quinta-feira, 28 de julho de 2011

POPULAÇÃO ASSUSTADA COM A VIOLÊNCIA...

FONTE: Catiane Magalhães, TRIBUNA DA BAHIA.


Uma onda de violência tem apavorado os baianos. Sequestros, homicídios, latrocínios, saidinhas bancária, assaltos, arrombamentos, furtos e roubos são praticados a qualquer hora, em toda parte da cidade. Somente no último final de semana, pelo menos 21 pessoas foram assassinadas em Salvador e Região Metropolitana, e outras duas baleadas após tentativa de assalto.


A crise na segurança pública do Brasil mata mais que a guerra no Iraque, e a quantidade de mortos aqui chega a ser quase 50 vezes mais que a registrada em confrontos diários na Faixa de Gaza.


Os números impressionam, entretanto o que tem chamado a atenção dos especialistas é a banalização do crime e dos requintes de crueldade com que eles são cometidos. Nos últimos tempos, aumentou consideravelmente o número de roubos seguido de morte ou de agressão à vítima. Pior: tudo isso parece natural aos olhos das pessoas.


“Vivemos em um tempo de inversão das regras da normalidade. Estamos em uma guerra larval, ou seja, subterrânea, camuflada. É o que eu costumo chamar de guerra civil molecular, onde cada cidadão deve se preparar para conviver com esta situação e até se familiarizar com os episódios de violência”, define o antropólogo Alberto Albergaria.


“Se acostumar com a situação é saber que vai viver isso a qualquer momento. E quem ainda não foi vítima de um assalto ou coisa parecida é só uma questão de tempo. O que temos que fazer é seguir às orientações da polícia e não reagir nem esboçar qualquer movimento que leve o criminoso a pensar que é reação, pois, naquele momento, não só a vítima está vulnerável. O criminoso sabe que ali a sua vida também não vale nada, então ele vai disposto a tudo”, explica e usa como exemplo os casos do baterista Paulo César Perrone e da advogada Ludmila Carneiro, atingidos na cabeça por assaltantes.


O secretário estadual de Segurança Pública (SSP-BA), Maurício Barbosa, afirma que intensificou as ações para coibir esses crimes, mas reconhece que os resultados requerem tempo. “Aumentamos os esforços em torno de regiões bancárias, pedindo inclusive o apoio do Batalhão e Choque e da Águia. Além disso, temos prendido muitos bandidos”, conta.


A estimativa do titular da pasta é que a violência no bairro da Pituba e no seu entorno será ‘acalmada’ a partir do próximo mês de agosto, quando deve ser instalada a base comunitária do Nordeste de Amaralina, com 360 policiais e 16 viaturas.

MUITO ALÉM DO FIM DA BANDIDAGEM.
Na opinião de Albergaria, o Estado não é capaz de resolver sozinho o problema. “Primeiro porque o Estado não tem condições nem estrutura para pacificar tudo. Depois, porque a questão da violência vai além de pôr fim à bandidagem. Não se resolve só com polícia, mas com políticas de incentivo às crianças e adolescentes à moralidade, ao trabalho honesto e decente, mas os exemplos que vêm de cima não são os melhores, o que banaliza não só o crime, mas principalmente as pessoas. Há uma profunda e perigosa mudança de comportamento, adotada pela cultura do consumismo e do individualismo selvagem, onde o importante é se dar bem”, salienta.


Segundo ele, a falta de moral e de valores somadas à impotência do Estado em solucionar o problema contribuem para o cenário, o qual ele acredita que só tende a piorar. “As pessoas estão se dando conta agora de que a rua está se tornando cada vez mais um lugar inóspito. Eu descobrir há mais de dez anos que, em termo de crime, a Bahia é o futuro Rio de Janeiro”, compara.


“Todos sabem que vivemos um momento de degradação social. A segurança pública é algo complexo e passa pela educação de jovens. Parece um discurso da boca para fora, mas não é. Os jovens não querem mais trabalhar. Preferem entrar no mundo do tráfico para comprar um tênis, por exemplo”, argumenta Barbosa, confiante que o Pacto Pela Vida – programa lançado pelo governo estadual no início de junho –, possa reverter o quadro.


A taxa de homicídios em Salvador é de 61 por cada 100 mil habitantes. A estatística é cinco vezes maior do que a ONU estabelece como suportável para as grandes cidades.


O antropólogo define a situação como uma loteria invertida. “Como se tem loteria para o bem, se tem para o mal. Hoje sair de casa é um risco. Por isso, as pessoas se prendem nas grades dos seus condomínios e os bandidos vivem livres nas ruas”, pontua.

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