FONTE: RICARDO BONALUME NETO, DE SÃO PAULO (www1.folha.uol.com.br).
Certas drogas não cessam de surpreender os médicos. A rapamicina surgiu para tratar micoses; depois, foi usada para prevenir a rejeição de órgãos transplantados. Agora, a substância mostra potencial para ser o primeiro tratamento contra uma doença raríssima: a progéria.
Essa moléstia devastadora faz crianças envelhecerem muito rapidamente, como se fossem, de fato, pessoas idosas. Felizmente é uma doença genética muito rara. Só foi descrita no final do século 19.
"Pacientes com progéria parecem normais no nascimento, mas começam a mostrar perda de cabelos, retardo no crescimento, osteoporose e pele enrugada e seca com um ano de idade", disse à Folha um dos coordenadores da pesquisa, Dimitri Krainc, da Escola Médica da Universidade Harvard (EUA).
A rapamicina demonstrou ser uma espécie de "lixeiro celular" ao limpar células de vítimas da doença de uma substância nociva e provocadora de envelhecimento, a proteína mutante progerina.
Ela se acumula nas células e detona funções celulares. "Estudos prévios mostraram a ação da rapamicina na limpeza de agregados de proteína e envelhecimento", disse à Folha o primeiro autor da pesquisa, Kan Cao, da Universidade de Maryland.
"O estudo em culturas de células é o primeiro passo. Nós realmente esperamos que funcione em pacientes de progéria", afirma Cao.
"É muito provável que a rapamicina tenha efeitos benéficos em pacientes com progéria. Há esforços no momento para iniciar um teste clínico com ela", diz Krainc.
A nociva progerina também se acumula em pequenas quantidades em células humanas normais com a idade, o que mostra que a pesquisa também poderá ter utilidade para retardar os males do envelhecimento.
Mas, claro, os pesquisadores não recomendam que os maníacos da juventude eterna comecem a tomar rapamicina. É uma droga imunossupressora (inibe as defesas do organismo) e pode afetar órgãos como os pulmões.
E essa não é a primeira vez que a rapamicina ganha ares de "fonte da juventude". Ela foi a estrela de um estudo na revista britânica "Nature" que mostrou, em 2009, seu potencial de aumentar a vida de camundongos.
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