quarta-feira, 21 de março de 2012

CELULAR x VOLANTE...


FONTE: Carlos Vianna Junior REPÓRTER, TRIBUNA DA BAHIA.


Apesar de previsível, comprovar que acidentes tiveram como causa o uso de celular ao volante não é nada fácil, mas especialistas garantem que o número de vítimas, inclusive fatais, vem aumentando. Em 2011, na capital baiana, segundo dados da Transalvador, foram 19.621 autuações geradas por flagrantes de motoristas com celular ao volante, número que poderia triplicar se não fosse a dificuldade que os agentes de trânsito têm em flagrar o delito.

Segundo o diretor de trânsito da Transalvador, Renato Araújo, mesmo sabendo que o número de infratores é maior do que foi computado, a quantidade registrada no ano passado já é alarmante. “Quase 20 mil; é a frota de carros de uma cidade de porte médio no interior”, destacou.

A dificuldade de flagrar todos os infratores, entre outros motivos, pode ser explicada pela orientação passada aos agentes de trânsito, de autuarem somente quando não houver dúvidas sobre a infração, o que nem sempre é possível.

“Hoje em dia, muitas pessoas, seja pela sensação de insegurança ou pelo uso do ar-condicionado, dirigem com os vidros fechados, dificultando a visibilidade dos agentes, que fica mais comprometida ainda com as películas de proteção solar que tornam os vidros escuros”, explica Araújo.

A prova de que o número de infrações poderia ser muito maior, segundo Aragão, pode ser demonstrada no fato de que nos meses menos quentes, principalmente maio, junho e julho, quando os soteropolitanos abrem mais as janelas de seus carros, a quantidade de multas cresce sensivelmente.

O problema da realidade escondida pelos vidros escuros é que muitos dos acidentes têm o uso do celular ao volante como causa, apesar da dificuldade de comprová-lo. “Quando ocorre o acidente, a primeira atitude do condutor que estava falando ao celular é desligá-lo para não deixar prova de seu ato ilícito”, explica.

Contudo, há acidentes em que a prova do delito surge de uma ironia do destino. No Canadá, a jovem Emy Brochu, em janeiro deste ano, foi a vítima fatal da colisão entre seu carro e um trator, logo após ela enviar uma mensagem de texto para seu namorado em que dizia amá-lo e estar disposta a fazer tudo para vê-lo feliz. O namorado, apesar do choque, usou a última mensagem da namorada para alertar motoristas de todo mundo.

Por ser um problema global, vale acrescentar que a necessidade de provar o impacto que o uso do celular ao volante causa no trânsito tem gerado pesquisas mundo afora. Uma delas, realizada nos Estados Unidos, revela números impressionantes.

Segundo os dados coletados pelo Centro de Saúde da Universidade do Norte do Texas, expostos na revista American Journal of Public Health, entre 2001 e 2007, o uso do celular ao volante foi a causa de 16 mil mortes nas estradas americanas.

FALTA EDUCAÇÃO E PENALIDADES.

Falta de educação e penalidades que não correspondem à gravidade da infração são causas do grande número de infrações. Essa é a opinião da especialista em trânsito Cristina Aragon.

“Fui à Suíça e me surpreendi com o fato de que o uso do celular ao volante não era proibido, mas errado. As pessoas respeitavam e por isso não era necessário a penalidade. No Brasil, os condutores estão longe de ter uma consciência tão clara sobre o perigo, por isso se faz necessário endurecer a lei até como forma de educar”, disse.

O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) prevê quatro pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e multa de cerca de R$ 85,00. É considerada uma infração de média gravidade e está listada num rol em que consta, por exemplo, atirar ou abandonar objetos ou substância na via.

“É uma ação irresponsável em que se coloca não só a vida do infrator em perigo, mas também a de pessoas inocentes. Por isso, deveria ser uma infração de natureza grave.”, pondera Aragon.

O diretor de transporte da Transalvador, Renato Araújo, concorda com Aragon no que diz respeito à penalidade. “Tanto a quantidade dos pontos quanto o valor pago é muito pouco. É uma infração que deveria causar impacto no bolso de quem a comete. Deveria se cobrar minimamente R$ 200,00”, opina.

Araújo explica ainda que, além de muito brandas, as punições são facilmente evitadas pelos infratores. “Para não ter os pontos diminuídos na carteira, muitos encontram outras pessoas para assumir a culpa e saírem ilesos, já o pagamento da multa pode ser contestado e há até quem negue ter celular”, conta.

Cristiane Aragon acrescenta que as multas pagas antes do vencimento têm um desconto de 20%, o que reduz o valor para menos de R$ 70,00.

No que diz respeito à falta de educação, Araújo não segue a linha de pensamento de Cristina Aragon. “Os infratores são também pessoas de alto nível de instrução, inclusive professores. O que falta é uma compreensão de que se pode viver sem o celular por alguns instantes, o que depende de uma certa disciplina; ou liga antes de sair

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