Há algumas três ou
quatro décadas, era bastante comum dar remédios contra vermes de tempos em
tempos às crianças, para mantê-las protegidas de parasitas. E isso fez com que
muitos adultos, até hoje, acreditem que é importante consumir o remédio
periodicamente.
Aliás, é possível
encontrar terapeutas e até nutricionistas de linhas mais naturais que indicam
vermífugos aos pacientes, como uma maneira de "livrar o corpo de
impurezas". Mas saiba que a prática não é recomendada e pode trazer
problemas à saúde.
Por
que não precisamos tomar vermífugo?
No passado, existia a
crença de que era necessário tomar o medicamento nos meses sem a letra
"R" ou na lua minguante. E, se possível, juntando os dois momentos.
Só por essa "teoria" você já deve imaginar que muitos adotavam o
método sem qualquer comprovação científica e orientação profissional.
Até os anos 1990,
quando o saneamento básico de diversas cidades era precário e havia muito
esgoto a céu aberto, usar vermífugos frequentemente até podia ser algo
necessário e recomendado pelos médicos, pois muitas crianças e adultos estavam
sob risco de contaminação.
No entanto, hoje não
faz mais sentido consumir a droga sem prescrição, principalmente nas
metrópoles, onde há um bom sistema de esgoto e as crianças mal brincam na
natureza ou na terra --locais onde há a chance de contaminação por verminoses
como amarelão, giardíase e oxiuríase, por exemplo. Logo, a prática de ingerir
vermífugos regularmente só deve ser adotada em áreas em que há recomendação dos
órgãos de saúde.
Qual
o risco de tomar vermífugo sem necessidade?
Ao tomar o remédio sem
ter, de fato, algo a ser combatido, a pessoa corre o risco de se expor sem
necessidade aos efeitos colaterais desta forte medicação, que pode causar
desconforto gástrico, enjoo, tontura, sonolência, entre outros problemas.
Além disso, a droga tem
o poder de alterar a população de bactérias (microbiota) do organismo, que
regula o sistema imunológico e a resposta do corpo ao estresse,
participa da absorção de nutrientes essenciais, nos protege de germes
virulentos etc. Estudos já associaram o desequilíbrio da microbiota a problemas
intestinais, obesidade,
depressão
e até doenças do coração e câncer.
Portanto, o vermífugo é
um remédio que deve ser tomado apenas com prescrição médica, após a detecção de
sintomas muito evidentes ou de um exame de fezes, por exemplo, ou quando há recomendação
de órgãos de saúde.
Quem
precisa tomar vermífugo com regularidade?
De acordo com a OMS
(Organização Mundial da Saúde), o tratamento preventivo usando anti-helmínticos
(isto é, vermifugação) deve ser feito uma vez por ano em áreas endêmicas com mais
de 20% de prevalência de helmintos. E duas vezes por ano em áreas com mais de
50% de prevalência, principalmente em crianças em idade escolar (5 a 14 anos)
ou pré-escolar (1 a 4 anos), já que essas verminoses atrapalham o sistema
cognitivo. Além disso, a infecção helmíntica transmitida pelo solo resulta em
má absorção de macro e micronutrientes, o que acarreta em desnutrição e anemia
por deficiência de ferro.
Nessas regiões, o
tratamento repetido regularmente tem demonstrado melhorar os indicadores de
morbidade de helmintos transmitidos pelo solo, incluindo também maior
crescimento, habilidades cognitivas e frequência escolar deste grupo.
Agora, repetimos, se
você não vive em regiões muito pobres e já é maior de idade, nem pense em tomar
vermífugo para "tirar as impurezas do corpo". E, se desconfiar que a
criança da família está com sintomas de verminose (diarreia,
dor abdominal, cansaço constante, presença de pontos brancos nas fezes, entre
outros), leve-a ao médico.
*** Fontes: Carolina
Peev, pediatra, alergista e chefe de plantão do Hospital Infantil Sabará (SP);
Nilton Carlos Machado, professor do departamento de pediatria, da Faculdade de
Medicina da Unesp (Universidade Estadual Paulista), campus de Botucatu; e
Ricardo Barbutti, gastroenterologista do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).
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