Temperaturas
mais baixas dificultam a lubrificação natural da pele dos lábios, por isso a
hidratação se faz necessária, principalmente com produtos que contenham ativos
cicatrizantes.
Quando chega o frio e o
tempo seco, os lábios sofrem uma agressão que causa ressecamento e descamação.
“A porção dos lábios que fica exposta ao meio ambiente é formada por semimucosa,
um tecido sem queratina, ou seja, um tecido sensível sem esta proteína morta
que está presente na pele e tem papel de barreira protetora”, explica a
dermatologista Dra. Claudia Marçal, membro da Sociedade Brasileira de
Dermatologia e da Academia Americana de Dermatologia. Assim como na pele, as
baixas temperaturas interferem ainda mais na hidratação natural dessa pele, que
pode apresentar rachaduras, fissuras e até sangrar, por ser extremamente
delicada e fina. “Além de usarmos muito movimento da musculatura, a pele oral
entra em contato com alimentos, bebidas, saliva, cosmético, principalmente
batons que nem sempre têm pigmentos naturais e contêm conservantes
estabilizantes que são altamente alergênicos. Então é um local que devemos,
sim, tratar com muito cuidado, com produtos específicos”, acrescenta.
Segundo a
dermatologista, os lábios tendem a ser mais ou menos ressecados e isso depende
muito do fototipo, da característica étnica: quanto mais clara for a pessoa,
mais tendência a ter os lábios delicados e sensíveis ao frio ela tem. Além das
baixas temperaturas, o sol é outro agressor importante. “Os fototipos 1 e 2 são
os mais acometidos por ressecamentos e por queimaduras causadas pelo sol. A
queimadura causada pelo sol muda a estrutura celular e pode, com o tempo,
provocar alteração displásica da boa morfologia das células; o lábio também
começa a ficar mais ressecado, descamativo, com surgimento de fissuras e
rachaduras”, explica. A médica alerta que um dos cânceres mais comuns na região
da face é na região dos lábios e o mais comum deles é o carcinoma
espinocelular.
Mais especificamente
sobre o frio, ele causa um tipo de queimadura que é por desidratação. “Durante
o inverno, há uma diminuição da produção natural das glândulas que lubrificam a
região, então existe um maior ressecamento porque a pele fica realmente menos
hidratada e lubrificada, com a área mais atrófica. E a regeneração deve ser
feita da mesma maneira”, afirma.
Por prevenção, o
recomendado é fazer uma hidratação constante e frequente, principalmente com as
temperaturas mais baixas, com formulações ricas em vitaminas e antioxidantes.
“Usar hidratantes à base de aveia coloidal, vitamina E, pró-vitamina B5,
glicerina, de manteigas de karité, de óleos como o de girassol, óleo de
macadâmia, a própria presença de zinco, cobre, manganês, magnésio que auxiliam
no processo de cicatrização, devem estar presentes nas formulações”, afirma.
Outra dica é evitar passar a língua na região dos lábios, o que provoca uma
diminuição do pH, já que a saliva tem pH mais ácido e piora ainda mais o
ressecamento. “Há aquela sensação imediata que houve um umedecimento da região,
mas logo depois, acontece a formação de microfissuras, de ardência e
vermelhidão local”, afirma.
Os produtos específicos
para hidratação local também podem conter filtros solares para evitar que haja
formação do herpes pela exposição ao sol. “Isso pode acontecer também por uma
mudança brusca de temperatura no inverno, então o ressecamento, a descamação, a
abertura de uma porta de entrada onde existe uma solução de continuidade e a
perda da integridade da barreira cutânea, faz com que a área fique mais
propensa a infecções bacterianas, virais e herpéticas”, enfatiza.
Nos períodos frios, o
hidratante deve ser usado de duas a três vezes ao dia ou optar pela escolha de
batons que sejam de marcas conhecidas com uma rotulagem hipoalergênica, testado
dermatologicamente, e produtos de boa procedência. “Ou se eu quiser evitar
qualquer tipo de risco e tiver um lábio mais sensível, deve ser utilizado hidratante
antes do batom pela manhã, e repetir à tarde. As substâncias hidratantes,
reparadoras de barreira, anti-inflamatórias devem ser aplicadas sempre, pois
oferecem um certo poder oclusivo como os fosfolipídeos, que fazem com que haja
uma formação de manto sobre a região, evitando a desidratação e a agressão dos
fatores ambientais”, afirma.
Quando há ressecamento,
a dermatologista ressalta que sempre aconselha aos pacientes a nunca remover as
‘pelinhas’, nem fazer esfoliação na região dos lábios com grânulos agressivos.
“No máximo uma esfoliação com produtos naturais como a seda do arroz ou mesmo
fazer uso de um creme de ureia que já é suficiente, misturada com a
pró-vitamina B5 para que haja o processo natural de troca daquela pele mais
espessa que será descamada e trocada por uma pele jovem, mais fininha e,
portanto, mais sensível”, diz. Quando houver persistência do ressecamento,
apesar de todos os cuidados recomendados, deve se procurar um dermatologista
para avaliação clínica mais especifica para descartar outros diagnósticos
diferenciais e buscar formas de tratamento mais assertivas para o caso em
questão.
Por fim, outro composto
que devemos ficar de olho é o cigarro: “Além de poder causar alergia de
contato, ele diminui a irrigação local, provoca degradação do colágeno e dá
origem às linhas em coluna de barra que surgem como rugas ao redor dos lábios”,
finaliza.
***
FONTE: Dra.
Claudia Marçal.
Dermatologista da
Clínica de Dermatologia Espaço Cariz, com especialização pela Associação Médica
Brasileira (AMB), membro titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD)
e membro da American Academy of Dermatology (AAD), CME (Continuing Medical
Education) na Harvard Medical School.
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