sexta-feira, 22 de julho de 2011

CONSUMO DO CRACK CRESCE ENTRE A CLASSE MÉDIA...

FONTE: Cristiane Felix, TRIBUNA DA BAHIA.


Para muito além das vielas do Centro Histórico de Salvador – que apesar de ainda levar a fama de reduto da droga, já não é o único lugar a abrigar seus usuários – o crack deixou de ser consumido apenas por moradores de rua e pessoas de baixa renda.


Seguindo uma tendência nacional, a droga deixa de ser marginalizada e quase exclusiva entre pessoas de renda mais baixa e passa a migrar das ruas para os lares de famílias mais endinheiradas, criando um perfil de usuários cada vez mais jovens e abastados.


Apesar da falta de pesquisas estaduais que deem um panorama sobre o problema na Bahia, essa realidade é observada nas clínicas particulares de reabilitação.


A diretora da clínica Rosa dos Ventos, Helena Cidreira, explica que a presença de número de pessoas de classe A e B tem crescido muito na unidade.


“O número de casos tem aumentado consideravelmente. Observamos que o uso de crack agora é comum entre pessoas com formação superior, bem instruídas, empresários, intelectuais e, na maioria das vezes, com família estruturada e carinhosa. Nesses casos, o tratamento acaba sendo mais difícil porque a família, muitas vezes não reconhece que aquilo não é uma fase, um momento difícil, e sim uma dependência química, que necessita de tratamento especializado”, explicou a diretora.


A diretora relatou que, entre os seus ‘hóspedes’ como são chamados os pacientes da clínica, já contou, entre outras profissões, com empresários e até professores que buscaram o local para tratamento de dependência. “Já tivemos aqui uma empresária, com filhos, inclusive, que ficou desaparecida por alguns dias da família e foi encontrada rondando o Centro Histórico.


Também um professor de história, dependente de crack, que durante o tempo em que permaneceu aqui dava aulas para outros pacientes e para os funcionários”, contou.De acordo com um levantamento realizado há dois anos pela Associação Brasileira do Estudo do Álcool e Outras Drogas, 40% dos dependentes da droga no Brasil são da classe média. Uma pesquisa da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, revelou que de 2006 a 2008 o número de usuários de crack que possuem renda acima de 20 salários mínimos cresceu 139,5% e esses usuários passaram a representar 15% dos atendimentos para abandonar a dependência.


A reportagem tentou contato com o Centro de Estudos e Terapia do Abuso de Drogas (Cetad) da Universidade Federal da Bahia (UFBa) para informações sobre números atualizados do consumo do crack na Bahia, mas não conseguiu por nenhum dos telefones fornecidos tanto pela Faculdade de Medicina da UFBA, quanto pela Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), que disse ainda que apenas o Centro poderia dar informações sobre o assunto.

INVESTIMENTOS ‘MILIONÁRIOS’ NO ENFRENTAMENTO AO CRACK.
Esse crescimento acelerado, que é um fato em todo o país, tem preocupado também as autoridades governamentais tanto em âmbito estadual como federal. Na Bahia, o problema é considerado uma epidemia desde o ano passado e o governo vem, ainda que timidamente, tentando alternativas para o enfrentamento da questão.


Assim que foi lançado, em maio do ano passado, o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e Outras Drogas tinha previsto um investimento de R$ 410 milhões. Mas, um ano depois, apenas 30% desse valor teria sido empregado no enfrentamento do problema, segundo denúncia da Revista Veja, publicada em maio de 2011.


No início de julho deste ano, em uma reunião interministerial realizada em Brasília, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, em companhia do governador Jaques Wagner e dos secretários da Segurança Pública, Maurício Barbosa, de Justiça Cidadania e Direitos Humanos, Almiro Sena, de Saúde, Jorge Solla, e de Desenvolvimento Social, Carlos Brasileiro, anunciou que irá intensificar os programas de combate às drogas e quer um cronograma de ações conjuntas entre União e Estado para o mês de agosto.


A previsão é de que, até o fim de julho, seja lançado o aprimoramento do plano de combate ao crack, e que sejam implementadas ações de fortalecimento do que está sendo aplicado no estado, a partir dos dados do mapeamento das cenas de uso do crack no país.


De acordo com Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, a Bahia é o estado que mais trabalhou e avançou nas ações contra o crack, e que tem obtido as melhores atuações nos consultórios de rua, com abordagem e atendimento ao usuário nos locais de consumo de drogas.

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