Ao olhar em farmácias
ou lojas de produtos naturais é comum encontrar entre os suplementos uma
categoria que é pouco conhecida pela sua definição: os nutracêuticos. Ao
contrário do que muitos pensam, eles não são polivitamínicos nem suplementos
proteicos como o whey protein. Também não são nutrientes.
São compostos bioativos
isolados, extraídos de vegetais ou animais, que passam por testes de
biodisponibilidade, citotoxicidade e absorção, entre outros. E então são
vendidos na forma de cápsulas, comprimidos, sachês, pós, tabletes e suplementos
dietéticos, e podem ser formulados em farmácias de manipulação.
Mas existe uma vantagem
real em consumi-los? De acordo com os especialistas entrevistados pelo UOL
VivaBem, só quando há uma indicação específica. "Por enquanto devemos ir
atrás dos alimentos funcionais, e não ir atrás do elemento, do composto ativo
na farmácia. É melhor ter uma dieta rica, bem variada e colorida que teria
esses compostos bioativos em quantidades não tóxicas, não deletérias, do que
procurar no balcão de uma farmácia", considera Sérgio Paiva, professor de
clínica médica da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e membro do conselho
da SBAN (Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição).
Nutrientes
em excesso.
Uma característica
importante é que os nutracêuticos apresentam uma concentração de componentes
muito maior do que a encontrada nos alimentos. Para se ter uma ideia de como
são concentrados, 1 grama de fitoesterois --que esses produtos geralmente
oferecem -- equivale ao consumo de 2,5 quilos de brócolis ou 14,3 quilos de
tomate ou 3,7 quilos de framboesa. A comparação feita pela nutricionista
Clarissa Fujiwara, do Departamento de Nutrição da ABESO (Associação Brasileira
para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica) mostra que é muito difícil
conseguir uma concentração tão alta dessas substâncias na alimentação.
Isso parece vantajoso,
é verdade, mas pode ser perigoso. O ideal é passar por uma avaliação com um
médico ou nutricionista. Eles identificam se há a necessidade de consumir esses
produtos e orientam o consumo correto. "Tudo tem que ser dentro de uma
janela biológica. Temos que ter a noção da quantidade adequada para cada caso.
O excesso não é indicado. Ou não absorve ou pode ter um efeito tóxico,
deletério", alerta Paiva.
Se eu precisar diminuir
o colesterol e não conseguir ter o efeito com as medicações normais, posso usar
fitoesterois em cápsula, por exemplo. Mas só com uma dieta bem feita temos uma
quantidade suficiente dessas substâncias protegendo o organismo sem correr o risco
de excessos"Sérgio Paiva, professor de clínica médica da Unesp.
Se por um lado eles
podem fazer mal quando tomados em doses excessivas, por outro, se usados com
critério são úteis para a manutenção da saúde, diz o médico. "A luteína,
por exemplo, tem uma ação que protege a mácula e o cérebro. Para ter os
benefícios de uma cápsula de luteína, seria preciso comer um abacate inteiro
por dia". Substâncias com propriedades antioxidantes como essa podem
diminuir o risco de doenças crônico-degenerativas, como o Alzheimer.
Além dos fitoesteróis,
que auxiliam na redução da absorção de colesterol, há vários exemplos de
compostos bioativos em nutracêuticos. A fibra betaglucana (encontrada no
farelo, flocos e farinha de aveia) e a quitosana têm efeito semelhante ao dos
fitoesterois. Já o licopeno, a luteína e a zeaxantina têm ação antioxidante e
protegem as células contra os radicais livres. Fora do grupo dos vegetais, de
onde a maioria dos nutracêuticos são extraídos, há o ômega 3, conhecido de
todos nós, que ajuda a manter níveis saudáveis de triglicerídeos, e os
probióticos, que contribuem para o bom funcionamento do intestino.
O médico explica que
cada composto bioativo tem uma absorção diferente no organismo. No caso do
licopeno, que protege o corpo contra alguns tipos de câncer, como o de
próstata, ele afirma que a alta concentração dos nutracêuticos tem um papel
preventivo importante. Outra vantagem, de acordo com Paiva, é que nesses
produtos é possível excluir substâncias que podem ser prejudiciais à saúde.
Cuidados
ao comprar e consumir.
Até a Anvisa (Agência
Nacional de Vigilância Sanitária) recomenda que o consumo deles deve estar
associado a uma alimentação equilibrada e a hábitos de vida saudáveis. Outro
cuidado é não ingerir mais do que a dose especificada nas embalagens. E é bom
consultar um profissional de saúde para saber por quanto tempo tomá-los.
"No caso de colesterol elevado pode haver uma necessidade de a pessoa
consumir continuamente", diz a nutricionista. Mas não se deve abandonar os
medicamentos.
Assim como no caso dos
alimentos, estudos constantes são feitos para atestar o efeito dos
nutracêuticos. Por mais tecnologia que seja empregada nas pesquisas, ainda há
muito o que descobrir sobre eles. "Temos um vasto conhecimento a ser
obtido em relação aos compostos bioativos, que a gente ainda nem conhece nos
alimentos. Com os estudos, vamos entendendo melhor os reais benefícios",
observa Fujiwara. Um dos principais pontos desses estudos é comparar a absorção
dos compostos bioativos nos alimentos e na forma de nutracêuticos, além de
testar a dosagem necessária para ter um efeito benéfico.
Por isso, é preciso
tomar cuidado ao comprar esses produtos também: eles são oferecidos em sites na
internet e até em comerciais de televisão, com preços bem variados. O problema
é que muitos deles não foram desenvolvidos a partir de pesquisas sérias e,
portanto, não são nutracêuticos. A melhor maneira de se proteger de propagandas
enganosas é verificar se os laboratórios são conhecidos e se certificar de que
o produto está registrado na Anvisa.
No caso de produtos que
não foram fabricados no Brasil, vale pesquisar se eles têm algum tipo de
certificação. No caso do ômega 3, é importante que não esteja contaminado por
metais pesados, o que é perigoso sobretudo para as gestantes, de acordo com
Fujiwara. Pedir indicação para o médico, o nutricionista ou o farmacêutico são
outras dicas para comprar nutracêuticos seguros.
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