FONTE: Silvana Blesa, TRIBUNA DA BAHIA.
Dependendo do período de exposição, sons de intensidades superiores a 85 decibéis (dB) podem causar distúrbio de dupla perversidade, pois ao mesmo tempo em que compromete nossa capacidade auditiva para sons ambientais, “pode causar ainda um sintoma contínuo e muito incômodo: o zumbido, que consequentemente também causa a perda auditiva transitória ou permanente”, advertiu o médico Otávio Marambaia, especialista em otorrinolaringologia.
Especialistas recomendam que a permanência em ambiente com atividade sonora de 85 decibéis de intensidade, sem a proteção adequada, não pode ultrapassar 8 horas por dia. Esse tempo cai para 4 horas em lugares com 90 decibéis; 2 horas em locais com 95; e 1 hora, onde a intensidade chega a 100 decibéis. A reportagem Tribuna visitou como cliente, algumas boates de Salvador, onde os shows ao vivo, lotam as casas noturnas durante e nos finais de semana, e pôde constatar com o aparelho Iphone, que o barulho chegava a medir de 98 a 100 dB.
A advogada Érica Viana, foi convidada por uma amiga para comemorar o aniversário no último domingo, na Boate Zen, no Rio Vermelho, onde um show ao vivo de uma banda que toca estilo sertanejo, fazia a festa. “Quando cheguei ao local, a banda já estava tocando. Ficamos numa mesa há poucos metros do palco e não conseguíamos conversar. Outras colegas reclamavam do som alto. Não consegui ficar mais de 40 minutos. Quando cheguei em casa, senti um zumbido no ouvido e no outro dia, acordei indisposta, sentido dores de cabeça”.
Com a mesma sensação, o médico André Sampaio que também estava na boate, revelou que até os copos da mesa estremecia com a potência do som. “Eu não sabia que o local era assim. O ambiente é pequeno e ninguém podia conversar, porque o outro não ouvia. Fiquei 45 minutos e saí imaginando como os profissionais que ali faziam a festa, desde os seguranças aos garçons, sentem ao passar várias horas naquele lugar”, revelou André.
Seguranças – Os médicos destacam que o cuidado com os perigos do som deve ser ainda maior em ambientes fechados, que concentram o barulho. “Som alto das bandas tocadas em boates causa sérios danos ao ouvido, com a perda irreversível da audição.
O aconselhável é que a pessoa que ficou, vamos supor, oito horas num ambiente com muito barulho, que ele fique o mesmo tempo em um local silencioso, para amenizar os efeitos do zumbido. Já existem pesquisas mostrando que das pessoas que trabalham nos trios elétricos, 50% perdem a audição de maior ou menor grau. O que tem que ser feito é que os profissionais usem o protetor auricular, para abafar o som do ambiente, mas é notório ver nessas casas de festas, garçons e seguranças sem abafador de som”, disse o médico Otávio Marambaia.
Várias boates de Salvador, como o Zen, Madre, Armazém, Boêmia, dentre outras, estão trabalhando com excesso de som. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) exige que trabalhadores em ambientes que registram acima de 85 dB de forma contínua, durante oito horas por dia, sejam obrigados a usar protetores auriculares.
A assessoria da Superintendência de Controle e Ordenamento do Uso do Solo (Sucom) informou que o órgão faz apenas as vistorias sobre o barulho externo das boates e que as casas noturnas estão dentro das normas da lei, com revestimento acústico que abafa o incômodo sonoro à vizinhança.
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