FONTE: JOLIVALDO FREITAS, TRIBUNA DA BAHIA.
Usei no título acima um nickname que os sertanejos costumam usar, rebatizando de forma mais popular o poderoso Rio São Francisco. Fi-lo porque qui-lo – como diria o ex-presidente Jánio Quadros -, por entender, numa analogia leve, livre e solta, que o rio é a cara de Chico Aguiar, com sua força construtiva e poder de recuperação.
Eu costumava chamar Chico de Quiquinho (ele ria) quando neste jornal eu precisava de um favorzinho dele e queria dar uma enrolada. Ele ria e dizia:- Pronto, lá vem problema! Diga logo o que você quer.
Também o chamava de “Véio Chico”, quando queria entabular uma conversa longa, sobre qualquer assunto, contanto que pudesse ficar em sua sala, comendo bolacha e tomando cafezinho, deixando meus editores enlouquecidos esperando eu redigir (antigamente se dizia bater) o texto e entregar a matéria.
Nunca vi Chico de mau humor. Pelo contrário, nas maiores das crises ele tinha uma piada nova, uma história para contar, uma brincadeira e muito galanteio para com as repórteres feias, bonitas ou meeiras, isso num tempo em que “cantar” funcionária, mesmo que fosse de forma en passant, não era considerado como assédio sexual e as moças achavam legal e não um demérito ou agressão.
Conheci meu amigo e ex-patrão Francisco Aguiar na primeira semana em que fui arriscar ser repórter, na redação do Diário de Notícias, que ficava num lindo casarão na Carlos Gomes, centro de Salvador, onde hoje fica a Caixa Cultural. Não lembro se ele ali estava trabalhando ou ido visitar os seus amigos jornalistas.
Mas ele me viu chegando da rua com minha primeira pauta, que nem lembro qual era e procurando uma Remington para bater a matéria.
Sentei na primeira mesa que vi e estava no meio da redação quando apareceu a repórter Azimozete Santana, uma das estrelas do então jornalismo baiano que me olhou de cima para baixo e perguntou de chofre:- Ô menino, quem mandou você sentar aí? Pode sair que preciso usar a máquina de escrever!
Meti o rabo entre as pernas e procurei outra mesa e sucedeu-se a mesma coisa. Lúcia Ferreira, outra estrela da constelação do jornalismo baiano, veio com seu jeito direto e me peitou:- Que ousadia é essa? Pode sair da minha máquina.
Saí escorraçado e já ia para um canto quando Verona foi logo me tolhendo com seu jeito charmoso, afirmando “nem pense em ficar aí”. Quem me socorreu foi (sem trocadilho)Socorro Schawn, que deixou que eu pegasse seu lugar. Mas foi só o batismo de um foca chegando com tudo. Fiquei amigo de todas elas embora não tivesse ficado mais que dois dias nos Associados.
E onde Chico entra nesta conversa mole? Pois, foi ele que viu tudo, me chamou num canto e disse que eu obedecesse às meninas, vez que “pode anotar aí, são elas que irão tomar conta das redações dos jornais. Uma vai terminar sendo sua chefa”, disse. Demos risada. Mas, era mesmo um vaticínio. Chico antecipava com seu humor, o futuro que hoje chegou e vemos as redações tomadas por uma maioria feminina (graças a Deus!).
A última imagem que tenho de Chico Aguiar (não costumo ir a velório nem enterro, pois quero ter uma imagem alegre dos meus amigos), foi no aniversário da Tribuna da Bahia, ano passado. Ele me chamou num canto e perguntou onde eu estava trabalhando, pois soube que eu pedira demissão do trabalho na TV. Como todo jornalista que está desempregado eu disse que estava fazendo free-lancer. Ele me propôs fazer um tablóide cultural na TB.
Fiquei de responder mas nunca respondi. Até que outro dia, numa crônica fiz uma concordância verbal terrível e ele me escreveu: “Graças aos céus você não aceitou ser editor do tablóide cultural”. E encerrava com uma onomatopeia, destas que singram a internet, de sorriso de pirraça. Só faltou ilustrar com um emoticom. Chico sempre foi charmoso e surpreendente.
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