FONTE: THIAGO FERNANDES, COLABORAÇÃO PARA A FOLHA (www1.folha.uol.com.br).
Pouco mais de um segundo. É esse o tempo que um médico radiologista precisa para identificar a imagem de uma lesão de tórax numa radiografia, de acordo com um estudo feito por pesquisadores da USP e publicado ontem na revista "PLoS One".
Pode parecer muito rápido, mas é um tempo similar àquele necessário para que esses mesmos profissionais reconheçam imagens de objetos familiares, como o desenho de animais e letras do alfabeto aplicados sobre chapas radiográficas.
A partir dessa constatação, os pesquisadores concluíram que o processo mental de reconhecimento de sinais clínicos feito por médicos envolve os mesmos mecanismos neurológicos utilizados na identificação de outros objetos da vida cotidiana.
"Essa tendência que os médicos têm --mesmo que de forma involuntária-- de fazer diagnósticos de bate-pronto deve ser levada em consideração para aprimorar métodos e técnicas, reduzindo erros de diagnóstico", diz o psiquiatra Marcio Melo, pesquisador do Laboratório de Informática Médica da USP que conduziu o estudo.
O resultado sugere que a formulação da hipótese de diagnóstico acontece de forma quase automática, e começa já nos primeiros momentos de contato com o paciente. "Às vezes isso ocorre antes mesmo de os doentes relatarem os seus sintomas. Por exemplo, quando o médico vê um paciente com icterícia, ele de pronto pensa no diagnóstico de doenças hepáticas", diz Melo.
Para concluir isso, o estudo analisou dados de ressonâncias magnéticas feitas em voluntários no momento em que lhes foram mostradas as radiografias.
Essas imagens apresentavam um entre 20 tipos diferentes de lesões torácicas. Em algumas delas, foram adicionados digitalmente os desenhos de animais e as letras. Os voluntários deveriam então descrever o que viam.
Quando eram mostradas lesões, o tempo médio para resposta foi de 1,33 segundo. Para animais, 1,23 segundo. E, para letras, 1,14 segundo.
A ressonância apontou que em todos os casos as mesmas regiões do cérebro foram ativadas, o que fortalece o entendimento de que, do ponto de vista neurológico, não haveria muita diferença entre reconhecer em um raio-X uma pneumonia ou o desenho de um crocodilo.
Uma diferença observada pelos pesquisadores, no entanto, foi que as imagens de lesões ativaram um conjunto mais numeroso de neurônios nas regiões cerebrais ligadas à capacidade cognitiva.
Essas regiões também foram ativadas com os animais e as letras, mas de forma menos intensa.
Esse dado indica que, mesmo acontecendo de forma automática, a identificação de lesões requer um nível de raciocínio mais desenvolvido que nos outros casos.
Os autores destacam, no entanto, que a velocidade não significa que os diagnósticos formais e definitivos feitos pelos médicos sejam feitos tão rapidamente, mas sim que esse é o tempo necessário para a formulação da primeira ideia de diagnóstico a partir da qual o médico orienta todo o seu trabalho.
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