FONTE: Jolivaldo Freitas, TRIBUNA DA BAHIA.
Não gosto mais de Carnaval. Gostava mesmo era de galinhar na avenida. Ir atrás do trio dava muito trabalho: ter de vencer a imensa barreira humana que se forma aos lados, levar cotovelada e pisão, sem falar no futum que emana de tudo que é sovaco e ainda tem aquele bêbado que coloca o braço em seu ombro e quer sair pulando como se fosse seu amigo de infância.
Todo ano, quando o Carnaval vai se aproximando, temos uma fofoca. E quando o Carnaval termina vem aquela velha guerra entre os trios e blocos - que não pagam os impostos para o prefeito -, que sonegam e fica por isso mesmo e ainda passam a dever aos cordeiros, que saem em passeata, mas como não tem corda para nortear, terminam se perdendo no caminho.
Antes da festa, no entanto, é um eterno sofrimento para os músicos e outros artistas que fizeram o Carnaval ser como o é hoje na Bahia (coisa para turista ver e nativo se escafeder), em busca de um lugarzinho ao sol. Agora mesmo a confusão está formada. Já saiu no Diário Oficial do Município a relação de quem vai receber uns caraminguás para tocar nos circuitos (se é que dá para classificar de circuito Paripe, Cajazeiras e outras plagas), digamos, chapa branca.
Nomes importantes para o Carnaval baiano, a exemplo da notória Laurinha, inventora da “Pipoca” e de Luiz Caldas, inventor da Axé, ficaram de fora e entraram artistas que nunca ouvi (nem meus amigos músicos ou pipocas já tinham escutado falar) em lugar nenhum. Os critérios começam a ser postos em dúvidas e pelo que me foi informado, já está nas mãos do Ministério Público uma queixa formalizada pelos artistas que foram preteridos.
Dizem que tem até um caso de uma cantora que não pleiteou nada, mas foi beneficiada, por ingerência de um importante amigo e que levou um susto ao saber que iria cantar no Carnaval baiano – ela que está fora da cidade – e ainda ganhar um capilé. Só faltou dizer que odeia Carnaval, mas que se é assim, vem mesmo, canta e faz uma poupança.
Alguns dos que ficaram de fora foram Edu Casanova e Simone Moreno. Sequer foram cogitados, embora tenham feito tudo direitinho como mandava o edital. Então lembrei de velhos carnavais, nem tão velhos assim, onde só quem não brincava eram os gatos que se escondiam nos buracos, telhados e becos, pois se dessem bobeira viravam pandeiro e tamborim. Bastava vestir qualquer coisa, até a calçola velha de uma tia, e estava fantasiado. Não havia cantor de Carnaval.
Os trios saíam na base do pau elétrico de Osmar, bandolim, violão ou guitarra baiana que veio depois; muito surdo e marcação e os mais equipados tinham até trombone e pistão.
Quem inventou o negócio de cantar em cima do trio foi mesmo Luiz Caldas. Quem cunhou o termo que mais simboliza o folião que é alijado dos blocos por falta de dinheiro ou mesmo pela estética e não desistem, pulando do lado da corda ou lado dos trios, soltos, seguindo como se fossem peixes-pilotos foi Laurinha. E agora os dois estão de fora. Carnaval na Bahia é mesmo coisa do diabo. Tô fora. Me inclua fora. Me deixe, viu? E cadê Lula Bocão? E Viviane Trípodi? E Sarajane? Quede Chocolate da Bahia?
Você já ouviu falar em Crighor ou Dado Brasaville? Nem eu. Mas estão relacionados para o Carnaval oficial. “Mistério”, como diria aquela senhora da novela.
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