O ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República, Antonio Palocci, ganhou muito bem depois de deixar o cargo de ministro da Fazenda do governo Lula. Ganhou bem como deputado federal e melhor ainda como dono da empresa de consultoria Projeto, por ele criada.
A empresa faturou especialmente bem – R$ 10 milhões – no curto período em que ele coordenou, embora sem nomeação publicada no Diário Oficial para a função, mas com todos os poderes e meios que foram considerados adequados – a equipe de transição do governo Lula para o governo Dilma Rousseff, com futuro poderoso garantido e conhecido.
Mas depois que o jornal Folha de S. Paulo publicou reportagem, demonstrando que, durante quatro anos de deputado federal e dono da Projeto, multiplicou por 20 seu patrimônio, o ministro passou a perder. Em um esforço grande para evitar que sua situação se torne insustentável, o governo e o comando do PT, ex-presidente Lula à frente, têm feito tudo para “blindá-lo”.
O problema é que, como já assinalei neste espaço, estão surgindo furos na blindagem. E à medida que o tempo passa, como o patrimônio do blindado, os furos da blindagem rapidamente se multiplicam.
O procurador geral da República, Roberto Gurgel, depois de alguma resistência, acabou pedindo explicações ao ministro sobre o aumento do seu patrimônio e os negócios de consultoria da Projeto. Com as explicações, Gurgel vai decidir o que fazer. Está numa delicada situação ética, visto que seu mandato está próximo do fim e a presidente Dilma pode indicá-lo para permanecer no cargo mais um mandato – ou não.
Já a representação do Ministério Público Federal no Distrito Federal abriu uma investigação civil formal sobre os negócios da Projeto, a empresa de Palocci. Esta iniciativa do MPF no Distrito Federal é um rombo notável na blindagem.Outro rombo aconteceu ontem.
Depois que o comando parlamentar do governo fizera o que de normal e de esquisito o que podia, foram abortadas várias tentativas de convocar o ministro para falar em comissões técnicas da Câmara e do Senado.
Também a cúpula do governo, do PMDB, do PT e o próprio ex-presidente Lula conseguiram evitar que os “rebeldes” do PMDB no Senado criassem o risco de criação de uma CPI do Palocci na Casa. Dos sete rebeldes, só dois assinaram, por enquanto, o requerimento – Jarbas Vasconcelos e Roberto Requião.Aí veio a patuscada de ontem.
A oposição conseguiu convocar a Comissão de Agricultura da Câmara e realizar reunião, da qual petistas souberam, mas se mantiveram ausentes (numa atitude considerada cooperativa, para infernizar Palocci). E nesta reunião ficou decidida a convocação do ministro-chefe da Casa Civil para explicar na comissão a evolução do seu patrimônio.
Mas... Mas o presidente da Câmara, Marco Maia, do PT, decidiu que seria ele a decidir se a convocação decidida pela comissão tem validade ou não. O comando parlamentar governista na Câmara alega que a convocação foi um golpe da oposição.
Alega-se qualquer coisa.E, enquanto isso, a quebra do sigilo do caseiro Francenildo ronda, como um fantasma, a blindagem ministerial em busca de uma fresta pela qual possa infiltrar-se no caso. Paulo Nogueira, ex-diretor de revistas das Organizações Globo, escreveu dois artigos. No primeiro, publicado no dia 17 e que comentei neste espaço, tornou-se a primeira pessoa que estava dentro das Organizações Globo a afirmar que foi o ministro Palocci que “fez chegar” (à alta direção do grupo) as informações sobre a poupança de Francenildo Costa, que teve seu sigilo quebrado na Caixa Econômica Federal.
No segundo, publicado ontem, estranha a quase nula reação da mídia tradicional à revelação que ele fez. Aliás, a CEF praticamente confirma, alegando, em recurso de sentença de primeira instância que a condenou a pagar R$ 500 mil ao caseiro Francenildo por danos morais, que apenas transferiu o sigilo ao gabinete do ministro da Fazenda (Palocci), ao qual a CEF era subordinada, e que a quebra do sigilo ocorreu a partir do gabinete. É voz geral no meio político que as informações sobre a caderneta de Francenildo chegaram à direção das Organizações Globo por intermédio da Assessoria de Comunicação do Ministério da Fazenda.
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