quinta-feira, 16 de junho de 2011

RETEI! VOU PARALISAR A CIDADE. VAI ENCARAR?...

FONTE: Jolivaldo Freitas, TRIBUNA DA BAHIA.


Decidi e pronto! Não saiam de casa amanhã ou depois. Se queres sair de carro, melhor esquecer na garagem. Se pensas em pegar ônibus, tenha paciência e ligue para o patrão dizendo que vai demorar e é capaz até de você não aparecer. É que vou paralisar esta cidade. Sei todos os caminhos, todos os truques e as manhas. “Já conheço as pedras desta estrada”.


Então você me pergunta qual o motivo da minha decisão raivosa, pois sabemos que enfrentar um movimento nas ruas e avenidas é mais estressante que ante-véspera de visita ao dentista ou levar dedada lá no lugar onde não se pode dizer o nome para não enrubescer as senhoras, moçoilas e senhores pudicos que caem na tentação de, vez em quando ou quando em vez, visitar este espaço perdido entre tantas notícias.


Conto então a motivação de ato tão destemperado ou desesperado. Lá na minha rua está faltando limpeza e sobrando buraco. Não tem luz e grassa ladrão. Temos carência de silêncio e sacizeiros vêm aos borbotões. E quem passa para a mija. Já escrevi para as autoridades políticas, administrativas, eclesiásticas e policiais. Já passei email para os secretários e mandei sinais de fumaça para o bispo.


Ressoei os tambores para as ialorixás e babalorixás. Rezei trezena para Santo Antonio e acendi fogueira antecipadamente para São Pedro e São João e até agora nada de solução. Tomei a atitude de, nos próximos dias ou próximas horas – pode ficar atento às Tvs, sites e jornais e no Orkut e Facebook – reunir meus amigos e moradores e vamos fechar a rua e chamar a atenção de toda a cidade. Já temos até um “Manual Feito à Mão e Manufaturado de Como Travar a Cidade” (e, claro que aprendemos com as Ongs, sindicatos – principalmente dos motoristas -, MST, MLT, associações de moradores, etc.).


Os principais pontos da publicação, orientando como proceder:


1 – Para fechar uma rua não precisa multidão. Meia dúzia de gente sadia que possa recolher pneus, lixo e galhos, basta. Amontoa tudo e tasca fogo. Motorista e imprensa não podem ver fumaça que ficam doidos;


2 – Para parar o trânsito usa-se o já consagrado “esporão” de aço para furar pneus;


3 – Se o motorista avançar nada como uma boa saraivada de pedras. Portuguesas, de preferência;


4 – Para fechar uma avenida maior, aí, sim, é preciso mais gente, o que não significa que possa ser morador formando o pelotão, apenas. Podem ser arregimentados a módico oferecimento de sanduíche e refresco de quisuco, vagabundos e curiosos. Se fizer o chamamento pela internet é sucesso garantido.


Reunido, o grupo se posiciona às 18 horas na Paralela ou Iguatemi ou avenida Bonocô, faz um apitaço e para tudo. Depois é só dar entrevista e esculhambar todo mundo.


5 – Agora o mais radical. Se nada disso resolver, partimos para a porrada. Claro que mandaremos na frente a massa de manobra.


6 – Se o motorista de automóvel, ou passageiros de ônibus virem a se queixar daremos uma banana de mão.O manual é simples e objetivo e lembrar até o “Manual de Guerrilha Urbana”, distribuído pela esquerda no meio do século passado, que de tão simplório não deu certo.


Meu medo é que, como tem acontecido, de tanto ver a cidade parar todos os dias, o soteropolitano nem ligue. Nem thum! Somente nestes seis meses de ano já vi passeata dos mais variáveis níveis e motivos.


Teve passeata de hemofílicos, de cadeirantes, de maconheiros, de gays, de mulheres de policiais, de mulheres de bandidos (os meliantes não apareceram por estarem tecnicamente impedidos, claro, nos presídios), dos manjados rodoviários, dos indefectíveis sem-terra e sem casa, de cães abandonados, de cordeiros, de diabéticos, de estudantes, de salvavidas, de professores, de malucos (isso mesmo, os doidos de pedra) e até de viúvas da Previdência Social.


Só falta mesmo passeata ou manifestação de cornos, mocréias, socialites, desembargadores e dos políticos da oposição na Assembleia Legislativa e outros carentes. Soube até que vai ter passeata, nos próximos dias, de pessoas que não podem (têm intolerância) tomar leite. Pode? Pode.


O negócio é chamar a atenção para seu problema pessoal torrando o saco da cidade toda. E isto eu sei fazer bem.


Também estou pensando em fazer um novo protesto sob o tema “Não posso ficar sem mulher pra lavar, passar, cozinhar, coçar minhas costas, cuidar do reumatismo e catar piolho” e sair pelas ruas pedindo ajuda e contando com a boa vontade das gatinhas (até 25 anos de idade, lógico).


Aguarde-me Salvador. Me esperem Vasco da Gama, Rio Vermelho, Paralela, Iguatemi e Bonocô.

Nenhum comentário:

Postar um comentário