FONTE: Lucy Andrade, TRIBUNA DA BAHIA.
Os recentes casos de erros médicos têm deixado a população descrente e em alerta. O número de denúncias cresce na Bahia.
Em 2011, foram registradas pelo Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia - Cremeb, 830 acusações. No ano anterior, 540 pessoas apresentaram queixas contra os profissionais de saúde, junto ao Cremeb. Os dados representam um aumento de 53,7% em um ano. Além destes, há as denúncias feitas no Tribunal de Justiça, que não informou o número de processos.
“Os acontecimentos chocam, pense um menino morreu por causa de uma lavagem estomacal. Aplicam café com leite na veia. Não confio mais, como antigamente. Eu agora sempre pergunto o nome do medicamento e o que está fazendo. Fico ligada”, reclamou a esteticista Rita Guedes Santana.
Para o presidente do Sindicato dos Médicos do Estado da Bahia (Sindimed), Francisco Magalhães, casos de denúncias contra médicos devem haver antes ampla apuração do ocorrido e que condições adversas podem decorrer em falhas. “O termo ideal para ser utilizado seria a má prática de médicos. Muitas vezes, as falhas decorrem de outras condições. Por exemplo, as superlotações em hospitais, as más condições e o excesso de trabalho podem ser uma das principais causas da má prática da profissão. A medicina é uma profissão de riscos”, afirma Magalhães.
Várias são as justificativas para a frequência de casos de pessoas lesadas por erros médicos, como a situação precária do serviço de saúde pública prestado no Brasil, à proliferação de faculdades de medicina no País, condições precárias de trabalho (em hospitais e clinicas). Associados à falta de atenção e paciência para realizar o procedimento.
No ano passado, no total de julgamentos realizados pelo Cremeb, 21 profissionais médicos tiveram penalidades públicas – com 18 censuras e três suspensões. Em 2011, houve três vezes mais penalidades públicas que em 2010, quando ocorreram três censuras, três suspensões e uma acusação.
De acordo o corregedor do Cremeb, Conselheiro Marco Antônio Cardoso de Almeida, algumas atitudes simples podem evitar erros, como elaborar um prontuário com letra legível, relatando todos os procedimentos já realizados, como medicações, manter uma boa relação médico-paciente.
“O médico que recebe uma pena tem um desgaste pessoal e profissional grande, principalmente, se a pena máxima (a perda do registro) for aplicada. Recebemos denúncias de todos os tipos. Então, quando a relação médico paciente não é a melhor possível, pode ocorrer a denúncia e algumas podem ser evitadas com atitudes simples”, pontuou
O corregedor também ressaltou que a entrada diária de denúncias se deve à maior participação e conhecimento do cidadão em buscar seus direitos. “Não quer dizer que os médicos estão errando mais, e sim que há mais conhecimento da população sobre como agir em situações que possam representar algum descuido do médico”, justificou Marco Cardoso.
Só se caracteriza o erro médico após a sua devida comprovação no processo ético-profissional, com amplo direito de defesa e do contraditório. Há casos de erro médico e caso de fortuito, quando a situação é imprevisível e não se reverte em culpa se o médico tomou todas as precauções necessárias e indispensáveis quando do atendimento.
Em Salvador, recentemente um bebê de 11 meses morreu após lavagem estomacal realizada por uma enfermeira, em um Posto de Saúde em Vilas de Abrantes, em Camaçari. A criança foi submetida ao procedimento porque comeu pedaços de carne com veneno de rato. O caso ainda está sendo investigado.
A camareira Iranede do Amor Divino, 41 anos, moradora de Jacobina, a 330 quilômetros de Salvador, conviveu 15 anos com material cirúrgico deixado dentro do seu abdômen durante uma operação realizada em um hospital público na capital baiana. Há também casos como o do porteiro paulista, Valdomiro dos Santos, que se internou para cirurgia no tendão do tornozelo esquerdo e teve a perna direita operada.
Repercussão nacional.
Casos recentes de erros em procedimentos adotados em unidades de saúde chocaram o país. A Justiça do Rio de Janeiro deu prazo até hoje para que a Santa Casa de Misericórdia de Barra Mansa, na Região Sul Fluminense, disponibilize os documentos da paciente Ilda Vitor Maciel, de 88 anos, que morreu na unidade após receber sopa na veia. Após a análise das informações, a fiscalização do Conselho Regional de Enfermagem do Rio de Janeiro emitirá um relatório. O Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) abriu sindicância no dia 10 de outubro para apurar as causas da morte da idosa.
Um caso semelhante aconteceu no dia 14 de outubro, segundo informações do G1. A idosa Palmerina Pires Ribeiro, de 80 anos, morreu após receber café com leite na veia no PAM de São João de Meriti, na Baixada Fluminense. O procedimento foi feito pela estagiária de enfermagem Rejane Moreira Telles, de 23 anos. De acordo com o delegado da 64ª DP (Vilar dos Telles), Alexandre Ziehe, a estudante estava há apenas três dias no estágio.
Pode-se citar ainda casos como o do recém-nascido do Rio de Janeiro que sofreu afundamento do crânio, edema cerebral e hemorragia causados pelo mau-uso no fórceps (instrumento usado para auxiliar no parto). Em 2009, a vendedora Rosely Viviani, de 48 anos, do interior do estado de São Paulo entrou num hospital filantrópico da capital paulista para fazer um exame gastrointestinal, mas saiu de lá sem parte do braço, depois de tomar uma injeção no pulso direito.
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