sexta-feira, 2 de março de 2012

A INFIDELIDADE É CULTURAL?...

FONTE: Noemi Flores REPÓRTER, TRIBUNA DA BAHIA.


Tem pessoas que não conseguem deixar de trair seus parceiros, mesmo com um relacionamento sólido, sempre estão a fim de romances passageiros. Especialistas afirmam que quando há um descontrole e que a pessoa não seleciona o parceiro, dando vazão ao seu desejo sexual, sem se importar com a identidade de quem está se relacionando naquele momento. Neste caso, é patológico, trata-se de compulsão sexual.

Já a infidelidade desenfreada, da parte dos homens está ligada à cultura machista que aprova a “pulada de cerca” do homem, e este por sua vez, adora ser taxado de conquistador. Da parte das mulheres se dá porque, mesmo com um relacionamento sólido, vão em busca de algo novo, de aventura.

A psicanalista Jane Cohim, médica psiquiatra do Centro de Estudos e Terapia de Abuso de Drogas (Cetad), enfatiza que quando há descontrole “pode ser patológico, tratar-se de ninfomania e compulsão sexual. É para se pensar em um tratamento psiquiátrico porque esta compulsão é a mesma de pessoas que têm vontade excessiva de roubar, de comprar e de comer”, explicou.

Cohim destaca que nestes casos é importante o tratamento para a cura porque a pessoa corre riscos, já que quando tem a compulsão fica vulnerável a vários acontecimentos, uma vez que quando sente a vontade de sexo realiza com qualquer pessoa que esteja disponível, muitas vezes não se previne contra as doenças sexualmente transmissíveis e o fato pode acontecer em locais em que esteja correndo risco de vida.

A especialista chama a atenção para os casos de infidelidade em que não há descontrole, mas que ocorre de forma assídua, neste caso denomina “infidelidade desenfreada, mesmo com um relacionamento sólido, mas a busca pelo novo atrai a pessoa. Os homens, geralmente, são chamados de Don Juan, sempre em busca de conquistas e as mulheres vão em busca de aventura diante de uma relação sólida, mas monótona”, argumenta.

Para a psicanalista esta atitude mostra que estas pessoas não estão bem na relação. “Estão dentro da contemporaneidade, nunca satisfeitas com o casamento.Mas a satisfação maior é o poder, a sedução. Como se estivesse que exercer este poder de sedução sempre, uma forma de satisfação. Neste caso, seria interessante uma análise com um psicanalista para saber o que está atrás disto”, aconselha.

O pedido de separação do cônjuge pode ser um sinal para que a pessoa repense o relacionamento. “Considera que vai perder alguém importante se reposiciona, pensa melhor e consulta um psicanalista, que pode ser procurado tanto para quem faz isto, como para quem está com esta pessoa”, concluiu.

MACHISMO E AVENTURA – O antropólogo Roberto Albergaria, doutor pela Universidade de Paris III, disse que a própria ideia de descontrole já pode ser encarada como algo doentio. A compulsão sexual “é quando a pessoa não consegue se satisfazer com uma cota normal de sexo, tendo que recorrer a vários parceiros, até mesmo no mesmo dia”. Ele citou o caso de algumas estrelas de cinema como o ator Michael Douglas, que há alguns anos foi divulgado na imprensa que sofria da doença,

No entanto, Albergaria afirma que existe a traição excessiva tanto da parte dos homens como das mulheres e que pesquisas de campo apontam que as mulheres traem quase tanto quanto os homens. Para o antropólogo existem os seguintes motivos da traição excessiva dos dois sexos.

“Os homens por causa do machismo, patriarcalismo e se vangloriam porque para o homem tanto mais honrado será se maior número de mulheres conseguir conquistar. Por exemplo, para o homem é importante ter a federal, estadual e municipal, quanto mais mulheres, mais respeito terá. Trata-se da busca do máximo de conquista feminina, pois para sua satisfação vai ser taxado como garanhão”.

O antropólogo assinala que no caso da mulher “é uma busca de aventura devido à relação monótona. A mulher quer ser mãe e mulher, para ela o mais importante é a casa, já o homem é a rua. Então quando casa escolhe o homem bonzinho que vai cuidar dos filhos, mas não saem para se divertir. E quando trai está buscando o outro lado da vida, e também o lado mulher que está nulo e busca aventura, às vezes em uma viagem, em um carnaval acontece a traição”, afirmou.

QUEM TRAI MAIS?

Pesquisa feita pela antropóloga, pesquisadora e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Mirian Goldenberg, autora de vários livros e artigos sobre relacionamento, dentre estes “Por Que Homens e Mulheres Traem?”, demonstra que indivíduos das classes médias do Rio de Janeiro, 60% dos homens e 47% das mulheres afirmam já terem traído seus parceiros.

E sobre o assunto a autora escreve, em um artigo em seu site www.mirian goldenberg.com.br/, que “na questão da infidelidade, ainda existe um privilégio masculino. O homem é o único que se percebe e é percebido como sujeito da traição. A mulher, até mesmo quando trai, assume a posição de vítima.. Apesar de estarem quase empatados, eles e elas apresentam motivos bem diferentes para trair”, afirma.

Goldenberg acrescenta que homens dizem que amam e desejam as esposas, mas não resistem ao instinto, à aventura, atração, vontade, oportunidade, vocação. Já as mulheres dizem que traíram por insatisfação com o parceiro, autoestima baixa, vingança ao ter sido traída, por não se sentir mais desejada pelo marido ou por falta de atenção, conversa, carinho, romance, intimidade.

“Homens se justificam por meio de uma suposta natureza propensa à infidelidade. Mulheres dizem que seus parceiros, com suas inúmeras faltas, são os verdadeiros responsáveis por suas traições.


Portanto, a culpa é sempre do homem, seja por sua natureza incontrolável que o impele a ser infiel, seja por seus defeitos que causam a infidelidade feminina.


Há um paradoxo nesse universo da traição: as pessoas traem, mas consideram a fidelidade o principal valor para um casamento feliz, como mostram os resultados das últimas pesquisas”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário