Como nunca antes neste país estava indo sem tribulações, atravessando já o quinto mês, o primeiro governo da República presidido por uma mulher, Dilma Rousseff. A oposição caía e continua caindo aos pedaços e, talvez pior do que isto, não encontrava em que se agarrar para fazer oposição. Agora achou.
O único transtorno era uma certa malcriação da inflação, que teimava em se apresentar transitando entre um pouco acima e um pouco abaixo do teto limite pré-fixado para ela pelo governo.
Na verdade, os que teriam condições, poderes para manter a inflação bem comportada não seriam os economistas e financistas, nem os estatísticos de certas instituições oficiais, com suas amostragens maravilhosas, mas os políticos.
Estes, no entanto, bagunçam a casa, como os que estavam no governo da União em 2010, ano de eleição, diligentemente a bagunçaram, na presunção de que a chamada equipe econômica ponha depois as coisas nos eixos, custe o que custar e doa a quem doer, menos a uns, pois se todos os brasileiros são iguais, alguns são mais iguais do que os outros.
Mas quando parecia que era só isso e uma pneumonia já praticamente superada que levou a presidente Dilma Rousseff a dar mais umas voltas na chave da porta que vinha separando-a da nação, apesar de todas as boas vontades da parte desta, maio resolveu mostrar a que veio.
Estourou o arranca-rabo do Código Florestal, do qual o governo, pelo menos na opinião de dez em cada dez ambientalistas brasileiros, se saiu muito mal. Os ambientalistas estão tiririca com o governo e a presidente Dilma.
A comunidade GLBT, idem – tenho a impressão que já incluíram na sigla mais uma ou duas letras, mas prefiro não arriscar – também está tiririca com a presidente (aliás, vale um parêntesis para esclarecer que Tiririca não tem nada com essa história). Isto porque no grande debate nacional que se estabeleceu sobre o tal “kit anti-homofobia” que o Ministério da Educação fez produzir para distribuição às escolas públicas do ensino fundamental, o que venceu foi o “kit antigay” lançado pelo deputado Jair Bolsonaro, do PR fluminense.
O debate incendiado pela reação de Bolsonaro e seu “kit antigay” atiçou evangélicos e católicos organizados (há muitos parlamentares que se dizem católicos, mas não estão organizados) a ameaçarem ficar contra o governo em outras questões se o “kit anti-homofobia” (dentro do projeto Escola sem Homofobia) fosse distribuído pelo Ministério da Educação às crianças da rede pública de ensino.
A presidente Dilma deu ontem a ordem de cancelar e determinou que coisas relacionadas a costumes e que interessem a setores da sociedade não sejam consumadas sem antes um debate com esses setores e a sociedade em geral. Ela demorou a descobrir a pólvora, mas, afinal, descobriu. E ontem deu declarações muito sensatas sobre o Estado e a privacidade.
Engraçado é que ela parece haver surpreendido o ex-presidente Lula, que saíra de suas palestras de R$ 200 mil para articular a defesa do ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, outra “vítima” de maio.
Lula conversava com senadores aliados quando contou que, ante o debate sobre o “kit anti-homofobia”, ligara para o ministro da Educação, Fernando Haddad, e, baseado em tal telefonema, garantiu que não havia nada decidido no governo.
Mas havia, o ministro é que ainda não sabia. E os evangélicos, que souberam da interferência de Lula, não gostaram disso. A AGBLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Tansexuais) foi convidada a conversar, na terça-feira, com Gilberto Carvalho, secretário geral da Presidência.
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