FONTE: DA FRANCE PRESSE (www1.folha.uol.com.br).
As cobras têm má fama por serem criaturas escorregadias e de sangue frio, mas cientistas americanos anunciaram nesta quinta-feira que algumas têm corações grandes que podem dar pistas para o tratamento de pessoas com doenças cardíacas.
Segundo estudo publicado na revista "Science", o segredo do sucesso da píton birmanesa é a quantidade maciça de ácidos-graxos que circulam em seu sangue após a refeição, que pode ser tão grande quanto um cervo.
As pítons birmanesas são cobras largas, crescem até oito metros e podem ficar sem comer por até um ano.
Cientistas da Universidade de Colorado, em Boulder, descobriram que enquanto a cobra começa a digerir sua presa, óleos naturais e gorduras denominadas triglicerídeos têm um pico mais de 50 vezes acima do nível normal.
Mas a gordura não fica depositada no coração da cobra, devido à ativação de uma enzima chave, que protege seu grande órgão, cuja massa chega a aumentar até 40% nos primeiros dias após a refeição.
Os cientistas identificaram a composição química do sangue da píton depois de comer e injetaram plasma da cobra alimentada ou uma mistura produzida para ter o mesmo efeito nos répteis em jejum.
"Em ambos os casos, as pítons tiveram crescimento e indicadores de saúde cardíacos aumentados", destacou o estudo.
Em seguida, os cientistas aplicaram o experimento em camundongos e descobriram que os roedores que tiveram injetado tanto o plasma da píton quanto a mistura de ácidos-graxos demonstraram os mesmos resultados.
"Foi notável [observar] que os ácidos-graxos identificados no plasma das pítons alimentadas pudessem, na verdade, estimular o crescimento cardíaco saudável dos ratos", afirmou o pesquisador Brooke Harrison.
A cientista Cecilia Riquelme disse que o próximo passo é descobrir como a mistura funciona para que possa ser um dia adaptada para ser utilizada em pessoas.
"Agora, estamos tentando entender os mecanismos moleculares por trás do processo na esperança de que os resultados possam produzir novas terapias para melhorar as condições de saúde cardíaca em humanos", afirmou.
Mas nem todo o crescimento cardíaco é bom. Condições como a cardiomiopatia hipertrófica, em que o músculo cardíaco fica mais espesso e pode causar morte repentina em atletas jovens, é um exemplo.
No entanto, o tipo de crescimento cardíaco apresentado pela maioria dos atletas de elite é um reflexo de sua saúde cardíaca superior.
"Atletas bem condicionados como o nadador olímpico Michael Phelps e o ciclista [campeão da Volta da França] Lance Armstrong têm corações enormes", explicou Leslie Leinwand, professora do departamento de biologia desenvolvimental, molecular e celular da universidade americana, e diretora do estudo.
"Mas há muitas pessoas incapazes de se exercitar por causa de uma doença cardíaca existente, portanto seria bom desenvolver algum tratamento para promover o crescimento benéfico das células cardíacas", acrescentou.
O trio de ácidos-graxos identificados no sangue da cobra é composto dos ácidos mirístico, palmítico e palmitoleico. A enzima que protegeu seus corações foi a superóxido dismutase, também existente em humanos.
"Estamos tentando entender como fazer com que estes sinais indiquem às células cardíacas individuais se vão por um caminho com consequências patológicas, como doenças, ou com consequências benéficas, como exercícios", disse Leinwand.
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