Ir ao ginecologista não
é nem de perto a situação mais confortável. A
tensão aumenta quando o médico é homem.
Claro, um dos motivos é
não saber exatamente o que pode acontecer. Foi assim, abusando da inexperiência
de pacientes que o então médico José Hilson Paiva foi acusado de estuprar
centenas de pacientes no interior do Ceará, no início de Julho.
Universa
já havia conversado com mulheres que viveram situações semelhantes:
elas relatam que profissionais pediram que elas ficassem em posições
desnecessárias ou fizeram movimentos de introdução dos dedos na vagina que nem
de longe se assemelhavam aos exames padrão.
Uma das saídas para não
sofrer esse tipo de abuso é ter conhecimento e exigir que se respeite uma série
de normas que devem ser seguidas pelos médicos. Leia abaixo o que pode ou não
ser feito durante um exame ginecológico.
Posso
exigir presença de alguém no consultório ginecológico?
Sim. A paciente pode
exigir a presença de um profissional de saúde -- de preferência, mulher -- para
acompanhar o exame. Um familiar também pode acompanhar a análise. Caso o médico
negue a presença de um acompanhante ou o hospital não ofereça um profissional
que esteja presente, a paciente pode recusar o tratamento.
Em
algum exame ginecológico há toque no clitóris? Ou estimulação do clitóris?
Não. A análise do clitóris
é rara em um exame ginecológico. Mesmo se houver uma queixa da paciente, o
médico não toca no
clitóris. Nestes casos, a avaliação é visual e serve para
detectar lesões ou anomalias. O que pode acontecer é o médico afastar os lábios
da vulva para fazer o exame visual. Mesmo assim, não há estímulo, toque ou
qualquer movimentação no clitóris.
O
ginecologista pode tocar minhas mamas?
Sim. Além do toque
vaginal, a rotina inclui exame das mamas para detectar nódulos ou corpos
estranhos. O médico faz um toque com a palma do mão nas laterais dos seios e
uma leve pressão com os dedos nos mamilos para detectar, por exemplo, secreções
que indicam câncer de mama. Não são utilizadas a boca, o olfato ou qualquer
outro método para a análise das mamas.
O
médico pode usar ferramentas que eu não conheço para o exame?
Sim. Antes de tudo, o
médico deve dizer o nome e explicar a função de cada instrumento. O mais comum
é o espéculo, que abre o canal vaginal e permite a avaliação visual do colo do
útero e também a introdução do exame de toque.
É
preciso usar o dedo para o exame de toque vaginal?
Sim. Podem ser usados
dois dedos: o indicador e o médio. A paciente fica sempre em posição
ginecológica enquanto a outra mão do médico encosta na barriga.
"Os dedos são
introduzidos no canal vaginal até atingir o colo de útero e deve ser rápido o
suficiente para analisar a integridade do colo, vagina, bacia e o toque
bimanual (onde a outra mão do médico comprime a barriga da paciente) para
avaliação de de ovário ou útero", explica a médica Fernanda Torras,
especialista em ginecologia e obstetrícia pela Federação Brasileira de
Ginecologia. No toque, o médico pode questionar se há incômodo, como em
inflamações, e detectar, com ajuda da indicação da paciente, o local exato do
desconforto.
O médico pode pedir para
a paciente rebolar ou fazer movimentos estranhos que são similares a uma
relação sexual?
Não. Pode acontecer do
médico pedir uma manobra chamada Valsalva durante o toque vaginal. Funciona
assim: paciente prende o ar, tosse ou faz força para detectar problemas como
incontinência urinária ou movimentação atípica da bexiga.
Como
eu sei que o ginecologista é especialista no assunto?
Tem dois métodos. O
primeiro é buscar o número de registro do médico no conselho médico regional ou
federal de medicina. Os dois órgãos podem conceder todas as informações sobre a
trajetória acadêmica e de especialização do profissional. A segunda maneira é
buscar o título de especialista do médico ginecologista pela Febrasgo, que
comprova a especialização. Vale lembrar que exames iniciais e ginecológicos
podem ser realizados pelo chamado médico clínico geral, onde valem as mesmas
normas citadas acima.
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