FONTE: BENEDICT CAREY, DO "NEW YORK TIMES" (www1.folha.uol.com.br).

Os soldados não tinham interesse em terapias verbais ou em medicamentos que lhes davam pouco alívio.
Eles queriam experimentar uma alternativa: o MDMA, mais conhecido como ecstasy, uma droga usada em festas desde a década de 1980 capaz de induzir euforia e afeto.
A droga é proibida, mas as autoridades autorizaram um pequeno número de laboratórios a produzirem-na para fins de pesquisa.
Algumas experiências usando MDMA, LSD ou maconha também estão em andamento na Suíça, em Israel e no Reino Unido.
Escrevendo em novembro no site da revista "Journal of Psychopharmacology", Michael e Ann Mithoefer, o casal que oferece o tratamento -combinando a psicoterapia com uma dose de MDMA-, relataram que 15 de 21 pacientes que se recuperaram de estresse pós-traumático severo durante a terapia, no começo da década de 2000, apresentam hoje sintomas limitados ou praticamente nulos.
"Sinto-me culpado tanto por ter voltado vivo do Iraque quanto por agora ter a oportunidade de fazer essa terapia", disse Anthony, 25, que pediu para ter o sobrenome omitido, devido ao estigma associado ao uso da droga. "Sou uma pessoa diferente por causa dela."
O casal Mithoefer -ele é psiquiatra, ela é enfermeira- colaborou nesse estudo com pesquisadores da Universidade Médica da Carolina do Sul e com a ONG Associação Multidisciplinar para Estudos Psicodélicos.
Os pacientes desse grupo incluíam principalmente vítimas de estupro. Especialistas alertaram que o estudo era apenas preliminar e que sua aplicabilidade a traumas de guerra era inteiramente desconhecida.
Mas, dada a escassez de bons tratamentos, "há uma tremenda necessidade de estudar novos medicamentos", disse John Krystal, chefe do Departamento de Psiquiatria da Escola de Medicina de Yale.
Esse foi o primeiro teste de longo prazo com resultados animadores para o uso psiquiátrico de drogas recreativas. O casal Mithoefer irá tratar no máximo 24 veteranos com a terapia, conforme os protocolos governamentais para o teste de uma droga experimental.
Duas pessoas que passaram por essa terapia -Anthony, atualmente no estudo com os veteranos, e outra que recebeu a terapia de forma independente- disseram que o MDMA lhes permitiu sentir seu trauma e falar sobre ele sem ser dominado pelo assunto.
"Isso mudou minha perspectiva sobre a experiência inteira", disse Patrick, 46, morador de San Francisco, referindo-se ao seu trabalho nos escombro dos atentados de 11 de setembro de 2001 em Nova York.
"Às vezes eu sentia, lá no fundo, uma sensação bonita e pacífica de que eu tinha um propósito. Comecei a terapia para me identificar com aquilo e para não me sentir culpado ou triste."
A maioria descobre que seu resultado numa medição padronizada de sintomas -ansiedade geral, hiperexcitação sexual, depressão e pesadelos- cai cerca de 75%. Isso é mais do que o dobro do alívio sentido por pessoas que fazem psicoterapia sem o MDMA, disseram os pesquisadores.
Para muitos, a experiência no tratamento é emocionalmente vívida, disse Michael Mithoefer. A droga não produz um "barato", mas geralmente traz tranquilidade.
Estudos sugerem que a droga induz à liberação de um hormônio chamado oxitocina, que supostamente aumenta as sensações de confiança e afeto. A droga também parece conter a atividade numa região cerebral que é ativada durante situações de medo ou de ameaça.
Se os resultados forem duradouros, disseram os pesquisadores, é provável que o governo esteja disposto a bancar um teste mais amplo.
"É isso que queremos", disse Rick Doblin, diretor-executivo da Associação Multidisciplinar para Estudos Psicodélicos, que financiou o estudo com o MDMA.
"Após toda essa turbulência cultural, a divisão entre os militares e a comunidade psicodélica, seria realmente importante conseguirmos nos unir e usar algumas dessas drogas para ajudar as pessoas", disse Doblin.
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