quinta-feira, 18 de julho de 2019

QUEM COME BEM PRECISA DE NUTRACÊUTICOS? VEJA QUANDO SÃO INDICADOS...


FONTE: Sibele Oliveira, Colaboração para o UOL VivaBem,

        

Ao olhar em farmácias ou lojas de produtos naturais é comum encontrar entre os suplementos uma categoria que é pouco conhecida pela sua definição: os nutracêuticos. Ao contrário do que muitos pensam, eles não são polivitamínicos nem suplementos proteicos como o whey protein. Também não são nutrientes.

São compostos bioativos isolados, extraídos de vegetais ou animais, que passam por testes de biodisponibilidade, citotoxicidade e absorção, entre outros. E então são vendidos na forma de cápsulas, comprimidos, sachês, pós, tabletes e suplementos dietéticos, e podem ser formulados em farmácias de manipulação.

Mas existe uma vantagem real em consumi-los? De acordo com os especialistas entrevistados pelo UOL VivaBem, só quando há uma indicação específica. "Por enquanto devemos ir atrás dos alimentos funcionais, e não ir atrás do elemento, do composto ativo na farmácia. É melhor ter uma dieta rica, bem variada e colorida que teria esses compostos bioativos em quantidades não tóxicas, não deletérias, do que procurar no balcão de uma farmácia", considera Sérgio Paiva, professor de clínica médica da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e membro do conselho da SBAN (Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição).

Nutrientes em excesso.
Uma característica importante é que os nutracêuticos apresentam uma concentração de componentes muito maior do que a encontrada nos alimentos. Para se ter uma ideia de como são concentrados, 1 grama de fitoesterois --que esses produtos geralmente oferecem -- equivale ao consumo de 2,5 quilos de brócolis ou 14,3 quilos de tomate ou 3,7 quilos de framboesa. A comparação feita pela nutricionista Clarissa Fujiwara, do Departamento de Nutrição da ABESO (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica) mostra que é muito difícil conseguir uma concentração tão alta dessas substâncias na alimentação.

Isso parece vantajoso, é verdade, mas pode ser perigoso. O ideal é passar por uma avaliação com um médico ou nutricionista. Eles identificam se há a necessidade de consumir esses produtos e orientam o consumo correto. "Tudo tem que ser dentro de uma janela biológica. Temos que ter a noção da quantidade adequada para cada caso. O excesso não é indicado. Ou não absorve ou pode ter um efeito tóxico, deletério", alerta Paiva.

Se eu precisar diminuir o colesterol e não conseguir ter o efeito com as medicações normais, posso usar fitoesterois em cápsula, por exemplo. Mas só com uma dieta bem feita temos uma quantidade suficiente dessas substâncias protegendo o organismo sem correr o risco de excessos"Sérgio Paiva, professor de clínica médica da Unesp.

Se por um lado eles podem fazer mal quando tomados em doses excessivas, por outro, se usados com critério são úteis para a manutenção da saúde, diz o médico. "A luteína, por exemplo, tem uma ação que protege a mácula e o cérebro. Para ter os benefícios de uma cápsula de luteína, seria preciso comer um abacate inteiro por dia". Substâncias com propriedades antioxidantes como essa podem diminuir o risco de doenças crônico-degenerativas, como o Alzheimer.

Além dos fitoesteróis, que auxiliam na redução da absorção de colesterol, há vários exemplos de compostos bioativos em nutracêuticos. A fibra betaglucana (encontrada no farelo, flocos e farinha de aveia) e a quitosana têm efeito semelhante ao dos fitoesterois. Já o licopeno, a luteína e a zeaxantina têm ação antioxidante e protegem as células contra os radicais livres. Fora do grupo dos vegetais, de onde a maioria dos nutracêuticos são extraídos, há o ômega 3, conhecido de todos nós, que ajuda a manter níveis saudáveis de triglicerídeos, e os probióticos, que contribuem para o bom funcionamento do intestino.

O médico explica que cada composto bioativo tem uma absorção diferente no organismo. No caso do licopeno, que protege o corpo contra alguns tipos de câncer, como o de próstata, ele afirma que a alta concentração dos nutracêuticos tem um papel preventivo importante. Outra vantagem, de acordo com Paiva, é que nesses produtos é possível excluir substâncias que podem ser prejudiciais à saúde.

Cuidados ao comprar e consumir.
Até a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) recomenda que o consumo deles deve estar associado a uma alimentação equilibrada e a hábitos de vida saudáveis. Outro cuidado é não ingerir mais do que a dose especificada nas embalagens. E é bom consultar um profissional de saúde para saber por quanto tempo tomá-los. "No caso de colesterol elevado pode haver uma necessidade de a pessoa consumir continuamente", diz a nutricionista. Mas não se deve abandonar os medicamentos.

Assim como no caso dos alimentos, estudos constantes são feitos para atestar o efeito dos nutracêuticos. Por mais tecnologia que seja empregada nas pesquisas, ainda há muito o que descobrir sobre eles. "Temos um vasto conhecimento a ser obtido em relação aos compostos bioativos, que a gente ainda nem conhece nos alimentos. Com os estudos, vamos entendendo melhor os reais benefícios", observa Fujiwara. Um dos principais pontos desses estudos é comparar a absorção dos compostos bioativos nos alimentos e na forma de nutracêuticos, além de testar a dosagem necessária para ter um efeito benéfico.

Por isso, é preciso tomar cuidado ao comprar esses produtos também: eles são oferecidos em sites na internet e até em comerciais de televisão, com preços bem variados. O problema é que muitos deles não foram desenvolvidos a partir de pesquisas sérias e, portanto, não são nutracêuticos. A melhor maneira de se proteger de propagandas enganosas é verificar se os laboratórios são conhecidos e se certificar de que o produto está registrado na Anvisa.

No caso de produtos que não foram fabricados no Brasil, vale pesquisar se eles têm algum tipo de certificação. No caso do ômega 3, é importante que não esteja contaminado por metais pesados, o que é perigoso sobretudo para as gestantes, de acordo com Fujiwara. Pedir indicação para o médico, o nutricionista ou o farmacêutico são outras dicas para comprar nutracêuticos seguros.

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