quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O BURRO E OS JEGUES. VIOLÊNCIA E INJUSTÇA COM DADO...

FONTE: Jolivaldo Freitas, TRIBUNA DA BAHIA.
Pensei em criar um cartaz e sair na Lavagem do Bonfim, protestando contra quem tirou os jegues do cortejo: “Um burro tirou os jegues da festa”. Outro cartaz: “Jegue nasceu para sofrer.
Quando tem festa e ganha roupa e não é convidado”.
Falar em burro, que negócio triste esta coisa da Secretaria de Segurança Pública acabar com a violência na Bahia escondendo índices de homicídios, furtos, roubos, latrocínios e o ladrão de galinha que roubou meu curió. É burrice, pois o boca a boca coloca a coisa numa perspectiva muito pior. Se for para tranquilizar a população, o tiro (desculpe a violência) foi no pé.
Ainda por falar em burro, fiz até retratação aqui neste espaço na semana passada, da injustiça que cometi com Dado Brazaville, quando disse que ninguém o conhecia como cantor, quando da minha defesa dos direitos dos notórios Laurinha, Caldas, Casanova e outros que ficaram de fora do Carnaval. Realmente não conheço o artista, mas tem quem o conheça e encheram minha caixa de emails. Dado se retou e me enviou – com tudo que tem direito – a seguinte missiva: “Sr Jornalista.
Gostaria de começar chamando-lhe de “AMIGO”, porém não posso chamar de amigo alguém que julga a minha história sem o devido conhecimento da forma que o senhor o fez, colocando em dúvida a lisura da minha contratação, que é feita desde a década de 90 após minha saída do bloco Araketu para a carreira solo.
Reconheço e aprovo o seu trabalho quando o Sr escreve em defesa dos vários colegas que ficaram de fora do carnaval, porque conheço todos, e eles me conhecem também, conheço toda história de cada um deles.
Gostaria de lhe dar bom-dia, mas como posso dar bom-dia a alguém que me causa um dano? Sendo jornalista, o senhor sabe que não está acima da lei, e cabe ao acusador o ônus da prova quando o senhor diz que a minha contratação e a dos demais é um MISTÉRIO.
Não tenho procuração para defender ninguém, mas sei muito bem buscar meus direitos, afinal, sou um cidadão, sou um dos grandes colaboradores desta chamada música baiana desde os primórdios, quando éramos chamados de pretos da periferia com uma música de baixa qualidade.
Nunca esqueça que artista como eu difunde esta musicalidade desde o princípio e participamos da evolução de cada movimento desses que emergiu do gueto. Hoje a música da Bahia sustenta vários segmentos profissionais, porém tem pessoas que sujam o prato que comem esquecendo do começo quando cantávamos, tocávamos pelo puro e simples prazer de difundir a nossa cultura.
Não lhe conheço, não leio o seu jornal, mas fui informado por amigos e pessoas que leram ou souberam e ficaram indignados sugerindo a mim uma posição jurídica contra o senhor e a seu jornal, que com suas próprias palavras diz que foi ignorância, que é um sacana, mas a sacanagem foi cometida contra minha pessoa, e se retrata de forma sutil dentro de uma outra matéria, que não amenizou 10% do estrago feito a mim quando vinculada a primeira notícia.
Agora eu lhe pergunto: como o senhor se sentiria se fosse um jovem negro, nascido na periferia, sem o privilégio de uma estrutura que lhe oferecesse um meio sócio econômico que lhe desse a certeza de um futuro promissor, e esse jovem aos 15 anos começa uma carreira que o dignifica e trazendo a ele, a família e os amigos o orgulho do sentido da Honestidade, Dignidade, Perseverança e Caráter, começando num Afoxé Bombochê, visto pela empresária Vera Lacerda que reconhecendo seu talento o convidou de cara para ser um dos cantores do Araketu e que no ano seguinte já estava assumindo a responsabilidade como cantor oficial do bloco, tendo o privilégio de cantar em blocos e com cantores como Alcione, Gilberto Gil, Caetano Veloso no Cortejo Afro, Carlinhos Brown, Daniela Mercury, nos Timbaleiros a convite de Brown, Jauperi a meu convite em um show meu no projeto Pelourinho Dia e Noite, Luiz Caldas também a meu convite, Gerônimo, Tonho Matéria, Beto Jamaica, Margarete Menezes, Lazzo Matumbi, Ninha, Flavinho, Carlinhos Cor das Águas, Marcionilio, Virgilio dentre outros grandes cantores da nossa Bahia. Segue em anexo um documento de recebimento dos meus materiais solicitados pelo conselho Municipal do Carnaval para avaliação, como já faço há muitos anos.
Como o Senhor vê, onde me encaixo na sua matéria? O que o Senhor faria se estivesse no meu lugar?
O que foi feito pelo Senhor não é liberdade de expressão, isto é difamação com danos morais.
Sugiro consultar seu advogado pra que ele lhe oriente, pois já estou conversando com o meu.
Mesmo assim aguardarei uma posição do Sr no sentido de aplacar todo esse mal entendido.”
Eu respondi ao Dado, com a maior contrição:
“Oi. Já reconheci o erro por não te conhecer e nem ao seu trabalho, e escrevi a respeito.
Só me resta agora te pedir desculpas, chamar-te de amigo, desejar uma boa noite, um excelente Carnaval e preparar o advogado”.
Eu não queria magoar o Brazaville.
Mas, Carnaval é coisa do Diabo, já disse Caetano.

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