribeirão Preto e
professora da Unesp, uma hipótese para explicar essa diferença é que o corpo
demanda uma quantidade intensa de energia para operar. O da mulher,
especialmente.
Para manter a
temperatura em condições confortáveis, o corpo precisa usar o combustível
disponível. Você já deve ter percebido, mas o corpo humano mantém uma
temperatura que oscila entre 36,5º C e 37º C em condições normais. Isso muda
para cima ou para baixo durante o sono, atividades como a corrida ou febre, por
exemplo.
Segundo a professora,
estudos mostram que a pele da mulher tem um número maior de receptores ao frio
do que os homens. Também entra na jogada o período hormonal. Durante o ciclo
menstrual, a temperatura corporal da mulher pode oscilar entre
0,5 e 0,8 graus.
"De repente, ao
trabalhar em um ambiente frio, a energia da mulher é mais gasta para compensar
a temperatura corporal do que para focar no trabalho", explica a doutora.
O
termostato é masculino.
Por isso, uma outra
pesquisa norte-americana afirma que o ar-condicionado beneficia mais aos
homens.
O estudo mostra que a
maioria dos prédios utiliza ar-condicionado com temperaturas baseadas no
metabolismo masculino. Para isso, os índices criados na década de 1960 são
aplicados a uma equação que considera fatores como roupas, temperatura
ambiente, velocidade do ar, umidade e metabolismo em repouso. A equação
favorece as características metabólicas de um homem de 40 anos, escrevem os
pesquisadores.
A pesquisa é concluída
com um pedido para a revisão da fórmula pelos fabricantes de termostatos. Só
assim será possível reduzir o que chamam de discriminação de gênero no ambiente
do trabalho. Até lá, enquanto o patriarcado mantém a clássica ininterrupta
desatenção com o próximo, é melhor levar uma blusinha
reserva na bolsa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário