domingo, 2 de outubro de 2011

ESPECIALISTAS ALERTAM PARA CONSUMISMO INFANTIL...

FONTE: Carlos Vianna Junior, TRIBUNA DA BAHIA.


O dia das crianças vem aí, e as propagandas, mostrando o que as crianças “devem querer”, começam a ser mais frequentes. Segundo levantamento do Ibope, feito em 2010, são as crianças que passam mais tempo em frente da TV, mais de cinco horas por dia.


Por outro lado, especialistas alertam para o fato de que as crianças estão dando mais valor em obter o que a mídia lhes impõe como desejo, do que à brincadeira, importante elemento de sua formação. Elas estão virando consumistas. Lidar com esta nova realidade tem sido um problema também para os pais em Salvador.

Maria das Dores Rocha, funcionária pública, diz que se pudesse não deixava seu filho Elielson, de 5 anos, assistir a televisão. “A cada dia tenho que dizer um não, ou um vamos ver para ele, e não é difícil eu sair de vilã da estória”. Para ela, fica mais difícil negar o que lhe é pedido porque ela acredita no filho quando ele diz que todos os amiguinhos têm o brinquedo.

“Outro dia comprei um boneco chamado Max Steel, nada barato, mas imaginava que se as mães dos outros meninos fazem um esforço eu também teria que fazer”, conta.

Para a psicóloga Célia Fiamenghi, membro do Campo Psicanalítico de Salvador, esta obrigação que os pais sentem em comprar para os filhos o que pede a mídia é fruto de uma lógica imposta pelo consumismo e que confunde o conceito de ser feliz com o ato de possuir coisas, além de exigir uma felicidade constante, o que pode e deve ser combatido.

“É importante que elas entendam que nem sempre dá para ser feliz, o que vai levá-las a questionar mais sobre a vida, a elaborar mais sobre a realidade, preparando-as para lidar com ela de uma maneira mais saudável”, diz.

Falta de tempo – Além de ser uma forma de tentar incluir os filhos num mundo onde “todo mundo tem”, a prática de comprar os brinquedos e outros desejos impostos pelos anúncios publicitários podem ser também alimentada por outras características dos tempos atuais, para as quais os pais devem estar alerta. “A modernidade é marcada pela falta de tempo e pelo individualismo”, aponta o psicólogo e terapeuta familiar e de casal, Alexandre Amaral.

“Além de acelerado, o nosso tempo tem sido gasto com projetos individuais, não estamos mais nos vinculando, estamos coabitando; mas é necessário deter a velocidade para abraçarmos o tempo da brincadeira, com o olhar atento, interagindo com as crianças”, salientou Amaral.

O depoimento da empresária Joana Silveira, mãe de um casal de gêmeos de 8 anos, é um bom exemplo destas características apontadas pelo terapeuta. “Eu tento comprar, não só para fazê-los felizes, mas também para que eles tenham o que fazer nas horas vagas. Eu gosto de ficar com eles, mas preciso de um tempo para fazer as minhas coisas quando estou em casa”, declarou.

A psicóloga Célia Fiamenghi chama a atenção para o fato que esta falta de tempo gera outra consequência que atinge as crianças: a brincadeira está se tornando menos importante do que o brinquedo em si. “O brincar deve ser mais importante, pois é através das brincadeiras que a criança elabora conteúdos importantíssimos para a formação do ser, mas para tanto é preciso tempo.”

Marizabel Almeida, orientadora da escola Lua Nova, na Pituba, que vem realizando debates sobre este e outros temas que envolvem a infância, reconhece a dificuldade que os pais enfrentam, principalmente por não haver uma fórmula pronta para solucionar a questão.

Para ela, o importante é criar barreiras para a lógica do consumo, o que pode ser feito através da apresentação de outras lógicas possíveis. “Pode-se, por exemplo, se perguntar às crianças para que elas querem o que demonstram desejar. Perguntar se aquilo é realmente necessário para sua vida”, propõe.

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