FONTE: Lorena Caliman (lorena.caliman@redebahia.com.br), CORREIO DA BAHIA.
A preocupação agora dos pais desses milhares de estudantes é descobrir como ocupar tanto tempo livre.
Deivison Nascimento tem 13 anos. Este ano, ele passou direto em todas as disciplinas do 5º ano e já se despediu da Escola Municipal Martagão Gesteira, no Engenho Velho de Brotas. Como sua escola não oferece o segundo ciclo do ensino fundamental, Deivison vai migrar para uma escola da rede estadual.
O problema é que, de acordo com informação confirmada ao CORREIO pela Secretaria Estadual da Educação (SEC), as aulas só vão começar dia 1º de abril. Parece mentira, mas não é: Deivison vai ficar quatro meses sem aulas devido à greve dos professores do estado, que durou 115 dias.
“Ele entrou de férias e está ajudando na oficina pra ocupar a mente. Pra não ficar aí, na rua, sem fazer nada”, diz a mãe da garoto, a dona de casa Cíntia Carvalho, 31, que não sabe quando pode fazer a matrícula do filho, já que a data ainda não foi definida.
Deivison não está sozinho nessa situação. A previsão da Secretaria Municipal da Educação (Secult) é que, este ano, cerca de 13 mil concluintes do 5º ano migrem para colégios da rede estadual. Além disso, 1.290 estudantes do 9º ano em escolas do município também devem passar para unidades estaduais.
Ocupação.
A preocupação agora dos pais desses milhares de estudantes é descobrir como ocupar tanto tempo livre. A mãe de Deivison o levou para ser uma espécie de ‘ajudante-aprendiz’ na oficina de um amigo, também no Engenho Velho de Brotas.
O garoto não se opôs à ideia enquanto achava que ficaria lá por um período normal de férias. Mas, ao saber que só volta para as aulas em abril, já começou a pensar em outras atividades.
“Achei muito ruim essas férias, porque é muito tempo sem estudar. Quero arranjar outra coisa pra fazer, de preferência, um esporte”, afirma o garoto, que sonha em ser domador de cavalos. Sua mãe emenda: “São quatro meses. Isso preocupa, porque ele pode perder disciplina”.
Disciplina.
No caso de Alessandra Góes, de 14 anos, a disciplina também é um fator que preocupa a família. Alessandra está terminando o 5º ano na Escola Municipal João XXIII. Ontem, enquanto ela ia à escola buscar o boletim final, sua mãe já estava preocupada com as férias prolongadas.
“Eu ainda não soube da data da matrícula e não sei em que colégio estadual vou colocar Alessandra. Preciso ver isso”, disse a mãe, a faxineira Sandra Santos de Souza, 28, ouvindo de familiares a opinião de que a filha tem que estudar mais.
“Alessandra está precisando fazer alguma coisa pra melhorar na escola. Acho que ela deveria fazer algum curso profissionalizante, porque ela está muito fraquinha no colégio. Já atrasou muito”, opinou a tia-avó da garota Julivalda Góes Cerqueira, 57.
A escolha do dia 1º de abril para o início do ano letivo de 2013 foi definida depois de uma série de reuniões realizadas entre representantes da Secretaria Estadual da Educação e os professores da rede estadual, representados pela APLB Sindicato.
Negociação.
Inicialmente, o governo propôs que fossem adotados dois calendários diferentes, um começando em março e outro em abril. A proposta logo foi rejeitada pelos professores.
“Fomos contra esse procedimento. Nossa proposta era a de um calendário único e essa foi a primeira coisa que conseguimos implementar”, diz o professor Luciano Cerqueira, diretor de imprensa da APLB.
Segundo Luciano, após a decisão de que seria adotado um calendário único, valendo tanto para os colégios que estiveram paralisados até o final da greve e os que retomaram as aulas antes, a dificuldade foi a de se estabelecer uma data para o início das aulas.
“Depois das reuniões, ficou estabelecida uma data mediadora. Nem 11 de março, que era o que os professores queriam, nem 15 de abril, que a SEC queria. Ficou então o dia 1º de abril”, concluiu o professor.
Especialistas alertam para a perda de ritmo dos estudantes.
Na avaliação da pedagoga Saadia Argolo Rodriguez, um recesso de mais de três meses é muito longo e pode levar o aluno a perder o ritmo de estudo adquirido ao longo do ano. “Se for um aluno que já tem dificuldades, ele terá ainda mais problemas. É inevitável que ele não saia do ritmo”, destaca.
Saadia lembra ainda que o ano letivo passou a ter 200 dias justamente porque estudos mostraram a necessidade de sua extensão. “No passado, quando o ano letivo era mais curto, as férias eram maiores, mas até isto já foi revisto”.
Além disso, a pedagoga ressalta que, no retorno às aulas, o estudante terá que condensar uma quantidade de assuntos ainda maior. “Como pedagoga e orientadora educacional, acho muito confuso. Não é o ideal”, avalia.
A psicopedagoga Karinina Azevedo compartilha da mesma opinião no que diz respeito à quebra do ritmo. “Isso é o que mais preocupa”, pontua. Para minimizar os prejuízos dos estudantes, ela defende que a família busque meios de envolvê-los em atividades produtivas.
“Tem que saber equilibrar atividades que sejam obrigação com outras que deem prazer. Não adianta obrigar os adolescentes a ir a uma banca todos os dias nas férias, porque isso irrita”, alerta. A dica é investir em atividades lúdicas para que eles possam aprender de forma prazerosa.
“Os pais podem estimular a leitura, grupo de estudo que não seja uma coisa formal, grupos para assistir filmes. O que preocupa é o adolescente na rua sem fazer nada”, conclui.
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