Em meio a uma
paisagem urbana cercada por fast foods e lojas de conveniência, uma cidade na
Califórnia, nos Estados Unidos, conseguiu manter bons hábitos alimentares
e alcançar uma expectativa de vida dez anos mais alta que a média do país.
Estudos mostraram que
os habitantes de Loma Linda vivem até dez anos a mais do que a média dos
americanos (79 anos) e chegam à idade avançada com uma saúde melhor.
É um fenômeno notável
em um mundo onde o custo da crise de obesidade é reconhecido como sendo tão
prejudicial quanto o de fumar ou dos conflitos armados.
A longevidade tem
ligação com a religião da comunidade. Os adeptos da Igreja Adventista do Sétimo
Dia compõem cerca de metade dos 24 mil habitantes do local. É uma comunidade
cristã evangélica que segue diretrizes rigorosas sobre alimentação, exercício e
descanso.
"Os dados são
claros. Foram publicados e revisados", diz Wayne Dysinger, presidente do
Departamento de Medicina Preventiva da Escola de Medicina da Universidade de
Loma Linda.
"Não há muita
dúvida de que as pessoas que seguem este estilo de vida vivem mais tempo."
'Templo' do
corpo.
Loma Linda - em
espanhol, "colina linda"- fica 100 km a leste de Los Angeles, e é
conhecida como a meca da vida saudável há décadas.
A cidade foi adotada
pelos fundadores da Igreja Adventista do Sétimo Dia, que na virada do século 20
compraram uma propriedade na área.
Ellen White, uma das
líderes e pioneiras da Igreja, afirmou que se encantou com o charme do lugar.
Branca, pequena e com
uma personalidade forte, ela inspirou os ensinamentos da Igreja sobre questões
de dieta, exercício e estilo de vida. White alega que suas crenças são baseadas
em experiências visionárias - sonhos e conversas com Deus.
"Ela classificou
o tabaco como um veneno maligno e lento em 1864", diz Richard Schaefer,
historiador da biblioteca da universidade. Isso foi cem anos antes de a
autoridade de saúde pública americana abordar o tema.
White, que tinha
pouca educação formal, disse que o álcool danifica o cérebro. Ela também
escreveu sobre os perigos de consumir muito sal.
"Os motivos
disso eu não sei, mas repasso a vocês as instruções que me foram dadas",
disse a pioneira, parafraseada por Schaefer.
Os adventistas creem
que sua longevidade esteja ligada ao respeito pelo corpo humano como um templo
do Espírito Santo.
"Vocês têm o
dever de reservar esse templo para o serviço de Deus, porque Ele nos fez",
explica o pastor aposentado Belgrove Josiah.
"Por causa desse
princípio, estamos muito preocupados com o que colocamos em nossos
corpos."
"Não descartamos
a ciência médica no geral, porque ela está muito relacionada com nos guiar
sobre como tratamos nosso corpo", acrescenta Josiah.
Descanso.
O modo de vida
adventista envolve uma dieta principalmente à base de vegetais, exercício
regular e um compromisso com a celebração do sábado como o dia de descanso.
Um estudo de longo
prazo que começou em 1976, envolvendo 34 mil membros da igreja, concluiu que
seu estilo de vida acrescentava um número significativo de anos para a média de
vida. Os pesquisadores identificaram "surpreendentes" efeitos
protetores de uma dieta vegetariana.
"Quando olhamos
apenas para a mortalidade, os adventistas parecem morrer das mesmas doenças,
mas eles morrem muito mais velhos" diz Larry Beeson, professor de
epidemiologia da Universidade de Loma Linda.
Beeson participa de
pesquisas sobre adventistas por mais de 50 anos.
Ele argumenta que a
boa saúde não se deve apenas à dieta. Para ele, o que ocorre é uma mistura complexa
de religiosidade, espiritualidade e compreensão de uma pessoa de sua crença em
Deus, combinado com outros componentes do estilo de vida, como exercícios e
apoio social.
Betty Streifling, por
exemplo, tem 101 anos e ainda levanta pesos na academia de sua casa de repouso.
Streifling vive em seu próprio apartamento, uma casa aconchegante, cheia de
recordações familiares e móveis feitos por seu falecido marido. Ela frequenta
uma aula de exercícios cinco dias por semana e faz um passeio matinal na rua.
Ela atribui sua
longevidade a "viver uma vida pura, sem álcool, sem tabaco, ir para a cama
cedo, louvando a Deus por sua bondade e pela bênção da vida".
Fast foods.
É possível comprar um
hambúrguer e batatas fritas em Loma Linda, mas no ano passado a prefeitura
proibiu o funcionamento de novos "restaurantes de fast food com
drive-through". O movimento foi pensado para "proteger a saúde
pública, segurança e bem-estar" de seus moradores.
Existem mercados de
agricultores e lojas de alimentos saudáveis fazendo sucesso com nozes e
vegetais.
O estilo de vida de
Loma Linda parece dar uma receita promissora para o bem-estar. Não é para
todos, e a maioria dos adventistas reconhece que há diferentes graus de
observância às diretrizes alimentares e sociais definidas pela igreja.
Mas há pouca dúvida
de que esta comunidade pode esperar viver muito mais tempo do que a maioria das
outras pessoas.
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