O mundo virou de cabeça para baixo. Esse é o refrão do período Pós-Moderno. Nesse contexto, para o bem ou para o mal, somos impelidos rumo a uma nova ordem global que ninguém compreende plenamente, mas cujos efeitos se fazem sentir sobre todos nós, inclusive sobre a linguagem. Essa alteração não é apenas um fenômeno externo, ao contrário, influencia aspectos da intimidade dos sujeitos, modificando a vida e o modo de ser das pessoas.
Em conseqüência, as relações sociais transformam-se, trazendo dificuldades para a definição identitária em geral e, em particular, para o gênero feminino. A cada época, a seu modo, o ser humano influencia na forma de pensar e de agir da sociedade.
Ao passarmos os olhos pela história da humanidade, percebemos que alguns períodos marcaram mais profundamente a construção da identidade. Sendo assim, a identidade da mulher não pode ser vista exclusivamente como uma propriedade predefinida pelo gênero que revela a si própria na história. Ao contrário, devemos acrescentar que a identidade é aberta, dominada pela incompletude, sendo, sobretudo, multiforme.
Além dos traços pessoais, a identidade adota também os culturais e os contextuais que se confundem com a história única de cada mulher. Diferentes matizes da identidade feminina estão em domínios específicos da vida, sendo que a sua plenitude e completude absolutas não serão jamais alcançadas, pois a identidade da mulher é, por natureza, heterogênea e nunca se constitui plenamente.
Assim, a construção identitária é um processo contínuo e, ao mesmo tempo, a identidade feminina é produto social e reflexo do olhar do outro. Importa, antes de tudo, saber como e de que modo o outro vê a mulher e não apenas a imagem que ela tem de si mesma. Desse modo, a visão muitas vezes negativa sobre a identidade feminina deve mudar.
Para isso, deve começar pela quebra dos padrões discursivos e das crenças presentes no comportamento verbal do discurso masculino sobre a mulher, já que o sexo masculino é um dos principais responsáveis por essa formação discursiva. O apagamento das agressões verbais que permeiam as frases quotidianas (que acabam enfraquecendo os valores identitários femininos) deve ser um dos primeiros passos.
Tendo em vista que é ainda extremamente forte e estável a influência do discurso masculino na construção da identidade da mulher da Pós-Modernidade, fica difícil a sua desconstrução discursiva. E, ainda que a identidade feminina seja fruto da história social e cultural de cada mulher em particular, a construção discursiva, os seus contornos identitários dependem mais do discurso masculino do que do feminino.
Em suma, tais práticas devem ser mudadas para que a mulher possa se construir em outra direção, assumindo sua verdadeira identidade feminina. O discurso masculino tradicional deve ser transformado em respeito a essa nova mulher: determinada, forte, que adota um projeto reflexivo de vida que implica responsabilidade pessoal, sem deixar, entretanto, de ser mulher.
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