FONTE: Catiane Magalhães, TRIBUNA DA BAHIA.
A relação entre mulher e consumo há muito é objeto de pesquisa entre os estudiosos, mas a psicologia explica a forte influência que as vitrines exercem sobre o público feminino. E, ao contrário do que muitos pensam, o consumo desenfreado não é um ato fútil ou uma investida para se obter status, mas um transtorno compulsivo que atinge milhares de mulheres de toda classe social e grau de escolaridade.
O médico psicoterapeuta e educador Antônio Pedreira vai além em seu diagnóstico: “É um mecanismo de defesa, que afeta mais mulheres que homem por conta da cultura do apelo à beleza”, assegura.
Segundo ele, o simples fato de adquirir algo novo agrega valor ao ego da pessoa, que, naquele momento, está enfraquecido. O próprio organismo ajuda na sensação de saciedade, liberando endorfina – substância associada ao prazer .
“O comprar é uma massagem no ego da vítima, pois ela se sente mais poderosa, mais incluída, além de ter a sensação de um orgasmo na cabeça. Por isso, age pelo impulso e, muitas vezes, compra o desnecessário, o que não vai usar. Só porque naquele momento o prazer proporcionado pela aquisição falou mais alto”, pontua.
Os argumentos descrevem com precisão o sentimento da nutricionista Verônica Teles diante das vitrines. “Eu evito ir aos shoppings centers quando estou triste, pois a vontade que dá é de sair comprando tudo para amenizar um pouco a minha dor”, disse.
Verônica conta que até hoje paga a fatura pela última extravagância cometida. “Quando fui informada sobre a minha demissão, fui direto às compras. Tinha que exorcizar um pouco e comprar roupas, sapatos, bijuterias ia me dar prazer. Na hora, eu não pensei que estaria criando mais um problema, já que estava desempregada. Pelo contrário, quando lembrei disso fiz questão de adiar o sofrimento para o final do mês, quando as contas chegassem. Naquela hora eu só pensava que para conseguir outro trabalho eu precisava está bem apresentável e feliz”, argumenta.
De acordo com o doutor Pedreira, pensamentos assim também são mecanismos alternativos de defesa, pois a pessoa precisa criar uma lógica que justifique o seu comportamento diante da situação adversa. “É o que na psicologia nós chamamos de regressão para o ego infantil, ou seja, a pessoa age como criança, de forma impulsiva, impensada”, ressalta.
O psicoterapeuta adverte, entretanto, para a segunda e mais perigosa fase do impulso: o arrependimento. “Se no ato da compra a vítima se sente aliviada, depois que cai em si, passa a se arrepender. Aí vem os medos de não poder pagar e não ter como usar”, salienta.
ANSIEDADE PODE EVOLUIR.
Esta é a grande vilã para as pessoas que sofrem com o impulso e o consumo exacerbado. Pesquisadores revelam que uma em cada quatro pessoas sofre de ansiedade, que pode evoluir para transtorno social, pânico, fóbico, estresse pós-traumático ou o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC).
Esta é a grande vilã para as pessoas que sofrem com o impulso e o consumo exacerbado. Pesquisadores revelam que uma em cada quatro pessoas sofre de ansiedade, que pode evoluir para transtorno social, pânico, fóbico, estresse pós-traumático ou o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC).
Para o doutor Pedreira, o quadro é preocupante, mas a boa notícia é que o problema tem tratamento e cura. “Não chega a ser doença, mas é um transtorno que, embora não mate, incomoda muita gente. O tratamento é à base de medicações (ansiolíticos), que tratam os sintomas de peito cheio, associado à psicoterapia que trabalha os conflitos”, comenta.
Segundo ele, na maioria dos casos a ansiedade está ligada ao medo futuro. “É o medo do que ainda está por vir. Aí a pessoa começa a fantasiar situações negativas, catastróficas de algo que pode ser imediato ou mediato ou ainda nem acontecer, ou seja, antecipa o sofrimento”, descreve.
Para esclarecer o tema, o psicoterapeuta ministra, na próxima sexta-feira (29), às 19 horas, no auditório no Crea, no Ogunjá, a palestra ‘Conhecendo as Ansiedades Nossas de Cada Dia’. A entrada é gratuita. A iniciativa faz parte de um programa desenvolvido há cinco anos pelo doutor Antônio Pedreira para tornar o problema, suas causas e soluções mais conhecidos.
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